domingo, 15 de dezembro de 2013

O Mito da Preguiça

Resenha critica sobre o mito da preguiça.
Hilário Bispo
15/12/2013


A cigarra e a formiga

Podemos começar falando do mito da preguiça usando o ditado popular que compara a cigarra e a formiga, começo também fazendo uma comparação com os baianos e os outros brasileiros, se olharmos do ponto de vista que o estado da Bahia a população na sua maioria são de pretos e pardos vamos comprovar que o Brasil é um povo racista, machista é homofóbico, os baianos = a cigarra, os paulistas = formiga.
 A formiga é organizada trabalhadeira é pensa no futuro e a cigarra é uma farrista só quer divertir não pensa no futuro e é preguiçosa, pois só fica cantando; citamos como referência uma pesquisa feita em cima dos baianos, o estudo é pontilhado por entrevistas com personagens da Bahia, como João Jorge, diretor do grupo Olodum, Vovô, diretor do Ilê-Ayê, Comprovamos o pensamento preconceituoso há pouco mais de 4 meses durante um show, o mineiro Rogério Flausino, cantor da banda Jota Quest, disse que “baiano não trabalha”. Não faz muito tempo que a baiana Gal Costa publicou no Twitter: “como na Bahia as pessoas são preguiçosas”. Eles dois reproduziram o mito da preguiça, mesmo que em situações diferentes, Rogério brincava com o público de Salvador e Gal reclamava de um serviço não prestado, mas, de qualquer forma, ofenderam o povo da Bahia.
Só que a ideia da preguiça vem de muito antes das redes sociais e dos programas humorísticos da televisão. Foi romanceada por Jorge Amado, cantada por Dorival Caymmi e vendida pela indústria do turismo: “quer descansar”? Vem para a Bahia, estado da alegria, onde a festa nunca termina, essa afirmação reforça o pensamento que os cariocas adoram carnaval o baiano sobra e água fresca os paulistas,um povo trabalhador, os mineiros povo sem identidade, os nordestinos como povo burro e os sulistas preconceituosos pois pensam como estrangeiros.
A antropóloga Elisete Zanlorenzi foi investigar a questão, desvendou a origem do mito e foi até notícia. Leia o que publicou o jornal Folha de São Paulo, em 2005:
Segundo a pesquisadora, a caracterização do baiano como preguiçoso começa com as grandes migrações de nordestinos, genericamente chamados de “baianos”, para o sul do País. Os recém chegados, ainda sem emprego, alojavam-se em cortiços ou favelas. “Estas condições contribuíram para que o termo baiano fosse associado a outros como sujo, desorganizado, não produtivo e, finalmente, preguiçoso”, explica Elisete.
Um outro aspecto interessante que contribuiu com a associação da Bahia à preguiça está ligado ao discurso de baianos famosos como Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gal Costa, e Maria Bethânia. “Eles chegavam no eixo Rio são Paulo afirmando serem preguiçosos. Era como dizer: eu não sou daqui”, analisa a pesquisadora.
Em sua tese, Elisete menciona outros quatro motivos para a formação do mito da preguiça baiana: a industrialização tardia de Salvador, a indústria do turismo, que mostra somente o aspecto divertido da festa, o discurso da imprensa, que transmite apenas o lado trágico das migrações, e a indústria da seca, que forjou uma imagem do nordeste ligada à incapacidade profissional para justificar a necessidade de investimentos na região.
 A preguiça foi construída historicamente e reforçado pela mídia, que reproduz os interesses da elite. Desde o século XVI, a elite local depreciava os negros escravos, descritos como desorganizados e sujos, depois como analfabetos e sem conhecimento, e, finalmente, como preguiçosos. A famosa Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou este nome por ter sido a via de acesso de mercadorias vindas do porto para a cidade, levadas em carretões puxados a boi e empurrados por escravos.
Essa foi uma forma de interiorização da dominação, no período da escravidão. Depois, a depreciação assumiu a forma da exclusão. O mesmo aconteceu com negros, índios e imigrantes nordestinos, nas regiões Sul e Sudeste, quando, a partir da década de 1950, intensificou-se a imigração. A imagem de preguiçoso espalhou-se. Chamados genericamente de "baianos", os imigrantes eram, em sua maioria, mestiços, afrodescendentes, oriundos de fazendas afetadas pela seca e sem qualificação profissional. O nordestino foi responsabilizado por todo o caos urbano sem, ao mesmo tempo, ser lembrado em nenhum projeto de inclusão social.
"Depreciar era uma forma de justificar baixos salários e falta de investimento", esclarece Elisete. O sociólogo Octavio Ianni (1925-2004), um dos examinadores da banca de doutorado da antropóloga, destacou que a tese mostrava a forma sutil de racismo a negros e nordestinos. "Quando se folcloriza, o discurso se desloca da realidade e ganha vida própria, criando uma força até maior em relação ao discurso inicial", explica Elisete, professora da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas.

Na literatura, Mário de Andrade personificou tudo isso em Macunaíma. Chico Buarque enxergou os mesmos traços no malandro carioca, avesso ao trabalho. Lima lembra ainda de João Ubaldo Ribeiro, em Viva o povo brasileiro, que também fala do nosso perfil preguiçoso. Ariano Suassuna criou personagens avessos ao trabalho em O auto da compadecida. "Esse mito é muito forte, sob o qual vivemos à sombra. É o discurso do colonizador.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória.

Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, ele tinha 95 anos.

Líder foi hospitalizado em dezembro para fazer exames de rotina.


O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória, segundo a presidência do país. Mandela ficou internado de junho a setembro devido a uma infecção pulmonar. Ele deixou o hospital e estava em casa.

“Ele partiu, ele se foi pacificamente na companhia de sua família”, afirmou o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. “Ele agora descansou, ele agora está em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu seu pai.”

Mandela vinha sofrendo do problema e estava internado desde junho. Esta foi a quarta internação do ex-presidente desde dezembro. Em abril, as últimas imagens divulgadas do ex-presidente mostraram bastante fragilidade – ele foi visto sentado em uma cadeira, com um cobertor sobre as pernas. Seu rosto não expressava qualquer emoção. No início de março de 2012, o ex-presidente sul-africano havia sido hospitalizado por 24 horas, e o governo informou, na ocasião, que Mandela tinha sido internado para uma bateria de exames rotineira. Em dezembro, porém, ele permaneceu 18 dias hospitalizado, em decorrência de uma infecção pulmonar.

No fim de março de 2013, ele passou 10 dias internado, também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada às sequelas de uma tuberculose que contraiu durante sua detenção na prisão de Robben Island (ilha de Robben), onde ficou 18 anos preso, de 1964 a 1982.

Conhecido como “Madiba” na África do Sul, ele foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade de direitos no país e foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime racista do apartheid, vigente entre 1948 a 1993.

Ele ficou preso durante 27 anos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1993, sendo eleito em 1994 o primeiro presidente negro da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais do país. Mandela é alvo de um grande culto em seu país, onde sua imagem e citações são onipresentes. Várias avenidas têm seu nome, suas antigas moradias viraram museu e seu rosto aparece em todos os tipos de recordações para turistas.

Havia algum tempo sua saúde frágil o impedia de fazer aparições públicas na África do Sul - a última foi durante a Copa do Mundo de 2010, realizada no país. Mas ele continuou a receber visitantes de grande visibilidade, incluindo o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton.

Mandela passou por uma cirurgia de próstata em 1985, quando ainda estava preso, e foi diagnosticado com tuberculose em 1988. Em 2001, foi diagnosticado com câncer de próstata e hospitalizado por problemas respiratórios, sendo liberado dois dias depois.

Biografia
Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 no clã Madiba no vilarejo de Mvezo, no antigo território de Transkei, sudeste da África do Sul. Seu pai, Henry Gadla Mphakanyiswa, era chefe do vilarejo e teve quatro mulheres e 13 filhos - Mandela nasceu da terceira mulher, Nosekeni. Seu nome original era Rolihlahla Mandela.

Após seu pai morrer em 1927, ele foi acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba Dalindyebo. Ele cursou a escola primária no povoado de Qunu e recebeu o nome Nelson de uma professora, seguindo uma tradição local de dar nomes cristãos às crianças. Conforme as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Na adolescência, praticou boxe e corrida.

Mandela ingressou na Universidade de Fort Hare para cursar artes, mas foi expulso por participar de protestos estudantis. Ele completou os estudos na Universidade da África do Sul. Após terminar os estudos, o rei Jongintaba anunciou que Mandela devia se casar, o que motivou o jovem a fugir e se mudar para Johanesburgo, em 1941.

