sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Movimento negro e as políticas de igualdade racial


Edson França*

Considero o movimento negro o principal, e em muitos momentos solitário, protagonista da luta pela emancipação da população negra do jugo do racismo, trata-se de um ator social que expressa com profundidade as contradições raciais impregnadas na sociedade brasileira, por isso é imprescindível e estratégico para promoção da igualdade racial.

Promover a igualdade racial significa um ajuste na abordagem das relações raciais no Brasil, um conceito relativamente novo, mais completo, pois rompe com a unilateralidade das ações de enfrentamento do racismo. Outrora criminalizando a prática, com isso fixando o racismo no campo da alteridade, atualmente, além de criminalizar, propõe incidir sobre os impactos materiais e simbólicos decorrentes do racismo.

Dessa forma o Brasil aprofunda sua compreensão sobre o fenômeno racial, embora ainda não seja percebido como um elemento estruturante para a marginalidade e pobreza da população negra na sociedade brasileira. Penso que elaborar esse conceito e as propostas de políticas públicas que o ratifique significa o cumprimento inicial da prerrogativa do movimento negro que resume em apresentar demandas gerais e específicas da população negra e propor soluções.

O movimento negro atingiu um objetivo importante para estruturação das políticas de igualdade racial com a instituição da SEPPIR, nesse ato o governo brasileiro reconhece de forma inequívoca a existência do racismo e de seus nefastos desdobramentos na qualidade de vida da população negra e dá fim indiretamente ao famigerado mito da democracia racial, ideologia que exalta a benignidade das relações raciais no Brasil e nega a necessidade de qualquer intervenção do poder público em demandas raciais.

Pode-se dizer que essa vitória coroa de êxito um processo político iniciado em finais da década de 70, que consistiu em sair das salas de reuniões e denunciar publicamente o racismo, intensificar o ativismo da luta contra a opressão racial, participar dos partidos políticos, responsabilizar a ação e omissão do Estado pela condição de sub-cidadania de parcela expressiva da população negra, além de propor insistentemente medidas para superação das violências raciais presentes no Brasil.

No entanto, essa vitória precisa ser complementada com políticas públicas que tenham capacidade de contribuir para promoção social da população negra, sabemos que pela natureza do Estado brasileiro, como qualquer estado capitalista, só é possível obter mais efetividade e eficácia nas políticas de igualdade racial com força política e pressão popular. O racismo produz cenários materiais desvantajosos aos negros, por isso, cabe ao movimento social negro dar conta do desafio de organizar politicamente os pleitos coletivos dos negros.

Sensibilizar o Estado para investir na promoção econômica, social, política, cultural, educacional da população negra exigirá imposição, que deve ser articulada pelo movimento negro, pois o Estado brasileiro é um corpo lento quando tem que se movimentar em favor da massa empobrecida, marginalizada e oprimida. O movimento negro não pode projetar toda sua tática em convencimento de governos, precisa envolver o Estado, por isso leis como o Estatuto da Igualdade Racial e a 10.639/03 são fundamentais para o êxito da igualdade racial, embora conquistá-las e implantá-las demanda maior esforço.

Cabe ao movimento negro organizar a demanda política, social e econômica da população negra, apresentar propostas que se constituam em reais soluções aos problemas apresentados, acompanhar a implantação e avaliar os impactos. Para isso precisamos de um movimento autônomo, comprometido com o Brasil e com o povo brasileiro, pois qualquer ator político que reivindica a representação de metade da população de um país, somente se legitima com um projeto de desenvolvimento de nação que incorpore todo seu povo.


Igualdade Racial no Governo Lula

O Governo Lula foi um verdadeiro desbravador das políticas de igualdade racial no Brasil. Encontrou um país empobrecido, mergulhado no neoliberalismo, ultrajado e dilapidado por uma classe dominante racista, gananciosa e antipatriota. Um Estado essencialmente universalista, com somente 70 anos de experiência em política social entrecortada por quase 30 anos de ditaduras, estrutural e institucionalmente racista, sem conhecimento das condições e demandas específicas de grupos sociais marginalizados. Um Estado sem instrumentos institucionais, administrativos e legais para atuar na promoção da igualdade racial; carente de conceitos para subsidiar a elaboração de políticas para promover a população negra.

O período Lula (2003 a 2010) foi voltado, principalmente, para construir os instrumentais necessários para consecução da política de igualdade racial: aquisição de conhecimento da demanda, elaboração e pactuação da política, aprovação das normativas e das leis, convencimento de atores institucionais em âmbito da união e das unidades federativas, elaboração de projetos e programas.

Todos esses movimentos em pró da igualdade racial receberam críticas e feroz oposição de expressivo contingente parlamentar incluindo parlamentares da base aliada. Se opôs também a grande mídia brasileira, parcela da intelectualidade, além da resistência da máquina pública e de gestores da alta cúpula governamental. É verificável que o Governo Lula preparou as condições para implantação das políticas de igualdade racial de forma abrangente, parte importante de seu trabalho não é mensurável, ainda que seja visível o grande volume de sua obra nessa matéria. Não foi tarefa fácil nem simples, exigiu convicção e energia, em vários momentos os atores centrais desse empreendimento caminharam por estradas turvas solitariamente.

