terça-feira, 29 de dezembro de 2009

LIBERDADE RELIGIOSA - PROJETO DE LEI

Muito se tem discutido nos recentes dias a respeito do Acordo Internacional firmado pelo Brasil e a Santa Sé, assinado pelo Presidente da República quando em visita ao Estado do Vaticano e há poucos dias aprovado pelo Congresso Nacional, como de praxe, nestas circunstâncias, corroborado na letra constitucional, em especial o art.49, ao tratar da competência do Congresso Nacional, quando lhe é atribuído o poder de resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais.Comenta-se de inconstitucionalidades, as mais diversas, constantes do texto do citado Acordo alegando-se afronta ao princípio do Estado laico, prioridade no trato com a religião católica, dentre uma série de outros assuntos paralelos. Em que pese a juridicidade dos argumentos de que se utilizam os comentaristas, devo trazer a discussão outros aspectos que julgo sobremodo importantes, sendo de se ressaltar que a existência do citado Acordo, apesar de seus críticos, cria o ambiente ideal para se discutir, a necessidade de lei que efetivamente regule alguns princípios importantes que possam, de forma clara e evidente garantir a liberdade de culto no Brasil. Na verdade, este Acordo com a Igreja Católica, tem, sobre este aspecto, seus méritos, e significa o primeiro passo de um caminho deveras importante para que em definitivo se assegure a liberdade religiosa no Brasil.Encontra-se no Congresso Nacional o projeto de Lei 5.598, que com este objetivo busca regulamentar a respeito do livre exercício da crença. Em uma avaliação sucinta julgo importante algumas modificações, que entendo poderão ser mais eficientes, conforme os comentários que seguem.PROJETO DE LEI 5598, DE 2009.Dispõe sobre as Garantias e Direitos Fundamentais ao Livre Exercício da Crença e dos Cultos Religiosos, estabelecidos nos incisos VI, VII e VIII do artigo 5º, e no §1° do artigo 210da Constituição da República Federativa do Brasil.Art. 1º Esta lei estabelece mecanismos que asseguram o livre exercício, a proteção aos locais de culto e suas liturgias e a inviolabilidade da crença no país, regulamentando os incisos VI, VII e VII do artigo 5º e o § 1º do artigo210 da Constituição da República Federativa do Brasil.Parágrafo Único. A liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável e garantida a todos em conformidade com a Constituição da República Federativa do Brasil, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o direito internacional aplicável e a presente lei.COMENTÁRIO: Tendo em vista a dimensão que se quer para a referida lei, (garantia da liberdade religiosa), é sobremodo importante alinhar o texto à Constituição e as normas legais de âmbito internacional. Daí importante se faz a inserção deste parágrafo único.
Art. 2º É reconhecido às organizações religiosas direito de desempenhar suas atividades, garantindo o livre exercício de suas atividades, observado o ordenamento jurídico brasileiro.COMENTÁRIO: A opção pela utilização do termo organizações religiosas em substituição ao termo instituições religiosas deve-se ao fato de que, já o nosso Código Civil, consagrou o termo organizações religiosas, dessarte, a manutenção desta terminologia evitará certamente a formação de eventuais dificuldades conceituais futuras.
Art. 3º É reconhecida pelo Estado Brasileiro a personalidade jurídica das organizações religiosas desde que não contrarie as exigências constitucionais e as leis brasileiras.§1º As organizações religiosas podem livremente criar, modificar ou extinguir suas instituições inclusive as mencionadas no caput deste artigo.§2º A personalidade jurídica das organizações religiosas é reconhecida pela República Federativa do Brasil mediante a inscrição no respectivo registro do ato de criação, vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro do ato de criação, desde que atendidas as disposições da legislação brasileira, devendo também ser averbadas todas as alterações por que passar o ato.COMENTÁRIO: A ressalva se torna imperiosa na medida em que se resguarda o princípio da legalidade e da ordem pública. Doutra forma, pode-se estar permitindo a legalização de entidades religiosas com práticas de culto que atentam a boa ordem, os bons costumes, e a boa prática social, gerando dificuldades de complexa solução.
Art. 4º As atividades desenvolvidas pelas pessoas jurídicas reconhecidas nos termos do artigo 3° gozarão de todos os direitos, imunidades, isenções e benefícios outros atribuídos às demais entidades de natureza semelhante previstos no ordenamento jurídico brasileiro, atendidos os requisitos e demais obrigações exigidos pela legislação brasileira.COMENTÁRIO: As inserções neste artigo consideradas buscam simplesmente uma maior abrangência na aplicação dos benefícios fiscais, dando a lei, a dimensão teleológica constante da imunidade constitucional garantida aos templos de qualquer culto. 
Art. 5º O patrimônio histórico, artístico e cultural, material e imaterial das organizações religiosas reconhecidas pela República Federativa do Brasil, assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constitui parte relevante do patrimônio cultural brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade das organizações religiosas que sejam considerados pelo Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico.§1º A finalidade própria dos bens eclesiásticos mencionados no caput deste artigo deve ser salvaguardada pelo ordenamento jurídico brasileiro, sem prejuízo de outras finalidades que possam surgir da sua natureza cultural.§2º As organizações religiosas comprometem-se a facilitar o acesso a elas para os estudiosos, pesquisadores, cientistas sociais e demais intelectuais, salvaguardadas as suas finalidades religiosas e as exigências de sua proteção e da tutela dos arquivos de reconhecido valor cultural.COMENTÁRIO: O fenômeno religioso, como objeto de estudo, deve estar afeto aos intelectuais das áreas das ciências humanas, em especial sociologia, teologia e demais áreas correlatas. Sem dúvida não deve ser objeto de opiniões despojadas de fundamento científico, o que exporia as práticas de fé, as mais impróprias e perfunctórias avaliações, sobremodo quando suportadas por leigos.