Em Johanesburgo, ele trabalhou como segurança de uma mina e começou a se interessar por política. Na cidade, Mandela também conheceu o corretor de imóveis Walter Sisulu, que se tornou seu grande amigo pessoal e mentor no ativismo antiapartheid. Por indicação de Sisulu, Mandela começou a trabalhar como aprendiz em uma firma de advocacia e se inscreveu na faculdade de direito de Witwatersrand.

Mandela começou a frequentar informalmente as reuniões do Congresso Nacional Africano (CNA) em 1942. Em 1944, ele fundou a Liga Jovem do Congresso e se casou com a prima de Walter Sisulu, a enfermeira Evelyn Mase. Eles tiveram quatro filhos (dois meninos e duas meninas) – uma das garotas morreu ainda na infância.

Em 1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (CNA) – no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante conheceu futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em 1948, admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África do Sul, quando estava preso.

Em 1951, Mandela se tornou presidente do CNA. Em 1952, ele abriu com o amigo Oliver Tambo o primeiro escritório de advocacia do país voltado para negros. No mesmo ano, Mandela foi escolhido como líder da campanha de oposição encabeçada pelo CNA e viajou pelo país, em protesto contra seis leis consideradas injustas. Como reação do governo, ele e 19 colegas foram presos e sentenciados a nove meses de trabalho forçado.

Em 1955, ele ajudou a articular o Congresso do Povo e citava a política pacifista de Gandhi como influência. A reunião uniu a oposição e consolidou as ideias antiapartheid em um documento chamado Carta da Liberdade. No fim do ano, Mandela foi preso juntamente com outros 155 ativistas em uma série de detenções pelo país. Todos foram absolvidos em 1961.
Em 1958, Mandela se divorciou da enfermeira Evelyn Mase e ele se casou novamente, com a assistente social Nomzamo Winnie Madikizela. Os dois tiveram dois filhos.

Em março de 1960, a polícia matou 69 manifestantes desarmados em um protesto contra o governo em Sharpeville. O Partido Nacional declarou estado de emergência no país e baniu o CNA.

Em 1961, Mandela tornou-se líder da guerrilha Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação), após ser absolvido no processo da prisão de 1955. Logo após a absolvição, ele e colegas passaram a trabalhar de maneira escondida planejando uma greve geral no país.

Ele deixou o país ilegalmente em 1962, usando o nome de David Motsamayi, para viajar pela África para receber treinamento militar. Mandela ainda visitou a Inglaterra, Marrocos e Etiópia, e foi preso ao voltar, em agosto do mesmo ano.

De acordo com o jornal “Telegraph”, a organização perdeu o ideal de protestos não letais com o tempo e matou pelo menos 63 pessoas em bombardeios nos 20 anos seguintes.

Mandela foi acusado de deixar o país ilegalmente e incentivar greves, sendo condenado a cinco anos de prisão. A pena foi servida inicialmente na prisão de Pretória. Em março de 1963, ele foi transferido à Ilha de Robben, voltando a Pretória em junho. Um mês depois, diversos companheiros de partido foram presos. 

Em 1963, Mandela e outras nove pessoas foram julgadas por sabotagem, no que ficou conhecido como Julgamento Rivonia. Sob o risco de ser condenado à pena de morte, Mandela fez um discurso à corte que foi imortalizado.

“Eu lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”, afirmou.

Em 1964, Mandela e outros sete colegas foram condenados por sabotagem e sentenciados à prisão perpétua. Um deles, Denis Goldberg, foi preso em Pretória por ser branco. Os outros foram levados para a Ilha de Robben.

27 anos de prisão
Mandela passou 18 anos detido na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo, e nove na prisão Pollsmoor, no continente – a transferência ocorreu em 1982. Enquanto esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu filho mais velho, morto em 1969. Ele não foi autorizado a participar dos funerais.

Durante o período em que ficou preso, sua reputação como líder negro cresceu e sedimentou a imagem de liderança do movimento antiapartheid. A partir de 1985, ele iniciou o diálogo sobre sua libertação com o Partido Nacional, que exigia que ele não voltasse à luta armada. Neste ano, ele passou por uma cirurgia na próstata e, ao voltar para a prisão, passou a ser mantido em uma cela sozinho.

Em 1988, Mandela passou por um tratamento contra tuberculose e foi transferido para uma casa na prisão Victor Verster.

Em 2 de fevereiro de 1990, o presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk reinstituiu o Congresso Nacional Africano (CNA). No dia 11 de fevereiro de 1990, Mandela foi solto e, em um evento transmitido mundialmente, disse que continuaria lutando pela igualdade racial no país.

Prêmio Nobel e presidência
Em 1991, Mandela foi eleito novamente presidente do CNA. Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993, por seus esforços para trazer a paz ao país.

Mandela encabeçou uma série de articulações políticas que culminaram nas primeiras eleições democráticas e multirraciais do país em 27 de abril de 1994.

O CNA ganhou com 62% dos votos, enquanto o Partido Nacional teve 20%. Com o resultado, Mandela tornou-se o primeiro líder negro do país e também o mais velho, com 75 anos. Ele tomou posse em 10 de maio de 1994.

A gestão do presidente foi marcada por políticas antiapartheid, reformas sociais e de saúde.

Em 1996, Mandela se divorciou de Nomzamo Winnie Madikizela por divergências políticas que se tornaram públicas. Em 1998, no dia de seu 80º aniversário, ele se casou com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano.

Em 1999, não se candidatou à reeleição e se aposentou da carreira política. Desde então, ele passou boa parte de seu tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde passou a infância, na província pobre do Cabo Leste.

Causas sociais
Após o fim da carreira política, Mandela voltou-se para a causa de diversas organizações sociais e de direitos humanos.

Participou de uma campanha de arrecadação de fundos para combater a Aids que tinha como símbolo o número 46664, que carregava quando esteve na prisão.

Em 2008, a comemoração de seu aniversário de 90 anos foi um ato público com shows em Londres, que contou com a presença de artistas e celebridades engajadas na campanha. Uma estátua de Mandela foi erguida na Praça do Parlamento, na capital inglesa.

Em novembro de 2009, a ONU anunciou que o dia de seu aniversário seria celebrado em todo o mundo como o Dia Internacional de Mandela, uma iniciativa para estimular todos os cidadãos a dedicar 67 minutos a causas sociais - um minuto por ano que ele dedicou a lutar pela igualdade racial e ao fim do apartheid.


Fonte: G1


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A morte do ex-presidente Nelson Mandela


BRASÍLIA - Em nota de pesar pela morte do ex-presidente Nelson Mandela, nesta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou que “o exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo”. Em nome do governo e do povo brasileiro, Dilma manifestou pesar pela morte de Mandela aos familiares do líder sul-africano, ao presidente Jacob Zuma e à população da África do Sul.Para Dilma, a luta de Mandela contra o apartheid transformou-se em paradigma para a África e para todos os “que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade”. Ela disse ele conduziu “com paixão e inteligência” o processo.


O ex-presidente Lula falou da importância de Mandela para a população negra da África. 



“Eu acho que o grande legado do Nelson Mandela foi fazer com que o povo negro da África do Sul descobrisse uma coisa que parece simples, mas não é simples: de que se a maioria do povo era negra, não tinha nenhum sentido a minoria branca continuar governando aquele país. E isso foi uma coisa extraordinária. As pessoas se descobriram por uma força motora capaz de mover a sociedade. E eu estou falando do Nelson Mandela porque acontecia comigo a mesma coisa e aconteceu com o Evo Morales a mesma coisa".O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, também lamentou a morte. Em nota, Barbosa afirmou que o mundo ficou “mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas”.“Em nome do Supremo Tribunal Federal, envio minhas profundas condolências à senhora Graça Machel e aos familiares de Nelson Mandela, assim como ao povo e ao governo sul-africanos. A morte de Nelson Mandela torna o mundo mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas. Sua vida altiva traduziu o sentido maior da existência humana. Seu nome permanecerá como sinônimo de esperança para todas as vítimas de injustiça em qualquer parte do mundo”, afirmou Barbosa.



Leia a íntegra da nota da presidente:



“Nota de pesar da presidenta Dilma Rousseff pelo falecimento de Nelson Mandela



O governo e o povo brasileiros receberam consternados a notícia da morte de Nelson Mandela. Personalidade maior do século XX, Mandela conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história contemporânea – o fim do apartheid na África do Sul.Seu combate transformou-se em um paradigma, não só para o continente africano, como para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade.O governo e o povo brasileiros se inclinam diante da memória de Nelson Mandela e transmitem a seus familiares, ao Presidente Zuma e aos sul-africanos nosso sentimento de profundo pesar.O exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo.”