Nos últimos oito anos foram dados passos importantes para promoção social da população mais pobre, os negros foram contemplados por essas políticas. Pesquisa recente do Instituto Data Popular constatou que a maioria dos brasileiros que ascendeu à nova classe média é composta por jovem, mulher e negra, a mesma pesquisa diz que a população negra está mais otimista, acredita mais no Brasil e no futuro. O velho Marx nos ensinou que os fatores objetivos incidem sobre as subjetividades, em outras palavras, em terreno que acirra fome e pobreza o otimismo e a esperança não imperam.

Isso foi possível pela política de fortalecimento do salário mínimo, aumento dos postos de trabalho, maior acesso ao ensino superior, bolsa família, Luz Para Todos, Minha Casa Minha Vida, dentre outras políticas sociais. A meu juízo, o Governo Lula compreendeu que a igualdade racial é promovida com política universal somada a política de ação afirmativa, apesar de iniciais, os resultados dessa articulação foram positivos, precisamos aprofundá-los para que o legado de Lula para igualdade racial dê bons e mais frutos.

O racismo impacta multilateralmente, tem força de produzir desigualdade, por isso é importante somar às iniciativas de igualdade racial o esforço de universalizar de fato as políticas sociais, pois a verdadeira universalização das políticas governamentais e o efetivo embate contra a pobreza estão no escopo do combate ao racismo apregoado pelo Plano de Ação de Durban.

A política de igualdade racial implantada na era Lula impactou positivamente, mas ainda não produziu todo seu fruto e não superou os principais obstáculos impostos pelas forças políticas, econômicas e sociais que se contrapuseram a elas, os inimigos e os adversários continuam firmes, fortes e atuantes. Por isso, avalio que parte importante do arsenal antirracismo produzida nos dois governos Lula ficou no papel, a correlação de forças políticas sensíveis às condições de marginalidade da população negra não tem hegemonia e parte da esquerda brasileira, aliada de primeira hora dos trabalhadores e oprimidos, não tem compreensão profunda dos efeitos do racismo, vacilaram e vacilam em momentos importantes da luta racial.


Movimentos sociais e as conferências e conselhos de política pública

Tenho dito que, no ponto de vista do governo, Lula acertou quando propôs a realização das conferências temáticas de políticas públicas e instituiu mais onze conselhos dedicados a diferentes áreas de políticas públicas e defesa de direitos. Generalizou uma prática preexistente, de certa forma caminha para institucionalização do controle social, diminui a presença do movimento social nas ruas e estabelece o palco principal de conversação e embate entre governo e movimento social.

Dessa forma foi possível estabelecer um processo contínuo e direto de diálogo democrático com mais de cinco milhões de brasileiros e manter 450 entidades sociais de expressão nacional nas 600 vagas da sociedade civil nos conselhos. Nesses espaços pactuam políticas e o governo define caminhos após oitiva da população organizada. Pode-se dizer que as conferências e os conselhos são uma espécie de assessoria de luxo do governo.

No entanto, após avaliar a realização de várias conferências de políticas públicas verificamos pouca resolutividade, o caráter consultivo das conferências e de grande maioria dos conselhos permite a seleção discricionária das propostas pelos gestores, aliás, permite também negá-las integralmente. Os resultados práticos têm denunciado grande fragilidade das conferências e dos conselhos para o avanço das pautas dos movimentos sociais.

Além disso, o movimento social deve considerar o perigo da perda do protagonismo da pauta política e do ímpeto questionador e revolucionário necessários aos movimentos sociais. Nenhuma sociedade avança nos direitos sociais e políticos dos trabalhadores e do povo com um movimento social fragmentado em compartimentos estanques, obediente, institucionalizado, ferido direta ou indiretamente em sua autonomia e sem o protagonismo das iniciativas.

Considero que os movimentos sociais devem garantir sua presença nas conferências e conselho de políticas públicas como mais um espaço de luta política, mas o palco prioritário dos movimentos sociais para avançar em suas reivindicações, garantirem mudanças e controlarem desvios de governos são as ruas, como foi durante a luta contra o apartheid, a luta pelos direitos civis dos negros americanos, as recentes mobilizações do povo egípcio e outras históricas mobilizações como o Petróleo é Nosso, Diretas Já e Fora Collor.


Desafios à consolidação das políticas de igualdade racial

Há desafios a serem considerados pelo movimento negro para consolidar as políticas de igualdade racial, as principais tarefas são: garantir sua observância na LDO, LOA e PPA, trabalhar para regulamentação e implantação do Estatuto da Igualdade Racial, dar curso ao PLANAPIR, fortalecer política e institucionalmente a Secretaria Nacional de Políticas de Igualdade Racial - SEPPIR, dar caráter deliberativo ao Conselho Nacional de Política de Igualdade Racial - CNPIR, investir mais recursos na estruturação do Fórum Intergovernamental de Política de Igualdade Racial - FIPIR, dar subsídios aos Ministros do STF para obtermos resultado positivo quanto a constitucionalidade das políticas de cotas e do decreto 4887/03, trabalhar para aprovação dos projetos de igualdade racial tramitando na Câmara dos Deputados e no Senado, ampliar a base parlamentar em defesa das políticas de igualdade racial no Congresso Nacional, estimular instituição de frentes parlamentares nos estados e grandes municípios, intensificar diálogo com os partidos políticos, além de disputar a classe média brasileira com vista a obter apoio mais ativo. Para realizar sua missão institucional que consiste em “estabelecer iniciativas contra a desigualdade racial no País”, a SEPPIR precisa ser mais e melhor compreendida por amplos setores da vida política e institucional do país.