Art. 6º A República Federativa do Brasil assegura, nos termos de seu ordenamento jurídico, as medidas necessárias para garantir a proteção dos lugares de culto das organizações religiosas e de suas liturgias, símbolos, imagens e objetos culturais, tanto no interior dos templos como nas celebrações externas, contra toda a forma de violação, desrespeito e uso ilegítimo.§1º Nenhum imóvel, dependência ou objeto vinculados às organizações religiosas, observada a função social da propriedade e a legislação, pode ser demolido, ocupado, penhorado, transportado, sujeito a obras ou destinado pelo Estado à entidades públicas de outro fim, saldo se por fundamentada motivação de utilidade pública, ou por interesse social, nos termos da legislação brasileira.COMENTÁRIO: A alteração que se insere no texto do §1º, busca assegurar a liberdade religiosa, através da proteção do patrimônio da organização religiosa. Esta é a real dimensão assegurada constitucionalmente ao exercício da atividade religiosa, pois que somente protegendo ao patrimônio da organizações religiosas, estaremos resguardando, definitivamente, os templos de qualquer culto.Em que pese a importância e fundamento de tal segurança jurídica, assegura-se ainda assim o super direito do bem comum, inerente a ação do estado no exercício de sua atividade essencial. Dessarte, observa-se esta circunstância e acata-se as decisões do poder do Estado, desde que observado o princípio da publicidade dos atos públicos, sejam as decisões da autoridade pública devidamente fundamentadas.§2º É livre a manifestação religiosa, através da expressão e divulgação pela palavra, imagem, meio eletrônico ou qualquer outro veículo de divulgação, em logradouros públicos, e privados com ou sem acompanhamento musical, desde que não contrariem a ordem e tranqüilidade pública.COMENTÁRIO: As alterações aqui sugeridas buscam salvaguardar as manifestações religiosas através de todos os meios de veiculação da informação hoje existentes, hoje não somente pela divulgação da palavra, mas também pela divulgação da imagem, pela conexão simultânea destas, e atualmente pela utilização dos meios eletrônicos e de satélites, no mundo global de nossos dias, com expressiva importância estrutura mundial da internet.
Art. 7º A República Federativa do Brasil se empenhará na destinação de espaços para fins religiosos, que deverão ser previstos nos instrumentos de planejamento urbano a ser estabelecido no respectivo Plano Diretor.
Art. 8º As organizações religiosas e suas instituições poderão, observadas as exigências da legislação competente, prestar assistência religiosa aos fiéis assistidos em estabelecimentos de saúde, de assistência social, de educação ou similar, ou detidos em estabelecimento prisional ou similar.COMENTÁRIO: As sugestões efetuadas buscam uma redação mais direcionada no sentido de garantir a assistência religiosa em situação específica de necessidade do fiel, assegurando, contudo, a manutenção das regras restritivas impostas pela Administração, sobremodo visando a segurança destes recintos especiais.
Art. 9º Cada organização religiosa, representada por capelães militares no âmbito das Forças Armadas e Forças Auxiliares, constituirá organização própria, assemelhada ao Ordinariato Militar do Brasil, com a finalidade de dirigir, coordenar e supervisionar a assistência religiosa aos seus fiéis, por meio de convênio com a União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Parágrafo Único. È assegurada igualdade de condições, honras e tratamento a todos os credos religiosos.COMENTÁRIO: As alterações sugeridas buscam facilitar a interpretação do texto. Os elementos essenciais a existência do Estado Brasileiro, que o representam nas suas diversas manifestações de poder público, se materializam através dos governos da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, entidades de direito público que traduzem a dinâmica do Estado. Dessarte, é de melhor técnica que se detalhe os órgãos de poder, pois através deles que se materializarão as ações do Estado, mediante Convênios. 
Art.10º As organizações religiosas poderão fundar instituições de ensino, em todos os níveis de escolaridade, a serviço da sociedade, em conformidade com os seus fins, e atendidas as determinações da legislação educacional.COMENTÁRIO: As alterações sugeridas no artigo 10º, buscam concentrar somente no caput do artigo toda a dimensão que se quer para o assunto educação, em essencial, garantir às organizações religiosas o direito de fundar instituições de ensino.
A atividade educacional é em sua totalidade regulamentada, de maneira que os demais parágrafos constantes do projeto originário são plenamente dispensáveis, pois é da competência do Ministério da Educação regular o ensino, que efetivamente o faz, nos seus diversos níveis de escolaridade, e nas suas diversas manifestações de intelectualidade e saber.
Art. 11º O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica da cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e legislação complementar, sem qualquer forma de proselitismo.COMENTÁRIO: Sugerimos a inclusão do termo legislação complementar, e não “outras leis vigentes”, sobremaneira pelo fato de que a legislação educacional, por sua própria característica se materializa pela manifestação dos órgãos reguladores, e não pelo legislativo. Dessarte, o termo legislação complementar é mais abrangente incorporando, não somente lei, mas as diversas manifestação da Administração no segmento da Educação.