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS REUNIDOS NA III CONAPPIR

Evento teve como objetivo reafirmar e ampliar o compromisso com políticas de enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade




Cerca de 1400 pessoas participaram de um amplo debate em torno do tema “Democracia e desenvolvimento sem racismo: por um Brasil afirmativo” na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), que aconteceu de 05 a 07 de novembro, em Brasília (DF). O evento teve como principal objetivo reafirmar e ampliar o compromisso do governo e da sociedade brasileira com políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade como fatores essenciais à democracia plena e ao desenvolvimento com justiça social no país.

Plenária de Abertura
A solenidade de abertura no dia 05 teve a presença da presidente Dilma Rousseff, ministros e convidados que representaram a diversidade étnico-racial brasileira, durante os demais dias até o encerramento da III CONAPIR foram realizados debates em torno da política e das necessidades e especificidades de cada grupo, todo o evento foi transmitido ao vivo por diversos veículos de informações e pelo site do evento, no qual também poderão ser conferidas entrevistas de participantes, fotos, matérias e vídeos. As atualizações ainda estarão disponíveis nas redes sociais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Twitter e Facebook.

Presidente Dilma Roussef e a Ministra Luiza Bairros

Nos três dias de Conferência, a missão dos(as) participantes foram de apontar caminhos para a construção de um Brasil afirmativo, que considere a importância da inclusão racial nos processos de democratização e desenvolvimento do país. O debate se deu numa conjuntura favorável, com acúmulo de conquistas políticas, econômicas e sociais para o segmento negro que, pela primeira vez representa oficialmente mais da metade da população (50,7%) por autodeclaração, no último Censo do IBGE (2010).

Senadora Ana Rita - Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos e Fábio Gomes

Destaca-se a importância do seguimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, sobretudo dos Povos de Terreiros, que tiveram uma grande participação e deram valiosas contribuições aos debates e instrumentos elaborados e deliberados em plenárias.  O Povo de Terreiro, no dia 06, ocupou o Senado Federal, durante plenária realizada pela Comissão Nacional de Direitos Humanos do Senado, para reivindicar direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais.

Plenária na Comissão Nacional de Direitos Humanos do Senado Federal
Senador Magno Malta e Representante Juvenil Fábio Gomes

A Juventude de Terreiro, também se reuniu para pensar estratégias de enfrentamento ao racismo, combate a violência a juventude negra e empoderamento deste seguimento, presente em todos os estados brasileiros. A Juventude de Terreiro, ainda sofre com a intolerância religiosa, com a falta do cumprimento de instrumentos legais (sobretudo a Lei 10.639/2007).

Juventude de Terreiro reunida na III CONAPPIR, redigindo Carta de Participação

Existe uma lacuna em diversos setores da política nacional onde a juventude poderia está exercendo o controle social, por isso é notório a ausência de representatividade deste seguimento nos espaços de definições políticas, afim de criar soluções, ações afirmativas específicas e políticos públicos eficientes que incidam na vida social dos povos de terreiros em municípios e estados brasileiros.

Esta ausência ou a falta de estímulo para ocupação de lugares estratégicos no controle social, vem provocando sérios impactos negativos na vida das comunidades e povos tradicionais do Brasil, sobretudo na juventude, que desamparada não encontra caminhos para expressar suas indignações, atitudes, ideias e soluções para problemas que podem e devem ser resolvidos, no que tange a transversalidade das relações étnico-raciais seja na saúde, segurança pública, educação, cultura, meio ambiente, reforma agrária, justiça e dentre outras.

Juventude de Terreiro debate o Plano Juventude Viva
"A juventude de terreiro, vem amargando promessas de apoios, ações, projetos e programas que deveriam reconhecer e garantir seus direitos, além da criação de alternativas e perspectivas que promovessem a sustentabilidade cultural desse povo, mas sem oportunidades e invisíveis na sociedade, o país está perdendo gradativamente a juventude para o tráfico, os indicadores apontam uma maior incidência de jovens, masculino, cor negra e das periferias pobres, sendo brutalmente assassinados por crimes violentos letais intencionais (CVLI), uma verdadeira ação de extermínio da juventude negra acontecendo à nossas vistas", pontua Fábio Gomes - Coordenador da Rede FAVOS/PE.

"Temos Povos e Comunidades Tradicionais nos centros urbanos, rurais e presentes nos mais remotos lugares do Brasil, está sendo isso debatido amplamente e ganhado espaços em nossas mídias sociais, não sendo está causa abraçada pelos grandes veículos de comunicação, vemos como um grande obstáculo a ser enfrentado por nossa geração, que só ganha espaço na comunicação nacional quando somos infratores e nunca como vítimas do genocídio esclarecido. Não estamos encontrando espaços para ser, exercer e viver plenamente nossa cidadania", finaliza Fábio.
Fábio Gomes e a Ministra Luíza Bairros
A coordenação e organização do evento III CONAPPIR foi da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR) e o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), que trouxe 1.200 delegadas e delegados, além de 200 convidados.

Exposição 
A III CONAPIR aconteceu em meio às comemorações dos 10 anos de criação da Seppir. Durante o evento, esteve em cartaz a exposição “Seppir 10 – Uma década de igualdade racial’, que tem patrocínio da Petrobras. A mostra permitiu ao conferencista um passeio pelas ações desenvolvidas nos últimos dez anos pela secretaria, parceiros governamentais e entidades da sociedade civil, em torno das políticas de promoção da igualdade racial e questões a elas relacionadas. A abordagem do tema foi feita por meio da compilação de cartazes, banners, publicações, fotografias, entre outros materiais gráficos.

Lançamentos
Durante a programação da III Conapir foi lançado o primeiro módulo do Sistema de Monitoramento das Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Disponível na internet, o material pode ser acessado sem cadastro ou senha. A etapa que entrou no ar é composta por duas ferramentas de visualização: painéis de monitoramento (com informações específicas para cada eixo dos programas) e mapas de diagnóstico (com dados territoriais).

O objetivo foi auxiliar gestores públicos a encontrar caminhos para a avaliação e o aperfeiçoamento da implementação de duas políticas estratégicas coordenadas pela secretaria: o Programa Brasil Quilombola (PBQ) e o Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra - Juventude Viva. O sistema foi desenvolvido pela Seppir em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Fundação Ford.

Outro lançamento foi o do Guia de Implementação do Estatuto da Igualdade Racial para Estados, Distrito Federal e Municípios. Elaborada pela Seppir em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a publicação traduz a principal recomendação do Grupo de Trabalho Estatuto da Igualdade Racial (GT-EIR), criado para analisar e propor caminhos para a efetivação da Lei 12.888, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial. Direcionada a técnicos, gestores e ativistas, o guia pode ser utilizado como subsídio para reuniões de grupos intersetoriais, conselhos e fóruns intergovernamentais de promoção da igualdade racial.

Fonte:
Fábio Gomes - Comunicação Social Rede Favos

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Zumbi o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistência antiescravagista.

20 de Novembro dia da Consciência Negra
Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistência antiescravagista. Pesquisas e estudos indicam que nasceu em 1655, sendo descendente de guerreiros angolanos. Em um dos povoados do quilombo, foi capturado quando garoto por soldados e entregue ao padre Antonio Melo, de Porto Calvo. Criado e educado por este padre, o futuro líder do Quilombo dos Palmares já tinha apreciável noção de Português e Latim aos 12 anos de idade, sendo batizado com o nome de Francisco. Padre Antônio Melo escreveu várias cartas a um amigo, exaltando a inteligência de Zumbi (Francisco).
Em 1670, com quinze anos, Zumbi fugiu e voltou para o Quilombo. Tornou-se um dos líderes mais famosos de Palmares. "Zumbi" significa: a força do espírito presente. Baluarte da luta negra contra a escravidão, Zumbi foi o último chefe do Quilombo dos Palmares.
O nome Palmares foi dado pelos portugueses, em razão do grande número de palmeiras encontradas na região da Serra da Barriga, ao sul da capitania de Pernambuco, hoje, estado de Alagoas. Os que lá viviam chamavam o quilombo de Angola Janga (Angola Pequena). Palmares constituiu-se como abrigo não só de negros, mas também de brancos pobres, índios e mestiços extorquidos pelo colonizador.
Os quilombos, que na língua banto significam "povoação", funcionavam como núcleos habitacionais e comerciais, além de local de resistência à escravidão, já que abrigavam escravos fugidos de fazendas. No Brasil, o mais famoso deles foi Palmares.
O Quilombo dos Palmares existiu por um período de quase cem anos, entre 1600 e 1695. No Quilombo de Palmares (o maior em extensão), viviam cerca de vinte mil habitantes. Nos engenhos e senzalas, Palmares era parecido com a Terra Prometida, e Zumbi, era tido como eterno e imortal, e era reconhecido como um protetor leal e corajoso. Zumbi era um extraordinário e talentoso dirigente militar. Explorava com inteligência as peculiaridades da região.
No Quilombo de Palmares plantavam-se frutas, milho, mandioca, feijão, cana, legumes, batatas. Em meados do século XVII, calculavam-se cerca de onze povoados. A capital era Macaco, na Serra da Barriga.
 Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista, vulto de triste lembrança da história do Brasil, foi atribuído a tarefa de destruir Palmares. Para o domínio colonial, aniquilar Palmares era mais que um imperativo atribuído, era uma questão de honra. Em 1694, com uma legião de 9.000 homens, armados com canhões, Domingos Jorge Velho começou a empreitada que levaria à derrota de Macaco, principal povoado de Palmares. Segundo Paiva de Oliveira, Zumbi foi localizado no dia 20 de novembro de 1695, vítima da traição de Antônio Soares.
“O corpo perfurado por balas e punhaladas foi levado a Porto Calvo. A sua cabeça foi decepada e remetida para Recife onde, foi coberta por sal fino e espetada em um poste até ser consumida pelo tempo”.
O Quilombo dos Palmares foi defendido no século XVII durante anos por Zumbi contra as expedições militares que pretendiam trazer os negros fugidos novamente para a escravidão. O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.
A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.

A lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Nas escolas as aulas sobre os temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, propiciarão o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

1º Fórum sobre Religiosidade de matriz africana e Lei Ambiental Montes Claros- MG

MONTES CLAROS 13 DE NOVEMBRO DE 2013


1º Fórum sobre Religiosidade de matriz africana e Lei Ambiental ,na galeria Godofredo Guedes praça da matriz no município
de Montes Claros MG.
 Carta dos praticantes de religião de matriz Africana a toda cidade de Montes Claros. Somos um povo multicultural, nascidos num pais que se orgulha de ser preto branco e indígena, que assegura a todos o direito a liberdade de ir e vir, de pensamento e de religião. Aqui nascemos e aqui ousamos construir nossas vidas. Vivemos numa democracia plural que assegura a todas a vivência plena, respeitando a diversidade peculiar a  um povo gestado sob o pilar da diversidade.
Queremos que seja assegurada o nosso direito garantido pela Constituição, de praticar nosso culto, perpetuando nosso credo e cultura. Queremos ter o direito de viver sem a premissa das ações preconceituosas, materializadas em algumas ocasiões na pessoa de alguns agentes do estado integrantes das forças policiais. Queremos respeito as nossas convicções e práticas religiosas. Somos cidadãos pagadores de impostos e conhecedores dos nossos direitos.
Sabemos que o viver em sociedade, exige de todo o desprendimento e respeito aos direitos coletivos. Entretanto, exigimos tratamento igualitário e respeitoso. Causa-nos indignação perene atos e atitudes que atentem contra a nossa dignidade de cidadão. Nossos cultos são tão importantes como os outros que ilustram o imaginário da religiosidade brasileira.
Vimos, manifestar nossa inquietude e insatisfação, no tocante ao trato desrespeitoso e preconceituoso que tem marcado o cotidiano de alguns terreiros em Montes Claros. Entendemos que tais atitudes ferem todos os preceitos legais que nos garantem os direitos fundamentais. Apoiamos-nos dispositivos presentes na Constituição, no Estatuto da Igualdade Racial, na Declaração Universal dos Direitos humanos, dentre outros, para externar a toda comunidade montesclarese que a nossa luta  em defesa do direito de manifestarmos nossa crença é perene, ela não para, pois se sustenta na convicção serena de que  viver a pluralidade  cultural e religiosa é pois o grande desafio da sociedade contemporânea.
Neste sentido é que defendemos a realização de uma audiência pública na Câmara Municipal de Montes Claros, em data a ser marcada para a discussão e busca de solução para o problema ora mencionado e a formatação de termo de ajuste de conduta.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CATOPÉS NO CONTEXTO RELIGIOSO EM MONTES: FESTEIROS DE FÉ E DEVOÇÃO, 2012/2013


                                                                                              Rafael Lopes Pereira*

RESUMO: O presente trabalho mostra a organização da festa tradicional dos Catopés em Montes Claros que ocorre todos os anos na cidade, a qual possibilita reviver a memória cultural e religiosa dos antigos, como forma de tradição ha mais de cem anos. Sendo patrimônio histórico-cultural e material da cidade, o festejo tem por objetivo não deixar esmaecer a cultura local e suas características. Com o crescimento da cidade, o espaço para a cultura foi-se perdendo e pouco preservado, de modo que foram os Catopês que assumiram o compromisso de não deixar cessar a tradição, dando seguimento ao festejo numa tarefa cumprida todos os anos. Nesse sentido, as festas atuam como patrimônio histórico e cultural para a cidade, caracterizando as raízes advindas do cristianismo e no congado brasileiro, a partir de suas formas de expressão, como é o caso das missas, das procissões e dos cortejos rituais que estão presentes na composição dos momentos do grupo dos Catopês.

PALAVRAS-CHAVE: Festa Religiosa; Grupo Catopês; Montes Claros.

ABSTRATC: This paper shows the organization of the traditional feast of Montes Claros Catopês that occurs every year in the city, which allows relive the memory of the ancient cultural and religious, as a form of tradition for over one hundred years. Being historical-material and cultural city, the celebration aims to not let fade the local culture and its characteristics. With the growth of the city, space for culture was lost and little preserved, so that Catopês were committed to not let tradition stop, continuing to feast on a task accomplished pro every year. Accordingly, the parties act as historical and cultural heritage of the city, featuring roots stemming from Christianity and congado Brazil, from its forms of expression, such as Masses, processions and parades rituals that are present moments in the composition of the group of Catopês.
KEY WORDS: Religious Feast; Group Catopês; Montes Claros. 

Acadêmico do 6° período de História Licenciatura Plena. ISEIB – E mail: <rafaellopes33@yahoo.com.br

1. INTRODUÇÃO

1.1 Catopés como Patrimônio Histórico-Cultural

O grupo Catopés da cidade de Montes Claros, tendo sobrevivido ao desenvolvimento da cidade e ao pouco investimento financeiro, só fez crescer com o passar dos anos. Como patrimônio cultural e material do município, o grupo revive todos os anos o que aprenderam com os pais e avôs, o que foi passado de geração a geração. Com a manifestação do grupo na cidade, Montes Claros pôde obter um patrimônio cultural que engloba a história da cidade e de um passado importante a respeito do conhecimento dos antigos, em forma de momentos que são revividos e indispensáveis. E ainda que o município se desenvolva a cada ano, a necessidade de preservação dos festejos existe, pois eles já fazem parte da vida do povo que os acolheu e que se encanta com a alegria dos festeiros. A esse respeito, nas palavras do autor:
O patrimônio cultural de uma dada sociedade é formado por um tripé indissociável em que se contemplam as seguintes dimensões; a dimensão natural, ou ecológica, a dimensão histórico-artística e a dimensão documental. Neste sentido o próprio meio ambiente, os conjuntos urbanos e os sítios de valor históricos, paisagísticos, artísticos e arqueológicos, paleontológico e científico, as obras, os objetos, os documentos, as edificações, as criações cientificas, artísticas e tecnológicas, as formas de expressão e até mesmo os modos de criar, fazer e viver são bens culturais de uma sociedade e por isso devem ser preservadas. (BOSI, 2005, p.133)

        Os objetivos da festa é a consagração das três divindades: Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espirito Santo. A consagração é feita através de rituais religiosos presentes nos momentos da festa. O propósito é desenvolver a interação entre as pessoas, sem distinção de classe social ou raça, de modo que a festa é para todos que quiserem apreciá-la e dela participarem. O festejo nos remete à mistura e a miscigenação de que é formado o Brasil, e a preservação da festa é o principal objetivo dos grupos, uma vez que lhes foi dada a missão de passar tudo que aprenderam para a geração futura, numa espécie de herança. A autora Ângela Martins Ferreira (2009) expõe que “é assim que nossas festas jamais morreram, pois são passadas de geração a geração.” (FERREIRA, 2009, p.44)
Nesse sentido, os Catopês têm a missão de cumprir todos os momentos da festa. Uma vez que revivendo cada instância que lhes foi ensinada, o grupo revive toda a manifestação religiosa, com o compromisso de que no ano seguinte tudo volte a se repetir. Nas apresentações, os Catopês estão sempre sorrindo, pulando e cantando, dando salves ao santo protetor de devoção, esbanjando religiosidade, compromisso e simplicidade a cada passo.