Estamos diante de uma pauta complexa, considerando que as políticas de igualdade racial ocorrerão em meio as condicionantes de ordem política, aos desafios impostos a saúde econômica e desenvolvimento do país e aos objetivos que serão perseguidos pelo governo Dilma.

Além das iniciativas da oposição e incompreensão dos aliados, o acirramento da crise econômica, que tem levado nações à insolvência e se aproximado do Brasil, criará condições adversas a igualdade racial. Nesse contexto o risco da Presidenta Dilma adotar uma política econômica mais contracionista e realizar draconianos cortes no orçamento, afetando duramente as políticas sociais, como o contingenciamento de 52 bilhões realizados no exercício passado não está descartado. A crise sempre recrudesce o racismo e denuncia a incapacidade desse sistema em oferecer igualdade.

No escopo das políticas sociais a prioridade anunciada do Governo Dilma é a eliminação da pobreza no Brasil, trata-se de um nobre objetivo, da mais alta relevância para todos brasileiros, especialmente aos negros que se constitui a maioria dos pobres. No entanto se desconsiderarem o racismo como importante elemento fomentador da pobreza, esse propósito não incidirá sobre a desigualdade racial.


Negros e negras compartilhando o poder

A atual gestão da SEPPIR avançou em aspectos fundamentais para o sucesso da política de igualdade racial, acertou ao priorizar no primeiro ano investir grandes esforços para inserir a política de igualdade racial com força no PPA, trata-se de uma conquista que tende a se consolidar, temos que observar atentamente o processo, pois o Estado brasileiro tem dificuldades de avançar para além do universalismo.

Apesar do acerto da SEPPIR, precisamos de muito mais, não concebo a luta pela superação do racismo e pela igualdade racial exclusivamente no âmbito das políticas públicas, por mais vitórias e esforços que se empreendam, a SEPPIR é insuficiente. Daí a importância da luta política para garantir a presença do negro no poder, sabemos que poder não se realiza com concessão governamental, mas com luta política concreta.

O poder no Brasil é um espaço de brancos, os projetos para a nação são pensados e executados por brancos, o país dissemina sua branquitude e nega sua negritude. Somente enegrecendo o poder, colorindo os parlamentos, as universidades, as direções das grandes empresas, as estruturas de direção do Estado, daremos passos concretos no caminho da igualdade racial. Essa tarefa não é exclusiva da população negra, pois o racismo é um dilema humanitário, superá-lo é responsabilidade de homens e mulheres de todas as raças.

As políticas de promoção da igualdade racial não atingem o poder, logo, cabe ao movimento negro a liderança de um projeto político que valorize o voto em negros comprometidos com a luta contra o racismo e contra a opressão de classe para todos os postos públicos, exigir presença negra nas direções partidárias, garantir presença de negros em espaços estratégicos de gestão e impor projetos que fomente o empreendimento de negras e negros. A UNEGRO foi feliz quando estabeleceu o debate do poder como foco de sua abordagem, estamos convictos que se o movimento negro focar esse tema com a mesma força que focou o 20 de novembro, a imortalidade de Zumbi dos Palmares e as ações afirmativas, em até cinco legislaturas mudaremos a cara do congresso e do poder político no Brasil.

Estamos em ano eleitoral (2012), precisamos organizar a participação da população negra nesse momento cívico e político importante, a eleição de prefeitos e vereadores estabelece a base do poder político nacional. É responsabilidade do movimento negro discutir programaticamente os caminhos a serem perseguidos pelas futuras autoridades municipais, oferecer alternativas para combater o racismo e oferecer quadros políticos para ser avaliado pelos eleitores. Negras e negros compartilhando o poder é um desafio de primeira grandeza e imediato.

Avante movimento negro!!!



*Edson França – Presidente da União de Negros Pela Igualdade - UNEGRO

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

3º SALÃO DE ARTES VISUAIS “CULTURA NEGRA”

DESENHO, PINTURA, ESCULTURA E FOTOGRAFIA
Com muita lutar é organização vamos realizar o 3º salão de artes visuais com o tema que abrange o prodigioso legado da cultura negra em todas as modalidades e possibilidades.
É chegada a hora de perdermos o medo, e hoje através do VII FECAN, temos certeza, este objetivo cultural que faz parte da vida dos homens será alcançado e também pela importância do próprio tema motivar o artista plástico no desenvolvimento de seu potencial.
Biolla parceiro do salão do FECAN 2012


REGULAMENTO

3º SALÃO DE ARTES VISUAIS “CULTURA NEGRA”


O 3º SALÃO DE ARTES VISUAIS “CULTURA NEGRA”.
Acontecerá no período de 13 de Maio a 27 de Maio de 2012,
no NECUN (Núcleo de Estudos da Cultura Negra).