Art. 12º O casamento celebrado em conformidade com princípios religiosos prolatados por organizações religiosas legalmente constituídas em conformidade com a legislação brasileira, desde que atendidas todas as determinações constantes da legislação civil pertinente, produzirá efeitos civis, a partir da data de sua celebração, cumpridos tempestivamente, os requisitos de legais de registro.Parágrafo Único. É direito do crente, em conformidade com as normas da organização religiosa, a comemoração pública ou privada das festividades religiosas, bem como a celebração de seu sepultamento conforme os ritos da própria religião professada.COMENTÁRIO: Sugerimos substancial alteração no texto deste artigo, tendo em vista que o mesmo está voltado no interesse dos fiéis da Igreja Católica, haja vista, sobretudo que condiciona a legalização do casamento que for celebrado em conformidade com o direito canônico.Certamente a redação sugerida é mais técnica, de aplicação a todas as práticas religiosas legalmente manifestas no Brasil, asseguradas as determinações essencial para a juridicidade do Ato, em conformação com a legislação brasileira regulamentar.
A inserção do parágrafo único é essencial na medida em que busca-se garantir o exercício da prática religiosa em suas manifestações festivas, bem como, garante-se o direito do exercício póstumo da religiosidade, em garantia de manifestação em vida pelo de cujus, da prática religiosa no seu sepultamento.
Art. 13º É garantido, como essencial à atividade religiosa, o segredo do ofício sacerdotal reconhecido em cada organização religiosa.COMENTÁRIO: A alteração sugerida assegura a manutenção do sigilo do ofício sacerdotal como elemento essencial à prática da ação ministerial e, portanto, essencial a atividade religiosa propriamente dita.
Ademais sugerimos a exclusão do termo “inclusive o ofício da confissão sacramental”, por traduzir prática específica da Igreja Católica, descaracterizando o elemento de generalidade da letra jurídica, sobremodo o texto de lei.
O que é essencial é o direito intocável ao sigilo sacerdotal, este abrange a privacidade da confissão sacramental, o que torna tecnicamente reprovável a sua evidenciação em separado no texto legal.
Art. 14º Às organizações religiosas e demais instituições religiosas, sem fins lucrativos, a elas vinculadas, que exerçam atividades social, educacional, editorial, científica, literária, artística e teológica, é assegurado imunidade de impostos sobre o patrimônio, renda e serviços vinculados com as suas finalidades essenciais em conformidade com a Constituição brasileira.
COMENTÁRIO: As alterações sugeridas na redação do art. 14º busca concentrar no caput do artigo a aplicação da imunidade tributária a todos os segmentos essenciais e inerentes à manifestação fé de todo e qualquer segmento religioso.
Assim, ao se determinar o rol de beneficiários, não ficamos restritos aos templos, mas contemplamos o patrimônio da organização religiosa em suas variadas manifestações, pois, todas, se destinam ao aperfeiçoamento e à divulgação da religiosidade. Assim, contempla-se as editoras (que divulgam a palavra escrita e as linhas teológicas corroboradoras do seu entendimento e prática de fé); as atividades sociais (exteriorização da religiosidade através da prática de boas obras); as atividades educacionais (que contempla o desenvolvimento da intelectualidade delineado pela ótica da religiosidade); as manifestações artísticas (certamente um dos maiores patrimônios da humanidade se identifica na preciosidade das obras artísticas de cunho religioso, seja nas belas artes, seja na arquitetura e demais manifestações de genialidade e talento fundamentadas na convicção religiosa).
Resumidamente a redação proposta traz em seu conteúdo o objetivo de se garantir através de lei a efetiva dimensão da imunidade tributária constitucionalmente assegurada, cuja interpretação deve necessariamente ter essência teleológia, como a adequada metodologia hermenêutica que contempla a verdadeira abrangência e aplicabilidade do conteúdo da norma constitucional.
Art. 15º A relação laboral de natureza religiosa estabelecida entre os ministros ordenados ou fiéis consagrados e as organizações religiosas, não gera vínculo empregatício amparado pela legislação trabalhista, exceto se caracterizado desvirtuamento da finalidade religiosa.
Parágrafo Único. As atividades de natureza apostólica, pastoral, litúrgica, catequética, evangelística, missionária, prosélita, assistencial, de promoção humana e semelhantes poderão ser realizadas a título voluntário, observado disposto na legislação brasileira.
COMENTÁRIO: A proposta do art. 15º busca claramente definir que o trabalho sacerdotal decorre de uma convicção religiosa, não tem fundamento econômico, e portanto de natureza alheia ao direito do trabalho celetista.
O parágrafo único tem por objeto proporcionar que a relação de labor, quando executada com objetivo de atividade voluntária, possa ser dessa maneira expressamente manifesta através de contrato próprio de serviço voluntário.
Art. 16 Atendidas as disposições legais do Estatuto do Estrangeiro, os representantes jurídicos das organizações religiosas, no exercício de seu ministério e funções religiosas, poderão convidar sacerdotes e membros de institutos religiosos, que não tenham nacionalidade brasileira, para servir no território de sua jurisdição religiosa, e pedir às autoridades brasileiras, em nome deles, a concessão de visto para exercer atividade ministerial no Brasil.
Parágrafo Único. Poderão ser concedidos, conforme a apreciação individual de cada caso, vistos temporário ou permanente, fundamentados nas motivações do caput.