1.2 A Festa em Montes Claros

Agosto é o mês da festa em Montes Claros. Sua formação adveio da união entre três santidades: Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espirito Santo; nos Catopês, dois grupos são devotos de Nossa Senhora do Rosário e um grupo devoto de São Benedito. Independente do santo do dia, todos respeitam e demonstram seriedade em suas apresentações. A esse respeito, o estudioso Luiz Ricardo Silva Queiroz aponta:
O Bispo Dom João Pimenta reuniu no mesmo calendário três festas religiosas que já aconteciam na cidade em épocas diferenciadas. Assim a festa do Divino, que acontecia no período de Pentecostes, e a festa de São Benedito, que acontecia no mês de setembro ou outubro, foram somadas à festa de Nossa Senhora do Rosário que já era realizada no mês de agosto. (QUEIROZ, 2002, p.46)

Nas apresentações, os Catopês fazem seus rituais cantando, dançando, celebrando, com muita dedicação e, para que tudo dê certo, os coordenadores é quem comandam os grupos. O grupo de Catopês tem três pessoas que dão força aos grupos, que são os seguintes: para o Grupo de Nossa Senhora do Rosário, os Mestre Zanza (João Pimenta); Mestre João Farias e Zé Expedito que comandam o terno de São Benedito. Os outros grupos que compõem a festa são os Caboclos que homenageiam o Divino Espírito Santo, cujo coordenador costumava ser o falecido Joaquim Polo, substituído atualmente por sua filha Maria do Socorro Pereira Domingues. Além da Marujada, comandados pelo Mestre Nenzim e pelo falecido Mestre Miguel, também devotos do Divino.
Estão sempre animados ao celebrar para seu santo, fazendo com que a força e a fé de um grupo sejam transmitidas para o outro. Dando seguimento aos cantos e salves ao santo, com o desfile pelas ruas do centro de Montes Claros. Em suas apresentações e nos desfiles pelas ruas do centro do município, as raízes são relembradas e a influencia africana é reavivada em suas coreografias junto dos batuques dos tambores que se misturam com os cânticos religiosos, dando o máximo de si, sem mesmo se importar com o sol forte da época. Para Luiz Ricardo Silva Queiroz, “os elementos distintos que compõem a performance dos Catopês deixam evidente que são esses grupos  os que preservam as maiores influências da cultura africana, na composição no que diz respeito a figurações rituais, coreografias e musicais.” (Queiroz, 2002, p.40)
Com o passar do tempo, os grupos foram crescendo, de tal forma, que foi necessário dividí-los, em favor de ficarem mais organizados. Assim, os Mestres, junto aos membros, dão vida à festa, apresentam e fazem uma mistura religiosa, social e cultural. No segmento religioso, eles se empenham muito, fazendo estandartes dos santos, enfeitando as imagens, celebrando missas e cantando músicas religiosas para os santos; já no segmento social, eles transmitem uma interação com o publico sem distinção; e na parte cultural, trazem em suas performances, personagens ilustres da época colonial, com coreografias e a presença da realeza vinda de Portugal, os príncipes e princesas, reis e rainhas, e até os índios que são representados na festa.
Os Catopês são responsáveis pela preservação da religiosidade e sua ligação com fatos da história brasileira. A importância da religiosidade é muito grande para os Catopês, pois, o principal ritual é a devoção e a fé que os mesmos depositam nas santidades, para as quais investem tudo o que sentem, dessa maneira é que o festejo se realiza. Com a tradição dos Catopês exposta ao público ano a ano, tornando-se fonte de conhecimento religioso, junto de suas crenças e muitas outras lembranças, a herança deixada pelos ancestrais do grupo se torna uma maneira de conhecer melhor o grupo e os membros se tornam responsáveis por não deixar esmaecer essa tradição.
Durante muito tempo, Mestre Zanza é quem está à frente do festejo, e segundo a tradição, quem deve substituí-lo é uma filha ou um filho seu. O Mestre está todos os anos presente nas comemorações, nas ruas de Montes Claros, dando sempre um brilho a mais ao espetáculo que contagia o município; é notável o orgulho que ele tem em estar ali, vendo anualmente os grupos fazerem aquilo que seus pais e avós deixaram para eles. O Padre João Batista é o celebrante das missas e participa regularmente dos festejos, o Padre João é da comunidade do Bairro Sagrada Família, da Paroquia São Norberto e sua presença já virou tradição, celebrando a missa e saindo em procissão e desfile pelas ruas. Conforme aponta a autora: “Padre João Batista, sorridente como sempre, vai à frente do rei, rainha, príncipe e princesas. É realmente uma pessoa carismática que ama o folclore e desfila com fé e muito entusiasmo.” (FERREIRA, 2009, p.34)
A interação da comunidade com o grupo é fundamental, pois, são eles responsáveis por roubar a bandeira e guardá-la, para que no próximo ano, ela possa ser levantada no mastro e, novamente, dar seguimento a tradição. Os mordomos fiéis, que guardam a bandeira, geralmente patrocinam um almoço coletivo para os grupos e seus filhos e netos que são os reis e rainhas nos desfiles. Podemos ver que a festa é um conjunto de momentos em que estão todos os envolvidos participantes ativos do festejo, não dependendo de estarem engajados nos grupos, mas participando dos momentos que constroem a festa. Conforme atenta o estudioso:
Os mordomos são pessoas da comunidade, sorteadas para grudarem as bandeiras dos santos, de um ano para o outro. A cada ano, a festa tem três mordomos, o de Nossa Senhora do Rosário de São Benedito e o do Divino Espirito Santo. No período de realização do ritual, os grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos vão até a casa dessas pessoas buscar a bandeira e conduzí-los até a Igreja do Rosário. (QUEIROZ, 2002, p.48.)

Dessa maneira, eles vão dando continuidade ao festejo, sempre cumprindo com as etapas, para que tudo dê certo e que se cumpram os rituais passados à geração, uma vez que, cumprindo os rituais, eles revivem a história e ainda ensinam aos mais novos as etapas das tradições do grupo. Na realização das etapas, os Mestres é quem comandam, pois eles são os mais velhos e guardiões das tradições passadas a eles pelos mais antigos, e assim os grupos vão se apresentando sempre bem vestidos e alegres.
Quanto ao método utilizado para as pesquisas que levaram a construção desse trabalho, essas foram feitas no ano de 2012 e 2013, as buscas foram feitas através de bibliografias, jornais e revistas que contam a história do grupo em Montes Claros, elas proporcionaram suporte aos relatos dos personagens da festa. No entanto a dada exata do início da festa não tenha sido encontrada, é sabido que a trajetória do grupo no município é muito grande e data de mais de cem anos.
Os locais em que foi encontrado um grande número de acervos sobre o tema, foram Centro Cultural, Secretaria de Cultura e Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), e a associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos possibilitou uma pesquisa com amplo conhecimento da organização dos grupos.
As ruas da cidade também serviram para ver o quanto os Catopês são importantes para o município montesclarense, pois é a cultura que é transmitida para o povo, que denota toda a devoção que eles têm. Pôde-se observar de perto como tudo funciona, desde a ornamentação da cidade até a última procissão, viu-se muitas orações, cantos, batuques de tambores, rituais presentes, tudo para agradar o santo padroeiro.


2. Os Catopés e o Imaginário Popular

Segundo Valdemar Ferreira (2010): “Imaginário popular é a crença antiga das forças divinas exercidas pela natureza. Onde o homem era a peça de suma importância do grande teatro divino que é o universo.” (Valdemar Ferreira, 2010, p. 1-2) .Nesta relação do homem e o divino é ligada ao imaginário popular onde o homem acredita naquilo que lhes foi contado e passado de geração em geração, onde para os antigos aqueles fenômenos da natureza que não tinham explicação eles apelavam para o divino, pois para eles a vontade dos deuses estava acima dos homens, com muita obediência e respeito no divino o homem respeita aquilo que é sagrado para os povos antigos, os catopês tem essa ligação com o divino, são devotos das divindades adivinhas de tempos antigos, mas que foi sendo passado de boca em boca as gerações, assim foram seguindo a tradição e acreditando no mito que se encere.
Para Valdemar Ferreira (2010): “[...] toda cultura tem seu mito, sua designação para aquilo que é inexplicável pelos experimentos humanos.” (Valdemar Ferreira, 2010, p.2). Neste sentido o mito ele conta o que os povos não conseguem explicar, eles somente acreditam, o mito é oral passando de boca a boca e diz muito sobre o povo assim o mito retrata bem a manifestação do divino. Seguindo este contexto as lendas também se apresentam para explicar os argumentos que remetem ao imaginário popular e as tradições populares.
 Conforme Valdemar Ferreira (2010): “As lendas são tradições populares ou histórias fabulosas sobre fatos históricos ou característicos de algumas sociedades.” (Valdemar Ferreira, 2010, p.3). O grupo catopês sendo uma manifestação cultural espalhou-se e foi trazendo para o povo local a força da crença e das lendas. Segundo Valdemar Ferreira(2010): “A população usava de toda a cultura presente para espalhar suas crenças e lendas.” (Valdemar Ferreira, 2010, p.4)
Para Valdemar Ferreira (2010): “O povo coloca muito de suas crenças nas histórias populares ou lendas e isso foi gradativamente enriquecido pelas culturas que aqui se homogeneizaram como a cultura africana e indígena.” (Valdemar Ferreira, 2010, p.4). Portanto o regionalismo mostra que as lendas populares não estão somente no imaginário, mas nas crenças do meio cultural do povo no Brasil, por exemplo, onde a maioria é católica, aonde as histórias vão ao encontro com a religião cristã.
Neste sentido as histórias populares e as lendas fluem na cultura, é onde se vê que a tradição do povo é viva, é o caso dos catopês que vive e revive na região de Montes Claros espalhando sua cultura e seu imaginário popular, através da fé nos santos que são para eles as divindades em que tudo o que fazem durante o festejo é para eles, demonstrando muita devoção nos menos. O que se vê nos catopês é o homem expressando suas crenças, fazendo ganhar vida a sua manifestação, isso que o imaginário concede criar e viver as criações no decorrer da história.