1. INSCRIÇÃO
1.1– A inscrição se dará no período de 20 de março a 20 de Abril de 2012.
É gratuita e aberta a artistas brasileiros e estrangeiros legal e comprovadamente residentes há mais de 02 (dois) anos no país.
1.2– A inscrição será feita em ficha própria ou fotocópia, acompanhada de um breve currículo do artista, (para o caso de artista iniciante não é necessário o envio deste).
È imprescindível o completo preenchimento de 2(duas)vias, datilografadas ou em letra maiúsculas, só serão aceitas fichas de inscrição assinadas pelo artista ou por seu procurador, através de instrumento específico.
As fichas de inscrição poderão ser obtidas no CENTRO DE EXTENSÃO E CULTURA DR. HERMES DE PAULA, Praça Dr. Chaves, nº 32
CEP: 39.400-005 – Centro – Montes Claros-MG


1.3– O Dossiê, com formato máximo de 21x33 cm (tamanho ofício), deverá conter Xerox de comprovante de endereço (p/ futuros contatos), currículo resumido, a inscrição de no máximo3 trabalhos em uma modalidade contendo no verso o nome do artista, dimensões da obra, título, material utilizado e ano de execução. Sendo aceitas obras no ato da inscrição.
1.4– Serão aceitas obras inéditas ou não desde que se comprometam com as normas do 3º Salão de Artes Visuais “Cultura Negra”.
1.5– Cada artista terá direito a apenas uma inscrição individual ou em grupo.
1.6– Devem ser apresentados obrigatoriamente três trabalhos por inscrição, cabendo a comissão de seleção e premiação determinar qual irá participar da mostra. Dípticos,trípticos e polípticos são considerados obras únicas.
1.7– O artista disporá das seguintes medidas máximas para a apresentação dos trabalhos: obras bidimensionais 3,60m (três metros e sessenta cm) de largura e 2,00 (dois metros) de altura para o conjunto das três obras. Obras tridimencionais – 1,00m (um metro) de largura e profundidade, por 2,20m (dois metros e 20 centímetros) de altura cada peça. Obras que excederem essas especificações não serão aceitas.
1.8– Não serão aceitas obras realizadas com materiais perecíveis ou adulteráveis que prejudiquem a apresentação de outros trabalhos ou comprometam a integridade física do local de exposição, dos funcionários e do público em geral.
1.9 – As inscrições juntamente com as obras deverão ser entregues diretamente, ou por via postal no CENTRO DE EXTENSÃO E CULTURA DR. HERMES DE PAULA, Praça Dr. Chaves, nº 32 CEP: 39.400-005 – Centro – Montes Claros-MG) inscrições só serão aceitas postadas até 20 de Abril de2012.
1.10 – Os membros da comissão de seleção e premiação não poderão se inscrever.
Embora não concorram à premiação, é permitida a inscrição de membros da comissão organizadora.
1.11– A comissão organizadora do salão rejeitará inscrições que não estejam de acordo com os termos deste regulamento.
1.12– O ato da inscrição implica automaticamente e plena concordância com as normas deste regulamento.

2. SELEÇÃO
2.1– A seleção dos trabalhos será realizada em etapa única por uma comissão composta por, no mínimo, 03 (três) membros, quando será lavrada a ata de seção, onde estarão fundamentados os critérios adotados.
2.2– A comissão de seleção selecionará obras de no máximo 30 (trinta) artistas, cabendo a mesma se achar necessária selecionar mais obras.
2.3– O resultado da seleção será publicado nos meios de comunicação local. Todos os artistas selecionados serão comunicados por telefone, telegrama ou internet nos dois primeiros dias úteis após a seleção. Os que não forem selecionados serão avisados do resultado por via postal.
2.4– O material de inscrição dos artistas selecionados e não selecionados incluindo o dossiê, não será devolvido. (motivo: futuros contatos)
2.5– Somente serão expostas as obras selecionadas, não sendo permitidas substituições ou modificações das mesmas após seleção.

3. TRANSPORTE
3.1 – Os artistas deverão enviar suas obras por conta própria, para o endereço prescrito no item (1.9)
A comissão de seleção sugere o máximo cuidado no envio das obras, cabendo ao artista a responsabilidade por danos as mesmas.
3.2 - A devolução das obras será realizada por frete a cobrar, por transporte escolhido pela coordenação do salão.
Caso o artista tenha uma transportadora de sua preferência, deverá informar a coordenação do salão e contatar a empresa para retirar os trabalhos em Montes Claros.
Isso deverá ser feito no prazo de 20 dias após o encerramento do
3º SALÃO DE ARTES VISUAIS “CULTURA NEGRA”.

4. MONTAGEM
4.1 – Caberá exclusivamente à comissão organizadora o conceito da montagem do salão.
4.2 – Equipamentos e materiais especiais, necessários à apresentação da obra, serão fornecidos pelo artista, sendo de sua total responsabilidade a operacionalização e manutenção dos mesmos.
4.3 – As obras que eventualmente tenham sido danificadas durante o transporte para o 3º Salão de Artes Visuais “Cultura Negra”, só serão expostas se houver tempo hábil para o seu restauro e se a devida cobertura das despesas for efetuada pelo responsável.