COMENTÁRIO: ALTERAÇÕES NO ART. 16º
As sugestões propostas para este artigo busca permitir o fluxo internacional dos clérigos, assegurando, todavia, as disposições legais específicas da legislação brasileira aplicada aos estrangeiros que pretendem entrar em território nacional. A movimentação dos religiosos devem necessariamente estar submetidas aos princípios da soberania nacional.
Art. 17 A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, no âmbito de suas competências, e as organizações religiosas poderão celebrar convênios sobre as matérias de suas atribuições tendo em vista o atendimento do interesse público.
COMENTÁRIO: A sugestão aqui proposta buscam a manutenção de um texto mais técnico sob o aspecto da terminologia jurídica.
Art. 18 A violação à liberdade de crença e à proteção aos locais de culto e suas liturgias sujeita o infrator às sanções previstas no Código Penal, além da respectiva responsabilização civil pelos danos provocados.
Art. 19 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O genocídio dos negros na Bahia

Fonte: Fazendo Media
O genocídio dos negros na Bahia
Hamilton Borges recebeu o Fazendo Media na portaria da Câmara Municipal de Salvador, ao lado do Pelourinho, onde ele desenvolve parte do seu trabalho, mas sem vínculo partidário. Atua também na campanha “Reaja ou será morto!”, cujo propósito é lutar pela vida das populações negras e pobres no estado da Bahia, hoje vítimas de um processo genocida instalado pela política de segurança pública. Na entrevista Hamilton fala sobre esse cenário, dando exemplos concretos, diz que não vê mudanças com a ascensão do PT ao poder, comenta sobre a atuação da mídia nesse contexto e explica a atuação da Reaja. Uma boa reflexão nas vésperas da consciência negra no Brasil.
Como é que você começou a se envolver com a militância nos movimentos sociais?
Eu nasci num bairro aqui chamado Curuzu, é o bairro mais negro do mundo, só perde para o Harlem. Ele fica na Liberdade, uma região de uma história de luta negra. A militância comigo se deu desde sempre, no bloco Ilê Ayê, recentemente perdemos até a sua matriarca que é Mãe Hilda. O bloco Ilê Ayê sempre teve uma perspectiva de dizer que nós éramos negros e tínhamos que ter orgulho disso. Depois eu ingressei no Movimento Negro Unificado (MNU), uma organização nacional que me formou, criada em 78. Saí do movimento no ano passado, mas devo a ele toda a minha formação e os princípios básicos de luta que eu congrego.
A minha experiência de vida dentro da comunidade do Curuzu, uma comunidade muito pobre, foi o fundamento para a radicalidade que a gente acha importante imprimir em qualquer luta: seja a luta racial, de gays e lésbicas, das mulheres, por moradia. Porque eu vi ao longo de mais de 40 anos vários irmãos meus serem destruídos, encarcerados e apodrecidos em vida dentro dessa cidade. Salvador é a pior cidade do mundo para mim, não tem alegria nenhuma, o que você tem aqui é um cheiro de xixi desgraçado e um abandono do poder público.
Essa cidade é um laboratório de luta, aqui é onde nós estamos nas piores condições. Você olha aquele homem ali carregando aquele fardo de papel, é como se não tivesse lapso temporal, é como se o avô dele estivesse presentificado nele. É uma cidade desigual demais e apresentada para o mundo inteiro como um lugar alegre, em que os negros dominam: porra nenhuma, a gente só ofereceu à classe dominante branca dessa cidade o capital simbólico, mas não tem nada de retorno para nós.
Você é muito ligado à questão do extermínio da população jovem aqui, que bate necessariamente na questão negra. Eu queria que você falasse sobre isso.
Na verdade a gente bate numa concepção que não é discutir extermínio. Pelos números, pelos dados e pelo método que o estado brasileiro utiliza contra a gente, seja no Rio de Janeiro, em Salvador, São Paulo, até no Paraná, a gente já está numa situação de genocídio. Temos uma consciência de que a juventude negra é uma das principais vítimas, mas não são as únicas. O genocídio não está só relacionado à morte por bala, tem outras questões que dizem respeito a esse processo como a falta de atendimento a saúde.
Relacionando a questão da violência letal das armas com a saúde, nós nos deparamos em 2007 com a morte de um companheiro nosso, o Mc Blue, Clodoaldo de Sousa, 22 anos, que foi assassinado por um grupo de extermínio tolerado pela polícia aqui. Logo no primeiro mês do governo Wagner em 2007, a gente se deparou com uma coisa: o sobrevivente da matança de Nova Brasília, Cleber Álvaro, foi para o hospital central daqui e os princípios do SUS não o atingiram. Ele não teve integralidade no atendimento, ficou submetido a uma equipe médica que depois mandou ele pra casa sem curar, não foi colocado numa fisioterapia e até hoje ele tem seqüelas desse PAF (Projétil de Arma de Fogo). Ele é uma pessoa, mas vários jovens estão ficando imobilizados. Quando a bala não mata, imobiliza. Então uma outra coisa: a polícia aqui nessa cidade quando chega para matar, a gente está praticamente morto.
“A POLÍCIA AQUI NESSA CIDADE QUANDO CHEGA PARA MATAR, A GENTE ESTÁ PRATICAMENTE MORTO… A POLÍCIA É O ÚNICO BRAÇO DO ESTADO QUE ENTRA NAS NOSSAS COMUNIDADES… TODO PRESO NEGRO É UM PRESO POLÍTICO”
Em que sentido?