3. Fé e devoção representadas pelos catopês nas festas de agosto
           
A pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de conhecer a religiosidade, a cultura e a tradição do grupo Catopês no contexto religioso em Montes Claros, bem como a fé e a devoção do povo que faz crescer a cada apresentação na cidade, onde tudo é feito com o objetivo de agradar os santos e em favor do compromisso que se tem de seguir a tradição dos momentos da festa. Sendo assim, os grupos Catopês, Marujos e Caboclinhos todos os anos repetem os rituais de benção e benevolência às santidades. A preparação dos festejos é feita na associação própria dos grupos como uma espécie de treinamento, pois é lá que eles ensaiam e se aprontam para o início das festas, na qual começam o ritual, fazem rodas e batem palmas e em seguida começam a girar e a cantar para seu santo de devoção. Sobre isso, de acordo com as palavras de Jean Mendes (2004):
Essa forma de manifestação católica religiosa, e constituinte do catolicismo popular que engrena sentimento de coletividade circundada por um arcabouço metodológico repleto de crenças e ritos, mas que não exerce sobre os homens os mesmos desejos e obrigações ritualísticas do catolicismo oficial. (MENDES, 2004, p.55-56)

O grupo criou raiz na cidade, formando sua própria característica e sua própria forma de expressar as suas características, de modo que alguns momentos tornaram-se somente deles. Seguem o cristianismo, mas agregam fatos próprios da cultura local e de momentos com rituais próprios do grupo. Trata-se de uma mistura entre cultura e religiosidade, na qual o mais importante é a fé e a devoção que eles têm em seus santos. A isso, acrescenta-se:
Assim é a festa de agosto em Montes Claros, uma expressão cultural que tem se renovado na contemporaneidade, associada a fatores como religião, entretenimento, (re)afirmação social e uma série de outras dimensões que se confrontam nesse universo cultural. (QUEIROZ, 2002, p.47)

A festa agrega vários nomes, entre os quais estão: Movimento; festejo; manifestação, todos são válidos, uma vez que seu caráter popular possibilita esse universo de dimensão em que o grupo se tornou. É a dedicação de Mestre Zanza que faz a festa ficar cada vez presente na cidade, sua luta na preservação do grupo é nítida, o que resulta numa festa de orgulho. A religiosidade do grupo é vista em todas as instâncias, em cada passo e cada rosto dos membros que expressam o sentimento de comunhão e partilha dos festejos; ali é vivo o sentimento de fé e de cultura que é cultivada como forma de tradição, de modo a cumprir o papel que foi passado aos participantes, em forma de grande respeito. Para Hermes de Paula (2008): “Ao sair da igreja os dançantes não dão as costas para o altar fazendo sempre salamaleques respeitosos, dançando uma dança mais suave, vão saindo em conjunto, sempre de frente para o altar.” (HERMES DE PAULA, 2007, p.138)
Como forma de tradição, os participantes levantam os mastros com a bandeira do santo do dia. O primeiro mastro a ser levantado é o de Nossa Senhora do Rosário que, em seguida, ganha as ruas do centro de Montes Claros. Depois, é a vez de levantar o Mastro de São Benedito que, no próximo dia, toma as ruas locais e, por último, é o mastro do Divino que é levantado, rumo às ruas da cidade, seguindo sempre esta sequência.
Nas composições das músicas, os participantes agregam um canto pequeno com poucas estrofes. Como numa espécie de coro, o Mestre canta e os membros respondem, sempre dando salve ao santo de que são devotos. Seus instrumentos geralmente são produzidos por eles mesmos e todos são de percussão. A esse respeito, Raquel Mendonça (2011) expõe:
 A música dos Catopês é melodicamente pobre, predominando o ritmo, tanto que o seu instrumental é exclusivamente de percussão. São tamborins, pandeiros e caixas, em geral fabricados por eles mesmos, usando couro de cabrito. Cantam sempre sob o comando do mestre, que canta uma estrofe e todo o grupo responde. Apesar da pouca musicalidade, a riqueza do ritmo e o arranjo dos instrumentos dão um efeito de rara beleza e emoção. (MENDONÇA,  2011, p.1)

3.1. Os Donos da Festa

As três divindades formam os santos da festa. Nossa Senhora do Rosário, a santa dos Catopês, e São Benedito são santos de origem humilda e têm como fundamento a caridade e a fraternidade, e um dos poucos santos considerados de origem da raça negra, tendo a história voltada para a fraternidade e ao espírito de humildade e o Divino, que é a terceira pessoa da santíssima trindade, tem sua essência na fraternidade e igualdade entre todos, simbolizada pela pomba com uma coroa bem enfeitada.
A história de Nossa Senhora pela formação mítica se formava ainda na África, quando uma imagem de Nossa Senhora do Rosário apareceu no mar, quando o grupo de congo se dirigiu para a areia tocando seus instrumentos, só conseguiu fazer com que a santa se movesse uma vez num movimento muito rápido. Assim, Nossa Senhora se encaminhou para frente e parou; então todos vieram, os negros moçambicanos, batendo seus tambores recobertos com folhas de inhame, cantando para a santa e pedindo a ela que viesse para protegê-los. A imagem veio se encaminhando num movimento de vaivém das ondas, lentamente, até chegar à praia. (PEREIRA, 1990)
São Benedito foi pastor de ovelhas e lavrador. Aos dezoito anos de idade o jovem já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus e aos vinte e um anos, um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis o chamou para viver entre eles. Fez votos de pobreza, obediência e castidade e, coerentemente, caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Era muito procurado pelo povo que desejava ouvir seus conselhos e pedir-lhe orações.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de dezessete anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade, sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo o Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois, não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, já que fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu com muita humildade, mas com alegria, suas atividades na cozinha do convento.
Sempre preocupado pelos os mais pobres do que ele, aqueles que não tinham nem o alimento diário, retiravam alguns mantimentos do Convento, escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta a tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou: “Que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?” E o santo humildemente respondeu: “Rosas, meu senhor!” e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.( PRAZERES, 2009)
A história do Divino foi trazida pelos portugueses colonizadores quando Itanhaém era ainda uma vila, a “Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém”. Deduz-se daí que se trata de uma festa bem antiga que veio junto com as bagagens, malas, usos, costumes e um bocado de fé dos colonizadores portugueses, uma vez que é uma festa realizada em Itanhaém há mais de quatrocentos anos.
A tradição folclórica religiosa trazida é a seguinte: em uma época conturbada no reino português, quando a vida econômica era terrível, em que a administração era perturbada e as ameaças à segurança do trono da soberana Imperatriz Isabel eram agravadas, a Imperatriz, por sua vez, desejando ardentemente que Portugal saísse dessa grave crise, teve uma atitude inesperada que causou enorme impacto junto à corte, ela “abdicou” da coroa em favor do Divino Espírito Santo. A Imperatriz Isabel era muito religiosa e possuidora de uma fé inabalável, então, resolveu que, enquanto os sérios e graves problemas que atravancavam a vida do país não fossem solucionados, Portugal seria governado pela Santíssima Trindade.
No dia de Pentecostes, toda a corte, em procissão, tendo à frente a Imperatriz e o Imperador, dirigiu-se à Catedral, depositando no altar-mor o cetro e o estandarte (símbolos do poder do império). O cortejo e a cerimônia configuravam a promessa da Imperatriz que, a partir daquele instante, recolheu-se a um convento e aguardou os acontecimentos. Portugal desde então seria governado pelo Divino Espírito Santo.
Não sabemos se a fé ou a retomada da ponderação na corte foi a responsável pela paz, mas a medida extrema e inusitada da soberana Imperatriz findou a revolta e os ânimos foram acalmados. Dessa forma, a política voltou à normalidade e, consequentemente, a vida econômica de Portugal voltou à estabilidade. Esse acontecimento foi tido pelo povo como um milagre do Divino Espírito Santo, em atenção às preces da devota soberana. Sendo assim, a Imperatriz Isabel atendendo ao seu povo, retorna ao trono realizando novo cortejo à Catedral e reinvestindo-se de sua realeza. (CALIXTO, 2011)
O Divino Espirito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade e tem sua essência na fraternidade e na igualdade entre todos os povos, simbolizado pela pomba com uma coroa, sendo essa bem enfeitada com pedras e um manto de veludo vermelho.
Assim é o universo dos Catopê, sempre com muita fé nos santos de que são devotos, o grupo tem o seguimento do cristianismo, manifestado em ritos comuns da religião católica, ainda que não se prendam ao cristianismo formal, já que tem suas doutrinas e condutas diferenciadas dos grupos congadeiros, não deixando, por isso, de ser católico, uma vez que criaram uma identidade no seguimento da tradição que se desenvolveu na cidade e em outras parte do estado. Sobre isso, nas palavras do autor:

O universo do mundo congadeiro engloba os espaços, simbólicos e todos os aspectos ritualísticos que constituem o caminho para sua ligação com o sagrado, comporta elementos característicos e preceitos que convergem num objetivo central qual seja a direção rumo ao mundo do não natural, do imaterial do sagrado. Os aspectos desse mundo do congadeiro, concernentes, constituídos e moldados inicialmente o desejo do sistema religioso que os comporta, a religião católica, mescla um universo de homens comuns sem o com prometimento com o sistema religioso formal e oficial, com uma estrutura formalizada, como é estabelecida nos sistemas e tradições da igreja nos moldes católicos. (MENDES, 2004, p.55-56.)

As Festas de Agosto em Montes Claros manifestam alegria, fé e devoção do povo que acredita na religiosidade; trata-se de um momento de mostrar a devoção e a crença no que foi passado de geração a geração, e que se faz perpetuar na história de Montes Claros, revivendo essa instância a cada ano da festa, dando oportunidade para a cultura e para a religiosidade. Sobre esse assunto, menciona-se:
Para compreensão significativa da variedade de situações vivenciadas durante a manifestação dos grupos Catopês, Marujos e Caboclinhos, são importantes apresentar as etapas que constituem a essência dessa festividade em Montes Claros. De forma ampla, a festa de agosto em Montes Claros conta com sete situações distintas que são inter-relacionadas pelo desempenho dos grupos durante o ritual. Essas situações se estabelecem nas visitas as casas dos mordomos, no levantamento dos mastros, nos reinados, e no império, nas missas e homenagem aos santos, no encontro dos grupos de congados na procissão e na missa de encerramento. (QUEIROZ, 2002, p.48)


O autor completa que “no entanto, a essência do festejo é preservada nas músicas, nas coreografias, na religiosidade e em toda complexidade simbólica dessas expressões.” (QUEIROZ, 2002, p.47). A festa tem suas particularidades no que diz respeito às suas características. Sua imagem é de uma festa cultural e religiosa, que pode ser considerado um patrimônio cultural e material para a cidade, se observado o forte intuito de preservação que os membros do grupo têm. Já em outros momentos, podemos perceber a preservação da história nos cortejos pelas ruas que relembra a corte no Brasil na época colonial, e por conta disso, a festa tornou-se um festival de cultura.

3.2 Tradições Indispensáveis

O grupo tem o costume de mostrar muito respeito e devoção ao santo, e para demostrar o respeito com o sagrado, os participantes têm o costume de se vestirem de cores específicas nas apresentações para seu santo protetor. Cada grupo tem uma cor diferente e que é relacionada ao santo de devoção, é com o que mostram mais uma vez  o quanto são devotos do santo.  A esse respeito:
Os Catopês apresentam pequenas variações nas cores de suas vestimentas, tendo em vista que, nos ternos de Montes Claros, há uma predominância da cor branca como base da coloração das roupas dos integrantes. No entanto, cores como o azul, rosa, e o vermelho, que estão relacionados aos santos devotos pelos grupos, podem apresentar nuanças na composição dos figurinos, fazendo parte de detalhes e até mesmo da configuração geral da roupa dos Mestres e ou de integrantes hierarquicamente mais importantes dentro dos ternos. (QUEIROZ, 2002, p.40.)

Em alguns momentos para os Catopês essa conduta é bem natural, uma vez que eles não são impostos, pois é a tradição que se tem, e assim eles vão seguindo de forma que possam expressar a devoção ao seu santo, fazendo de pequenos detalhes uma verdadeira motivação para agradar ao santo. E por falar sempre em tradição, o funcionamento o cumprimento dos momentos da festa são instâncias fundamentais.  
Catopé significa dança ou ritmo com batuques. No início, os grupos eram formados por homens e crianças; a princípio eram somente homens e negros que poderiam dançar nos ternos, mas com o passar dos anos, as mulheres também puderam participar; hoje, todos podem participar. Em Montes Claros, os ternos têm uma diferença entre grupos, os seus reis e rainhas geralmente são crianças e a maioria branca, diferente dos outros que são os próprios dançantes dos ternos, e em Montes Claros são as crianças os reis e rainhas, independente de raça que são inscritas e sorteadas para representar no festejo. Para essa característica, há uma explicação para o fato de somente crianças e a maioria delas branca, poderem desfilar nos reinados, Raquel Mendonça explica:
Tive certa vez uma explicação a respeito de tal diferença, ou seja, porque crianças - a maior parte brancas - e não adultos negros. A justificativa é a seguinte: essa festa era exclusiva das senzalas. Apenas os escravos participavam. Acontece que era costume, não só aqui como em todas as partes, a mãe-preta, uma escrava que amamentava os filhos do senhor. Para essa função era sempre escolhida uma mulher de boa saúde e de boa índole, em quem os patrões pudessem confiar suas crianças. E sempre acontecia que essa escrava, pelo fato de alimentá-las com seu leite, acabava por se sentir meio mãe, apaixonada e dedicada ao "sinhozinho" ou à "sinhazinha".

Dizem que numa época, uma criança filha de um fazendeiro adoeceu, doença grave. Tentou-se os recursos médicos da época sem resultados. Foi quando entrou em cena a mãe-preta, desesperada com a quase certeza da perda do "filho". Diz aos pais da criança que ia fazer uma promessa a São Benedito, pedindo pela vida do menino e que, se ele se salvasse, sairia como rei na festa dos escravos. Os pais, que a essa altura já estavam recorrendo a qualquer coisa que lhes desse uma esperança, aceitaram o compromisso. O fato é que a criança começou, logo em seguida, a sentir melhoras e, em poucos dias, estava inteiramente sã. O pai cumpriu a promessa da escrava e, ano seguinte, pela primeira vez, um menino branco foi o rei na festa dos negros. (MENDONÇA, 2011, p.01)