5. Certificados mais trofeus
5.1 – A premiação será realizada por uma comissão composta por no mínimo 03 (três) membros convidados pela coordenação, onde será lavrada a ata da seleção e onde estarão fundamentados os critérios adotados.
5.2 – O 3º Salão de Artes Visuais “Cultura Negra” conferirá certificados além de trofeus
por seguimento:um desenho,um pintura,um escultura e um fotografia


5.3 – Os artistas receberam os certificados em Montes Claros durante a solenidade de abertura do salão.


6. DISPOSIÇÕES GERAIS
6.1 – As obras não poderão ser alteradas ou retiradas antes do encerramento do salão em Montes Claros.
6.2 – As comissões de seleção e premiação atuarão desde sua formação e até que sejam lavradas e assinadas as respectivas atas, quando serão automaticamente extintas.
6.3 – As decisões das comissões de seleção e premiação serão irretratáveis e irrecorríveis.
6.4 – Ficará a cargo da comissão organizadora qualquer deliberação posterior à extinção das comissões de seleção e premiação.
6.5 – Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos pela comissão organizadora.

HORÁRIO DE ATENDIMENTO: DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA,
DAS 8H ÀS 12H E DAS 14H ÀS 18H
PELO TELEFONE: (38)9104-4369(038) 9946-4731
Com Hilário Bispo


FICHA DE INSCRIÇÃO DO SALÃO

3º SALÃO DE ARTES VISUAIS “CULTURA NEGRA”
Desenho,Fotografia,Pintura e Escultura



Prazo de entrega dos dossiês até 20 de Abril 2012
Local____________________________________________________
Inscrição nº______
A ser preenchido somente pela Administração do Salão
ARTISTA_______________________________________________
ENDEREÇO____________________________________________
CIDADE________________________________________________
BAIRRO _______________________________________________
CEP______________ESTADO______DDD TELEFONE_________
IDADE_____CPF______________________RG________________
E-mail__________________________________________________

Submeto-me ao Regulamento do Salão


Nome do responsável pela inscrição______________________________




Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________



Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________


Essa Ficha deverá ser colada na obra

Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________


Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________


Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________


Essa Ficha deverá ser colada na obra

ARTISTA_____________________TÉCNICA______________
TÍTULO DA OBRA___________________________________
DIMENSÕES (cm___________________________________
VERTICAL_______________HORIZONTAL______________
PROFUNDIDADE__________________________________
VALOR DA OBRA__________________________________
ANO DE EXECUÇÃO_______________________________

FECAN É O I FESTIVAL DE MÚSICA AFRO BRASILEIRA

FECAN 2012
I FESTIVAL DE MÚSICA AFRO BRASILEIRA


CAPÍTULO I
OBJETIVOS
Art. 1 - O I Festival de Música Afro-brasileiro, a ser realizado na cidade de Montes Claros –MG,dias 18,19 e 20 de Maio de 2012 em Montes Claros - Minas Gerais. Esse Festival visa revelar novos talentos e valorizar a cultura Afro-brasileira.

CAPÍTULO II

AS INSCRIÇÕES

Art.2 – Poderão participar do festival compositores, cantores e músicos de quaisquer nacionalidade.
Art.3 – As canções apresentadas deverão ser inéditas e acompanhadas com algum tipo de instrumento cuja origem seja ou descende da África; como por exemplo: tambores, atabaques, berimbau, etc.

Art.4- As inscrições deverão ser realizadas no blogger http:tamboresdosmontes.blogspot.com ou http:fecan2011blogspot.com

Link Inscrições FECAN 2012
O envio de material referente para Hilário Bispo rua Timbiras 200 Melo
Cep 39401-069 Montes Claros MG. Serão aceitas inscrições cuja a data de carimbo dos correios não sejam posterior a ( colocar a data).

Art. 5 – Não haverá taxa de inscrição,para o primeiro Festival de Música do FECAN 2012


Art. 6 – Para se inscrever no festival, os participantes devem acessar o blogger (inscrição)depois de feita sua inscrição via blogger, enviar cópia de documento de identidade ( RG ou Passaporte ); - letra da música; - um CD ou DVD com a gravação da música; - uma declaração cedendo os direitos de som e imagem em sua participação do I Festival de canções Afro – brasileira; para o endereço conforme Art( 4 )

Art. 7 – Os candidatos serão submetidos a uma seleção prévia da Comissão Organizadora , por meio de letra , CD ou DVD. As gravações e filmagens utilizadas devem ter sido feitas especialmente para o festival.

Art. 8 – Os candidatos selecionados serão notificados através de correspondência via carta ou e-mail pela organização do festival.


Art. 9 – O material encaminhado será devolvido aos candidatos.


CAPITULO III


APRESENTAÇÃO DOS CANDIDATOS

Art. 10 – Os candidatos selecionados na seleção prévia devem apresentar-se para o sorteio da ordem de apresentação no dia 15 às 14h, no local do evento . A ausência do candidato nesta apresentação será considerada como desistência.