A polícia é o único braço do estado que entra nas nossas comunidades. A gente não tem comida, não tem emprego, não tem acesso aos bens e serviços culturais, a gente vive como uma certa anomalia perambulando pela cidade. É uma coisa tão ruim que a gente às vezes até introjeta esses valores que são os do racismo, da baixa auto estima, quando vê uma pessoa da chamada classe superior.
Entramos no debate de segurança pública em 2007, mas mais organizado aqui em Salvador, porque antes a gente já na experiência do MRU disse lá atrás em 78 que todo preso negro é um preso político. Então a gente sempre teve certeza de que atuar dentro do sistema prisional é uma necessidade dos negros.
O Reaja nasceu porque foi assassinado um jovem, Robson Silveira da Luz, então a gente sabia que a brutalidade policial tinha que ser atingida. Só que entramos numa perspectiva de conquistas simbólicas, você vê aí as pessoas louvando o estatuto da igualdade racial, setores do movimento negro, setores pelegos, a gente pode dizer com toda tranqüilidade: capitularam, se acovardaram diante da luta. Abraçaram o PFL, o DEM, por um estatuto que na verdade é esvaziado, desmelinguido, um estatuto para dizer que o governo faz alguma coisa e para negar a centralidade do debate que nós estamos querendo colocar nesse país que é o racismo. Para nós da Campanha Reaja, o centro da contradição desse país é o racismo. Se a gente resolver todos os outros problemas e não resolver o problema racial, vamos continuar dentro dessa guerra.
Você tocou em alguns aspectos na política, essa mudança do ACM para o PT com o Jaques Wagner teve algum avanço aqui na Bahia?
Nós já enterramos tantos mortos durante esse governo que se teve avanço não vimos. Do ponto de vista de segurança pública, que é o tema que a gente mais se debruça, você não pode chamar avanço. Por exemplo: em 2005, no auge do governo carlista, nas mãos de Paulo Souto, morreram entre janeiro e setembro 635 pessoas. Em 2007 enquanto todo mundo estava soltando bomba e rojão para o governo Wagner, nós dissemos que ele tinha de mudar a lógica de política de segurança e dizer qual que é o projeto. Eles não disseram e muito menos mudaram a lógica, pelo contrário, eles mantiveram os coronéis que sempre serviram de cão de guarda da turma de ACM e faziam o serviço sujo dele – colocaram esses oficiais na polícia militar.
Dentro da polícia civil continuaram os mesmos delegados que sempre fizeram grandes truculências. Para você ter uma idéia, na Confêrencia Nacional de Segurança Publica (Conseg), que foi essa farsa armada pelo governo federal, teve um debate em que participava uma mulher conhecida aqui como a delegada “miseravona de Itapuã”, que sempre serviu aos interesses de ACM. Tem uma polícia aqui conhecida como “polícia do sertão” que, no primeiro momento, foi treinada pelo coronel Mulle: o grande nome de ACM na repressão, por exemplo, em Coroa Vermelha. Ele comandou todos aqueles ataques em Coroa Vermelha em 2000, quando os movimentos sociais fizeram um protesto contra os 500 e por um outros 500. Então nós tivemos no ano passado mais de 2.300 pessoas assassinadas, sendo que dessas mais de 40% no ano.
Quase o dobro do Rio de Janeiro…
O dobro do Rio. Nós temos a polícia que mais mata, porque 40% dessas pessoas foram vítimas dos chamados autos de resistência, confrontos seguidos de morte com a polícia. A gente tem na Bahia uma licença para matar odiosa, nós temos declarações do secretário de segurança pública, que é um homem citado na “operação navalha”, tratava da Gautama, daquele empreiteiro que ganhou muito dinheiro, o Zuleido Veras – esse cara é citado, é um corrupto.
No mês de agosto, numa operação policial em que pretensamente traficantes assassinaram um policial conhecido como Ohara, que tinha métodos de investigação com tortura, que pagava propina aos traficantes. Ele deixou de pagar o dinheiro dele e mataram esse traficante, uma guarnição de mais de cem policiais invadiram a comunidade Canabrava, retiraram do colo de uma mãe três filhos e assassinaram esses meninos. Foi ele quem disse numa chacina que teve no bairro da Paz “que nós vamos caçar esse bandido e se possível matá-lo”. Essa que é a lógica de segurança, não tem nenhuma diferença de Beltrame, é uma lógica nacional. Qual que é o problema? Aqui em Salvador não repercute, na Bahia.
“ESTÁ INSTALADA NO ESTADO DA BAHIA A PENA CAPITAL, AS PESSOAS ESTÃO MORRENDO, BASTA ESTAR VIVAS, BASTA SER NEGRO E SER POBRE PARA AS PESSOAS MORREREM AQUI NESSA CIDADE”.
Isso que eu ia te perguntar, como é a questão da mídia nesse cenário que você está contextualizando aqui na Bahia?
A mídia aqui tem uma assessoria especial dentro da secretaria de segurança pública. Você tem programas que são conhecidos nacionalmente, como o “Balanço Geral”. Aqui tem um programa “Na Mira”, que expõe os corpos de jovens negros assassinados, baleados, esquartejados todo o meio dia, então você tem uma lógica assim. Tem o negócio da política do medo e a secretaria de segurança pública faz isso com uma eficiência danada, hoje tudo é o traficante então tudo se justifica pelo tráfico de drogas.