De acordo com Clarice Sarmento (2012), em matéria publicada no Jornal Norte de Minas, “Os trajes ostentam as cores do santo, azul e branco para N.S Senhora do Rosário, rosa para São Benedito e vermelho para o Divino (...)” (SARMENTO, 2012, p.3)
De maneira organizada e em fila indiana, com as vestimentas com as cores para o santo de devoção, saem às ruas do centro da cidade, fazendo suas coreografias e cortejos que desfilam com muito fervor, cantam e batem os tambores, fazem a maior festa na rua. Os grupos apresentam em seus trajes, utensílios que compõem as vestes de cada grupo, inclusive os Catopês. O utensilio que os caracteriza são: os capacetes cheios de fitas e miçangas coloridas, com pena de pavão, em demonstração de eminente criatividade. Sobre essa colocação, o autor acrescenta que “elementos importantes na organização indenitária dos Catopês são os capacetes, adereço enfeitado com fitas coloridas, miçangas, espelhos e pena de pavão.” (QUEIROZ, 2002, p.41). Os outros grupos também utilizam utensílios, como é o caso dos Caboclinhos que apresentam em suas vestimentas, as roupas que relembram os indígenas com objetos como o arco e flecha que bem os representa; a Marujada em que os participantes se vestem como os marujos de navios que, com suas espadas na coreografia mostram uma luta em um conflito.
Os grupos também têm o estandarte e o mastro com a imagem do santo, e na frente de cada terno é levada a bandeira do santo, sempre bem colorida e bem enfeitada, é com essas composições que eles saem em cortejo pelas ruas da cidade. De acordo com Ângela Martins Ferreira (2009) “Cada terno leva suas bandeiras (com o emblema dos santos que veneram) que são balançadas em rodopios marcantes a frente de seus ternos.” (FERREIRA, 2009, p.38)
Para os Catopês, Marujos e Caboclinhos, a coreografia faz parte do espetáculo e é através dela que os dançantes expressam toda a complexidade da festa, através do forte ritmo dos instrumentos que são tocados durante os desfiles ou na procissão. Pois, são nesses momentos que se vê a forte influência africana que os Catopés têm, nessa instância parecem sentir orgulho daquele universo e com todo prazer fazem a festa acontecer, esperando que o ano seguinte venha logo para promover novamente o festejo e reviver tudo mais uma vez. Conforme a autora, “os dançantes, no momento da consagração ajoelham demonstram sua fé no senhor Jesus, todos rezam o Pai Nosso com muita piedade.” (FERREIRA, 2009, p.53). O respeito com o sagrado é a forma de expressar a fé que os membros dos grupos possuem, é nesse momento de orações que eles revivem o que eles aprenderam, dessa forma passarão para seus filhos ou netos a tradição, não deixando esmaecer a festa na cidade de Montes Claros.
O domingo é o último dia de festa para os Catopês, Marujos e Caboclinhos, nesse dia é feita a procissão de encerramento. A procissão é mais um momento de mostrar a fé do povo e a união dos grupos da cidade e de grupos vizinhos de outras cidades que vêm para o encerramento da festa, a procissão começa na Praça da Matriz, passa pelas ruas do centro até a Igreja do Rosário na Praça Portugal e lá é celebrada uma missa de encerramento da festa. Nas palavras do autor:
A procissão acontece no encerramento da festa, domingo á tarde, com a participação dos outros ternos de Montes Claros e de outros grupos que estiveram no encontro dos grupos de congado. Esse evento inicia na Praça de Matriz, passando por ruas do centro da cidade sendo finalizado na Igreja do Rosário, onde acontece a missa de encerramento da festa. (QUEIROZ, 2009, p.50)

Ainda que o grupo de Catopês, Marujos e Caboclinhos seja secular na cidade, há lacunas no que diz respeito à data exata da primeira apresentação na cidade, por esse motivo, não temos datas específicas que comprovem algo com mais exatidão. Há documentos que comprovam datas posteriores às primeiras apresentações marcados no ano de 1939. Sobre isso, Hermes de Paula (2007) menciona:

A mais antiga noticia sobre o assunto é datada de 23 de maio de 1839, quando Marcelino Alves pediu licença pra tirar esmolas para as festas de Nossa Senhora do Rosário e Divino Espirito Santo que pretendia fazer nesta freguesia. (HERMES DE PAULA, 2007, p.138)

Assim é a festa dos Catopês em Montes Claros, cheia de composições agregadas à tradição secular. Foi essa trajetória dos Grupos que fez com que a cultura local fosse reconhecida, obtendo seu espaço, mostrando o valor que os Catopês representam para o município, dando um salto cada vez maior nas apresentações, hoje reconhecidas como patrimônio cultural e material da cidade. Sendo assim, Montes Claros abraçou a festa e os moradores da cidade sentem orgulho de ter esses festejos tão ricos em suas terras. Para a autora Ângela Martins, “nessas ruas, alguns moradores de famílias tradicionais ficam nos portões de suas casas. Comerciantes e funcionários à porta de suas lojas e o povo à beira das calçadas.” (MARTINS, 2009, p.32). Enfim, a tradição das apresentações dos Catopês na cidade gera cultura, conhecimento, entretenimento, uma infinidade de benefícios para o crescimento e desenvolvimento cultural do município, e se depender dos Mestres, essa tradição secular não vai morrer nunca. Sobre isso, finaliza a autora: “Muita gente veio de longe para conhecer e apreciar as Festas de Agosto. Os montes-clarenses que estão em outras cidades vêm matar as saudades desses dias festivos que ficaram gravados em suas memórias.” (MARTINS, 2009, p.32)

4. Considerações Finais

Conclui-se que o grupo dos Catopés na cidade de Montes Claros segue uma tradição religiosa que, ao celebrarem todos os anos as missas, primarem pelo levantamento de mastros, entoarem os de cortejos e os desfiles, revivem o que aprenderam com seus ancestrais e demonstram sua forma de expressão de fé e de devoção aos santos. Nas performances, eles buscam relembrar também o congado, que é a dança típica ou ritual de devoção aos santos, com características e ritos da cultura africana.
Os ternos de Catopês têm importantes características próprias, com roupas brancas, diferentes de outros grupos que se destacam pelas vestes azuis, rosas e vermelhas; todas as cores em homenagem aos santos, ainda em sua composição os Catopês possuem os capacetes sempre bem enfeitados com fitas coloridas, miçangas e penas de pavão, tudo para agradar o santo de devoção. O objetivo maior dos enfeites e das roupas é levar alegria ao povo, demonstrando fé e devoção aos santos que, para eles, são os donos da festa, tudo é feito em nome deles.
O grupo segue uma tradição que foi passada de geração a geração. Nessa tradição, revivem-se todos os anos os momentos distintos que expressam os valores na crença que o grupo tem na festa, algo que ao longo do tempo foi-se passando e até chegar aos dias de hoje, de lá até hoje são mais de cem anos, fazendo do passado um momento histórico utilizado no presente que se prepara sempre para o futuro.
O objetivo do trabalho foi desenvolver e mostrar a riqueza que é o patrimônio cultural que Montes Claros tem: os Catopês. Com eles, podemos ver a religiosidade e a cultura juntas dando um salto grande à sua própria valorização, sem deixar enfraquecer a história que é revivida ano após ano. A tradição do grupo Catopês é um exemplo da necessidade de se preservar o passado em sua diversidade, convertendo-se em algo de bastante valia para uma cidade. O trabalho tem ainda o objetivo de fornecer informações que agregam a religiosidade, a cultura e a preservação do patrimônio da cidade, para que o grupo dos Catopês possa somente crescer como o que tem feito ano a ano, independente das dificuldades encontradas ao longo da caminhada secular na cidade, sempre respeitando o divino e o sagrado amplamente representado nas três divindades e no senhor Jesus Cristo, mentor de tudo e de todos.
Temos uma diversidade de indicações para trabalhos futuros: os momentos; as composições que têm uma grande extensão dentro do grupo; os cantos; as músicas, junto dos seus instrumentos com o qual fazem um verdadeiro espetáculo. A relação que o grupo de Catopês tem com a Secretaria de Cultura e com a prefeitura da cidade de Montes Claros, como eles decidem a data, como funciona o setor financeiro dos grupos são temáticas com muitos desdobramentos.




5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AVELAR, Leandro Palma. Cadernos de Agosto: 28º Festival Folclórico de Montes Claros. Montes Claros, MG, editora Secretaria de Cultura, p.05-07, 2006.
BRAGA, Márcia. O Folclore e as Festas de Agosto em Montes Claros. Editora Secretaria de Cultura, Montes Claros, MG, p.01-05, 2002.
Cadernos de Agosto, Montes Claros, MG, editora Unimontes, p.01-02, 2004.
CALIXTO, Benedito. Ponto de Cultura, Cultura Ativa, 2011.Disponível em: . Acesso em 13 de Nov.2012.
CARVALHO, Valdemar Ferreira de. O poder do imaginário popular. Disponível em: . Acesso em 06 de junho de 2013.
FERREIRA, Ângela Martins. Festas de Agosto, Fatos, Fotos e Fitas. Montes Claros, MG, 1ªed,  p.09-58, 2009.
JORNAL HOJE EM DIA. Montes Claros celebra sua tradição. Belo Horizonte, p.01,2009.
, NORTE DE MINAS. Festas de Agosto. Caderno Especial, Montes Claros, MG, p.01-03, 2002.
MENDES, Jean Joulat Freitas. Músicas e Religiosidade na Caracterização do terno dos Catopês de Nossa Senhora do Rosário do Mestre João Farias em Montes Claros. MG, editora Unimontes, p.127-132, 2004.
MENDONÇA, Raquel. Arte e Cultura, outubro de 2011. Disponível em: . Acesso em 13 de Nov.2012.
ORIÁ, Ricardo; BITTENCOURT, Ciro. O sabor histórico na sala de aula. Memória e ensino de história. 10ª ed. São Paulo, p. 128-146, 2009.
PAULA, Hermes Augusto de. Coleção Sesqueténaria: Montes Claros sua História sua Gente seus Costumes. Montes Claros, editora Unimontes, p.04-07, 2007.
PEREIRA, Marcelo. 6º Encontro com o Folclore, Festa do Rosário. Disponível em: . Acesso em 13 de Nov.2012.