Art. 11 – Os músicos terão direito da passagem de som e reconhecimento de palco no período de 40 minutos, onde a comissão organizadora estabelecera os respectivos horários.


CAPÍTULO IV

TRANSPORTE E ALOJAMENTO

Art. 12 – Os músicos devem arcar com sua própria despesa de transporte, alojamento e alimentação.

CAPÍTULO V


APRESENTAÇÃO


Art. 13 – As apresentações serão no local tal, sendo abertas ao público.


Art.14 – A músicas apresentadas deverão ser executadas de memória.


Art. 15 – Cada música terá o tempo de 10 minutos de apresentação no palco.


CAPÍTULO VI


O JÚRI



Art. 16 – O júri do festival será composto por cinco músicos de renome na área da música.

Art. 17 – As decisões do júri têm caráter soberano e inapelável.



CAPÍTULO VII



PREMIAÇÃO



Art. 18 – Os prêmios serão distribuídos da seguinte forma:


1 lugar – produção do CD


2 lugar – Produção do CD


3 lugar – Produção do CD



CAPÍTULO VIII


COMISSÃO ORGANIZADORA


Art. 19 – O Festival é organizado por Hilário Bispo,coordenador do FESTIVAL DE CULTURA E ARTE NEGRA FECAN 2012 , que manterá uma comissão organizadora responsável pela formação do grupo de pré-seleção, do júri e pelos demais procedimentos relativos ao festival.


Art. 20 – A comissão organizadora manterá os candidatos selecionados informados de todos os procedimentos relativos ao festival .


Art. 21 – Os casos não previstos no regulamento serão resolvidos pela Comissão Organizadora, cujas decisões são soberanas e inapeláveis.

Comunicação apresentada na semana acadêmica do FECAN 2011
RELIGIÃO E RITO: estudo comparativo da prática de benzeções entre católicos e umbandistas na cidade de Varzelândia/MG.

Angela de Santana Rocha

Vivemos em um mundo plural no qual culturas diversas se encontram, se interpenetram, se fundem, de modo que tradições antigas convivem com novas expressões, nascidas dos encontros culturais. Essa pluralidade, porém, nem sempre é sinônimo de uma convivência harmônica na diversidade. O anseio de afirmar a identidade e o esforço por preservá-la em um meio cada vez mais heterogêneo, faz com que grupos culturais cheguem ao extremo da intolerância diante do outro, com quem divide o mesmo espaço, e abundam as posturas egocêntricas, ou etnocêntricas, que excluem, discriminam, menosprezam o outro, o “diferente”. A religião, enquanto fato social, não está á margem dessa realidade, vivendo um fervilhar constante de encontros, fusões, ressignificações e também conflitos.

No Brasil, o hibridismo religioso merece especial atenção. Desde o período colonial, povos diversos se encontraram no território brasileiro, dando origem a uma cultura tão miscigenada quanto o povo que deles nasceu. Imigrantes, colonizadores e escravos africanos se uniram aos nativos da terra para originar o híbrido “povo brasileiro” (FREIRE, 1977). Essas culturas tiveram papel preponderante na construção da religiosidade brasileira.

O Catolicismo, religião imposta pelos colonizadores, não atingiu completamente o seu objetivo de extinguir as “crenças” dos nativos e dos escravos e acabou, no meio popular, incorporando elementos destas. Assim, o Catolicismo Oficial, controlado e ensinado pela Instituição religiosa, passou a conviver com uma forma híbrida da religião, o chamado “Catolicismo Popular”. E, mais tarde, com uma diversidade de novas expressões religiosas, que se apropriaram de elementos católicos sem, no entanto, serem de fato católicas, tais como as religiões afro-brasileiras.

Estas novas expressões religiosas se sobressaíram em meio ao povo mais que o Catolicismo oficial, cresceram e se espalharam por todo o Brasil. Híbridas por natureza, sofreram ainda transformações de região para região, seguindo a heterogeneidade do território brasileiro, no qual cada região encerra particularidades geográficas, econômicas, sociais e também culturais, embora haja semelhanças devido á raiz comum: a cultura brasileira.

Sobrevivendo vigorosas na religiosidade popular, e transmitidas de geração a geração, essas expressões religiosas chegaram aos dias atuais e, longe de entrar em atrito com o mundo moderno, com ele se familiarizam, pois sua natureza sincrética imprime-lhes uma abertura ao novo que não estranha a tendência à hibridização que o intenso encontro de culturas tem provocado nas sociedades atuais.

Entretanto, sabemos que, ao longo da História, o Catolicismo institucionalizado considerou diabólicas todas as práticas espirituais que não correspondiam aos parâmetros do Cristianismo erudito nem a eles se agregavam. Tal atitude, gestada no meio eclesiástico desde os tempos medievais e disseminada em meio ao povo, foi adotada também pelos cristãos protestantes após a Reforma Religiosa, fazendo com que os costumes e crenças de diversos povos fossem vistos como culto ás trevas e ao “maligno”. Essa postura permaneceu arraigada na mentalidade cristã/católica, fazendo com que ainda hoje, ocorra a demonização do “outro”, do “diferente”. É o que acontece em relação às religiões de matriz africana, e, em muitos aspectos, ao próprio Catolicismo popular. Muitas práticas e crenças do povo são vistas como “coisa do demônio”.