Nós tivemos uma situação colateral dessa situação, esses incêndios (novembro/09) agora em Salvador, vamos por partes: a polícia invadiu uma comunidade em 2007, jovens estavam jogando futebol de madrugada na quadra, um deles saiu correndo e atiraram. Pegou na cabeça e matou, o jovem Djair, a comunidade de manhã pegou um ônibus e queimou, porque era a forma que ela tinha de se manifestar naquele momento. O governador disse assim: “não vamos permitir que se queime ônibus aqui em Salvador, porque aqui tem governabilidade”. Quer dizer, ele permite que matem pessoas inocentes, mas não permite que se vá para cima do patrimônio privado que são os ônibus. As pessoas ficam: ah o nosso ônibus. 
O ônibus não é público, ele é privado e é, inclusive, um péssimo ônibus.
Essa situação repercutiu, porque saiu na Carta Capital. A mesma coisa aconteceu agora, mataram um jovem de 13 anos em Águas Claras e a comunidade veio e queimou um ônibus. A partir daí se começou a queimar ônibus na cidade toda, se foi ou não facção criminosa, nós não sabemos: agora, não tem investigação para dizer se vão transferir ou não aquela pessoa, não tem o devido processo legal. Eles, por conta da política do medo, estão fazendo o que querem, matam as pessoas e dizem que tinham passagem. O fato de ter passagem pela polícia já significa que você pode ser morto: está instalada no estado da Bahia a pena capital, as pessoas estão morrendo, basta estar vivas, basta ser negro e ser pobre para as pessoas morrerem aqui nessa cidade.
É óbvio que isso está gerando um efeito colateral. As pessoas excluídas pobres que têm acesso a uma arma, afinal as armas e as drogas só chegam em nossas comunidades porque existem facções criminosas muito bem obrigado: acolhidas pelo DEM, pelo PFL e por pessoas que lutaram conosco durante tantos anos e quando ocuparam o poder estão fazendo pior. O presídio de Simões Filho, por exemplo, é a prova cabal de que este governo é um governo pelego que quem o encabeça negou toda a sua trajetória política. Todo o seu discurso foi por água abaixo, porque criar um presídio em área quilombola, de preservação ambiental, debaixo de mais de 16 dutos de gases que podem matar as pessoas que estão lá, e sem nenhum plano de contingência, isso é no mínimo um processo de fascismo; isso que nós estamos combatendo. Eu queria inclusive perguntar ao Tortura Nunca Mais qual é o diálogo que eles estão fazendo aqui na Bahia, porque o grupo deles está muito preocupado em garantir as indenizações para as vítimas de 64.
No Rio eles chegam junto no processo de segurança pública…
Mas aqui está querendo anistia para as vítimas de 64, enquanto várias famílias perderam seus entes queridos e precisam ser indenizadas, precisam ser reparadas pelo o que o governo faz. Essas organizações de brancos de direitos humanos aqui da Bahia se calaram diante do secretário de segurança pública na hora da abertura da Conseg. Diante de tantos mortos elas tinham a obrigação moral, ética, de escrever pelo menos uma nota sobre o que está acontecendo nesse país. Mas elas não falam nada, porque elas estão recebendo o seu dinheirinho lá no Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
O racismo não foi pauta na Conseg?
Foi pauta, teve organizações do movimento que achavam que tinham de disputar, eles disputam porque estão todos pensando nos cifrões. Nós dissemos o seguinte: vamos fazer o Enposp, um Encontro Popular pela Segurança Pública, para discutir uma outra segurança pública. Nós não queremos reformar a segurança, a gente quer outra sociedade: uma outra segurança pública só será possível com uma outra sociedade.
Como é na prática a atuação da Reaja?
Ela é vasta, amanhã (22/09) mesmo a gente vai numa reunião com a defensoria pública com várias esposas de presos de várias unidades: Simões Filhos, Serrinha e presídio de Salvador. Tem oito presos baleados no presídio de Lauro de Freitas, a gente vai lá para pedir um ofício na defensoria pública porque a gente não acredita mais no Ministério Público: não dão respostas, as instituições que deveriam nos defender não atuam na prática.
A ação da gente é de formação, de ação dentro das comunidades. A gente acredita ainda nas denúncias, não podemos fazer outra coisa. Estamos num processo nesses últimos meses de formação e informação para preparar um material para divulgar ao mundo o que está acontecendo aqui na Bahia. Com todo o risco que a gente possa correr, não fazemos isso para salvar ninguém e sim para si salvar. Não temos uma visão cósmica de que o mundo está sofrendo e a gente vai salvá-lo: temos a consciência de que nós estamos nessa bolha e a gente quer estourá-la, somos desse jeito.

MÍDIA & PRECONCEITO

"Sim, é necessária uma nova Abolição"
Por Milena Almeida e Angélica Basthi em 15/12/2009
Cabe lembrar que `nova Abolição´ é um lema que, apesar de ter sido elaboradona década de 1920, não está totalmente obsoleto.
Os afro-descendentes ainda se encontram em posição de desvantagem em relação às pessoas brancas no Brasil." (Petrônio Domingues)Em 27 de outubro, o professor-doutor Muniz Sodré publicou um artigo no site Observatório da Imprensa cujo título era "É necessária uma nova Abolição?". No artigo, Sodré critica o tratamento tendencioso da grande imprensa na cobertura sobre Ações afirmativas – mais especificamente as cotas universitárias – e questiona a opção dos "jornalões" em favorecer a publicação de conteúdo contrário ao sistema. Ocorre que, no dia 03 de novembro, Demétrio Magnoli, colunista de veículos conceituados como a revista Época e o jornal Folha de S. Paulo, publicou uma "resposta" desrespeitosa intitulada "Matem os escravistas" onde ataca Sodré com ironia. Com um discurso enviesado, Magnoli deprecia os argumentos de Sodré e o árduo trabalho que vem sendo construído pelo movimento negro brasileiro na luta contra o racismo ao longo da história do Brasil. Numa suposta tentativa de criticar o "método" utilizado por Sodré, Magnoli menospreza a "consistência interna" do texto de Muniz, segundo ele, causado pelo seu posicionamento ideológico, e classifica o discurso de Sodré como "violência verbal".Melhores argumentosÉ no mínimo espantoso reconhecer que alguém que ostenta um título acadêmico como o Sr. Demétrio Magnoli nega para si mesmo e para a opinião pública a existência de injustiças originadas pelo racismo enraizado na estrutura da sociedade brasileira. Reza a máxima que o título acadêmico deveria garantir maior capacidade de análise dos fatos sociais. É igualmente espantosa a cegueira que o Sr. Demétrio representa – e hoje é seu principal porta-voz – ao negar sistematicamente a existência do desequilíbrio no caráter dos artigos e no conteúdo das reportagens publicadas nos veículos da grande imprensa brasileira. Em sua "resposta", o Sr. Demétrio desafia Sodré a provar este suposto desequilíbrio. Magnoli ignora o fato de que determinados veículos da grande mídia propõem uma agenda-setting unilateral e, com isso, contribuem para o desaparecimento do princípio da imparcialidade na imprensa, tão caro à sociedade brasileira. É impossível acreditar hoje em dia que os veículos de comunicação são unanimemente éticos e imparciais. Um dos grandes problemas desta premissa é encobrir o fato de que algumas opiniões editoriais invadem o campo das matérias e reportagens, que deveriam ser imparciais. Ao invés destes veículos de comunicação terem como foco o serviço de utilidade pública, acabam se transformando em juízes e algozes da realidade que nos cerca.Se antes de escrever vorazmente contra as ações afirmativas – e duvidar da veracidade e do compromisso ético de acadêmicos dignos de todo respeito como Muniz Sodré –, o Sr. Magnoli deveria ter recorrido às pesquisas acadêmicas que estão sendo realizadas neste momento. Talvez assim ele apresentasse melhores argumentos para duvidar da existência de um posicionamento parcial de alguns setores da grande imprensa no Brasil.Trata-se ou não de desequilíbrio?Os pesquisadores João Feres e Veronica Daflon, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), por exemplo, realizaram recentemente uma análise dos textos publicados pela revista Veja sobre as ações afirmativas entre 2001 e 2009. Foram analisados 66 textos e artigos sobre o tema de janeiro de 2001 a junho de 2009, sendo 39% colunas assinadas e 38% reportagens.Deste total, 77% continham avaliações negativas sobre as ações afirmativas raciais e apenas 14% favoráveis. Se tivesse feito essa consulto, o Sr. Demétrio descobriria, por exemplo, que deste universo, 19 reportagens são contrárias às ações afirmativas e apenas três são favoráveis. Em relação às colunas na revista Veja no período, 20 foram contrárias e apenas quatro favoráveis. Trata-se ou não desequilíbrio? Feres e Daflon identificaram que a partir de 2005, quando as políticas de cotas estão consolidadas no ensino superior público do país, as raras manifestações favoráveis às ações afirmativas simplesmente desapareceram da revista Veja.Feres e Daflon analisaram ainda os títulos e suas mensagens explícitas na revista neste período. Um dos exemplos são os títulos "O grande salto para trás" e "Cotas para quê?", ambos publicados em 2005. Ou ainda a reportagem em 2007 sobre o caso de um professor da Universidade de Brasília acusado de racismo, cujo título era "A primeira vítima". Todos os títulos já evidenciavam a parcialidade nua e crua da revista Veja. O artigo do colunista Diogo Mainardi, cujo título era "O quilombo do mundo", demonstra a sua dita "criatividade" a serviço da intolerância como "o Brasil macaqueou o sistema de cotas raciais dos Estados Unidos" ou sobre "a chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras" . Trata-se ou não de desequilíbrio?Nomenclatura de assuntos investigadosVamos agora aos "jornalões". Um estudo realizado pelo pesquisador Kássio Motta para o Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) analisa o caso do jornal O Globo no período de março de 2002 a julho de 2004. De acordo com o levantamento, no total foram publicados 55% de textos negativos e 15% de textos positivos sobre as cotas. Neste contexto estão 34% de matérias negativas contra 6% positivas, e 66% de editoriais e artigos negativos contra 34% positivos. Outra vez questionamos: trata-se ou não de um desequilíbrio?Outra pesquisa, desta vez encomendada pelo CEERT ao Observatório Brasileiro de Mídia, observou os jornais Folha, Estado e Globo, dos quais se extraiu 972 textos publicados entre 1º de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2008, além de 121 textos