Às divergências de interpretação dos símbolos sagrados acrescenta-se, no caso das religiões de matriz africana, o estigma do elemento negro. Segundo Santos (2002), o africano, além de arrancado de sua pátria, privado de sua liberdade e expropriado de sua cultura e religião, foi historicamente construído sob o estereótipo de constituir uma raça inferior, de ser um elemento degenerado e degenerador na sociedade, símbolo da negatividade, das trevas, do demoníaco, da perversão. O intuito de tal conceito era justificar a escravização dos negros pelos europeus e impedir uma ascensão libertadora dos mesmos. Ainda nos dias atuais observa-se que o racismo gerado desde o período colonial contra os negros permaneceu arraigado na mentalidade do brasileiro, tendo como uma de suas manifestações a assimilação das religiões de matriz africana com práticas demoníacas.

Essa mentalidade fomenta a intolerância religiosa, o que constitui uma contradição em um solo sincrético e em um país que se declara laico, ou seja, aberto democraticamente a todas as confissões religiosas. A Intolerância religiosa brasileira se manifesta, sobretudo, por meio da violência simbólica, através, por exemplo, de pesados ataques verbais de autoridades cristão/católicas contra as religiões de matriz africana e contra as crenças populares, consideradas espiritualidades errôneas, inválidas, inferiores ou demoníacas. A violência simbólica é evidenciada também pelo menosprezo e/ou marginalização sofridos pelos grupos religiosos mencionados, e pela visão negativa da sociedade em relação aos seus adeptos, tornando-os alvo de discriminações, zombarias, caricaturas, quando não tem a sua religiosidade esvaziada de sentido e reduzida a mero folclore.

Não obstante, nas terras do sertão norte-mineiro perdura a herança dos antepassados, que se construíram por meio de suas próprias forças e encontraram na fé um aliado para sobreviver à uma realidade hostil. Nos dias atuais, pensamento mágico-religioso convive com os avanços da modernidade, e entre as muitas crenças e práticas espirituais, perdura no meio popular o ato de benzer: tanto católicos quanto umbandistas recorrem ás orações com os ramos para solucionar problemas orgânicos e espirituais. As benzeções constituem, portanto, um elemento comum ao Catolicismo popular e à Umbanda, o que convida estas religiões ao diálogo e à superação de suas divergências à partir do reconhecimento de sua origem comum no ethos popular sertanejo.

A violência de cunho religioso, seja ela física ou simbólica, constitui uma auto-violência, pois existe entre diversas manifestações religiosas um alto grau de parentesco, quando não uma origem comum, sobretudo se estas são gestadas num mesmo contexto sociocultural, como é o caso do Catolicismo popular e da Umbanda no Sertão norte-mineiro.

Referências

FREIRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1977.

SANTOS, Gislene Aparecida dos. A invenção do “ser negro”: um percurso das idéias que naturalizaram a inferioridade dos negros. – São Paulo : Educ/Fapesp ; Rio de Janeiro : Pallas, 2002.



[1] Acadêmica do 5º período do curso de Ciências da Religião na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes.

A (DES) CONSTRUÇÃO DO SER NEGRO NA ERA MODERNA À PARTIR DO ILUMINISMO

Comunicação apresentada na semana acadêmica na 6ª edição do FECAN


A (DES) CONSTRUÇÃO DO SER NEGRO NA ERA MODERNA À PARTIR DO ILUMINISMO

Luciano Rodrigues Correia

No século XVIII, eclodia na Europa o Iluminismo trazendo consigo novos paradigmas para a humanidade. Segundo LARA (2001; p.68), mais do que um sistema filosófico que culminou no nascimento da ciência moderna, o Iluminismo foi um “movimento de grande excitação emocional”, pois marcou o momento em que pensamento humano libertava-se em definitivo do domínio eclesial e ganhava a amplitude aparentemente ilimitada da razão. A partir de então nasceriam as ciências e as concepções antropocêntricas de mundo, e cresceria uma espécie de euforia racional disposta a desmistificar a existência e estabelecer novas concepções de homem. E este homem concebido pelos intelectuais iluministas, tinha direitos inalienáveis tais como o progresso, a liberdade, a igualdade e a felicidade. Esse conceito de ser humano livre, somado a outros fatores, tais como os interesses do capitalismo nascente, levou os apaixonados intelectuais iluministas a rejeitarem qualquer forma de trabalho escravo. Porém, esses intelectuais eram europeus, brancos, geralmente filhos das mais apuradas elites européias, e tinham arraigadas dentro de si uma visão etnocêntrica de mundo. Às suas reflexões acerca da humanidade, somou-se a busca por meios de atestar racional e cientificamente a excelência da raça branca e sua superioridade frente às demais etnias do mundo. Surge, assim, uma dualidade, a respeito da qual escreve Santos (2002; p.15):

Em alguns momentos temos a conjunção das noções de riqueza, progresso e felicidade, lei natural e direito natural; em outros, o novo conceito de homem e suas determinações causais/ biológicas que entram em conflito com a idéia de progresso; e, por último, a noção de utilidade, tomada como uma justificativa para a servidão ou para as desigualdades sociais. Todos estes aspectos, que ocupavam as mentes do século XVIII, estabeleciam, se não um paradoxo, ao menos uma dualidade (...).

O negro, que desde os primórdios da era colonial era visto como um ser pré- humano, animalesco, diabólico, podendo por isso ser escravizado, é promovido pelos iluministas à condição de gente, a ser humano igual a qualquer outro em espécie, dignidade e direito. Mas, contraditoriamente, os mesmos iluministas, buscando explicações para a cor da pele e a forma de organização sociocultural do negro, tão diferente da européia, desenvolveram uma série de teorias racistas que o colocaram na base do desenvolvimento humano, tanto biológica quanto intelectualmente, estando os europeus no topo desse desenvolvimento. Uma mentalidade evolucionista e hierarquizante ao lado de teorias capitalistas servira de justificativa aos “superiores” europeus para explorar no regime escravocrata a força de trabalho dos “inferiores” negros.

Segundo Santos (2002), o homem moderno se via diante de um dilema: como conciliar a idéia de lei natural, direito natural, progresso, riqueza e felicidade enquanto atributos inalienáveis de todo e qualquer ser humano – o que rompia com o sistema de produção escravista – com os interesses da economia capitalista emergente, uma vez que o escravo, ou ex-escravo teria, enquanto ser humano, os mesmos direitos que qualquer cidadão na nova ordem social? E como encarar o escravo, ou o ex-escravo, como verdadeiramente igual se a ciência emergente (e evolucionista) hierarquizava os homens segundo critérios biológicos que determinavam que os negros fossem menos capazes e inferiores ao europeu? O resultado dessa dualidade foi o desenvolvimento pelo Iluminismo de ideologias que:

(...) inventaram o “ser do negro” fazendo com que se considerasse impossível pensá-lo fora das teias de idéias tecidas ao redor de sua natural inferioridade ou de seu exotismo. Por isso, essa invenção, totalmente datada, apresenta-se como ontologia de um ser que sempre, sem começo nem fim, foi inferior, foi sombra e negatividade. (SANTOS, 2002; p.17)

Assim, o Iluminismo desenvolveu teorias que ao mesmo tempo construíam e destruíam o ser humano negro, condenavam e justificavam a escravidão. Essas teorias configuraram a visão do homem moderno a respeito dos negros e prevaleceram na sociedade. No meio popular, caíram no desconhecimento, mas o seu efeito perverso, o racismo, permaneceu arraigado na mente das pessoas, e o negro continua até os dias atuais sendo vítima de uma série de infundados preconceitos.

Consideração final

Atualmente, muito se tem discutido sobre a pessoa do negro na sociedade e a injustiça que esta etnia vem sofrendo ao longo da História, inicialmente com a escravidão e a demonização de sua cultura e posteriormente com o racismo que há séculos vem fazendo com que o negro seja visto como inferior, símbolo de atraso e marginalização. Busca-se a superação do preconceito racial, mas muitas dessas discussões acabam reduzidas a ecos estéreis de eventos e debates realizados uma vez por ano em datas específicas, como o dia da abolição da escravatura ou da consciência negra.

O negro continua, em muitos aspectos, reduzido ao personagem histórico do período colonial: o excluído, o satânico, o amoral, o pervertido. Embora o negro venha conquistando cada vez mais o seu espaço na sociedade, ainda não é difícil encontrar pessoas que menosprezam outras pelo simples fato de estas serem negras.

A superação de qualquer problema passa pelo conhecimento de suas origens. Tornar conhecido o processo de gênese do preconceito racial ao longo da História é ampliar as possibilidades de uma reflexão mais crítica e eficaz sobre o assunto, capaz de levá-los a construir uma visão igualitária do ser humano negro.

Referências:

LARA, Tiago Adão. A Filosofia Ocidental do Renascimento aos nossos dias. – Petrópolis : Vozes, 2001.

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. – São Paulo : Brasiliense, 1994.

SANTOS, Gislene Aparecida dos. A invenção do “ser negro”: um percurso das idéias que naturalizaram a inferioridade dos negros. – São Paulo : Educ/Fapesp ; Rio de Janeiro : Pallas, 2002.



[1] Estudante do Curso de Filosofia da faculdade Phênix de Goiânia/GO; E-mail.correialuciano@gmail.com

[2] O termo Iluminismo, conforme explica o autor, provém da utilização da luz como símbolo do movimento. A luz representava a razão humana que deveria iluminar as trevas da ignorância vividas pelo homem dos séculos anteriores, cujo pensamento era controlado pela Religião. (p.69)

[3] O etnocentrismo europeu, também conhecido como eurocentrismo, consiste, segundo a definição de ROCHA (1994; p.07) numa visão de mundo pela qual a Europa é tomada como centro e todos os outros povos do mundo são pensados e julgados através dos seus valores, seus modelos, sua concepção de existência.