veiculados pelos semanários Veja, Época e IstoÉ, totalizando, portanto, 1.093 escritos – incluindo reportagens, editoriais, artigos e colunas.Os assuntos investigados foram agrupados a partir da seguinte nomenclatura: cotas nas universidades; ação afirmativa; quilombolas; estatuto da igualdade racial; diversidade racial (incluindo racismo, discriminação racial, etc.) e religiões de matriz africana.Leitura indispensávelFechando o foco nos textos de jornais, cinco tópicos merecem especial atenção:1) desagregando- se o tema das cotas nas universidades, os textos opinativos somaram, no caso da Folha, cerca de 28% do total de ocorrências, sendo evidente a freqüência mais alta das reportagens em comparação com as opiniões;2) examinando-se os textos opinativos da Folha sobre cotas nas universidades, 46,7% posicionaram- se abertamente contrários, número elevado, mas não configuram a totalidade das opiniões; 3) o Globo sobressai em relação aos seus concorrentes no que se refere a uma orientação anticotas mais organizada e institucionalizada, tendo sido o único jornal em que os textos opinativos foram mais freqüentes do que as reportagens – 53,1% e 28,1% respectivamente, quando o assunto é cotas nas universidades;4) as pesquisas ocupam apenas 5% dos textos e são aludidas quase que exclusivamente nas reportagens (83%), aparecendo muito raramente nos textos opinativos (8,3%);5) a parcialidade da mídia impressa suscita preocupação inclusive nos seus próprios mecanismos internos de fiscalização, o que pode ser ilustrado por uma manifestação emblemática do ombudsman da Folha publicada em meados de 2006.Portanto, quando Sodré questiona sobre uma nova Abolição, não se trata de um "pressuposto factual falso", como diz o Sr. Demétrio. Provavelmente, este Sr. desconhece toda leitura indispensável para construir um argumento com seriedade, tais como o livro A nova Abolição (2008), do historiador Petrônio Domingues. Na obra, é possível aprender que a expressão foi citada pela primeira vez no dia 13 de maio de 1924, como manchete principal do primeiro número do jornal O Clarim da Alvorada, importante veículo da história da imprensa negra no período. A luta pelos direitos fundamentaisJá naquela ocasião a defesa de uma nova Abolição propunha uma transformação radical na sociedade brasileira para garantir a justiça e a igualdade racial. Quase 90 anos depois, essa expressão mantém sua mensagem viva. O Brasil continua com o desafio de garantir a justiça e a igualdade de direito para todos. Vale lembrar também que Muniz Sodré está amparado por uma clarividência histórica acompanhando por extensa lista de pensadores, pesquisadores e intelectuais como Kabenguele Munanga, Abdias Nascimento, Sueli Carneiro e tantos outros.É por isso que nós, afro-descendentes, integrantes do movimento negro, profissionais de imprensa, intelectuais e acadêmicos declaramos publicamente que Muniz Sodré desfruta do nosso total apoio neste posicionamento em favor da pluralidade de opiniões e reportagens nos "jornalões" e demais veículos de comunicação sobre as ações afirmativas, em especial, sobre as cotas nas universidades públicas. Lembrando que resta ainda uma longa caminhada até atingirmos a plenitude do princípio da igualdade no Brasil. Jamais haverá igualdade onde as pessoas se encontram em condições desiguais na luta pelos seus direitos fundamentais. ***[Este artigo é endossado por Julio Tavares, doutor em Antropologia - University of Texas at Austin; Roberto Martins, ex-presidente IPEA no governo FHC; Carlos Alberto Medeiros, jornalista, mestre em ciências jurídicas e sociais e coordenador CEPPIR-RJ; Amauri Mendes Pereira, professor sociologia da UEZO-RJ; Frei Davi Santos, OFM e diretor executivo Educafro; Diva Moreira, cientista política; Alexandre Nascimento, professor FAETEC/RJ; Jonicael Cedraz Oliveira, professor UFBA; Fabiana Lima, doutoranda UFBA; Claudia Miranda , doutora em educação UERJ; Uelington Farias Alves, jornalista e escritor; Daise Rosas Natividade, psicóloga e doutoranda da UFRJ; Humberto Adami, Ouvidor-Geral Seppir; Luis Fernando Martins da Silva, advogado e professor de Direito e membro IAB; Maria da Consolação Lucinda, doutoranda Antropologia Social Museu Nacional/UFRJ; Augusto Bapt, músico; Marcos Romão, cientista social e diretor da Rádio Mamaterra, Hamburgo; Marcelo Barbosa, mestrando em educação UERJ; Vera Daisy Barcellos, jornalista/ RS; Zilda Martins, mestranda comunicação e cultura ECO/UFRJ; Ana Cristina Macedo de Souza, mestranda políticas públicas FGV-RJ/EBAPE; Carlos Nobre, professor PUC/RJ; Nilo Sergio S. Gomes, jornalista; Jacques Edgard François; Flavio Gomes; Jorge da Silva; Claudia Fabiana Cardoso; Carlos Douglas Martins P. Filho; CEPPIR –RJ; CEERT; COMDEDINE; EDUCAFRO; ABRAÇO; Cojira-Rio; Cojira-DF; Cojira-BA; Cojira-AL; Cojira-PB; Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul; Movimento Novos Rumos; Fórum Paraibano Promoção Igualdade Racial; Agência Afro-Latina- Euro-Americana de Informação (ALAI); Associação Brasileira de Pesquisadores/ as pela Justiça Social (ABRAPPS); Comitê de Luta pela Igualdade Racial e Democratização da Comunicação do FNDC-BA; Fórum Mulheres Negras DF; Movimento Negro Unificado DF; Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô; Coletivo Entidades Negras (CEN)
Publicado em http://observatorio/

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O iorubá ou ioruba (Èdè Yorùbá, "idioma iorubá") é um idioma da família linguística nigero-congolesa.



O iorubá ou ioruba (Èdè Yorùbá, "idioma iorubá") é um idioma da família linguística nigero-congolesa, e é falado ao sul do Saara, na África, dentro de um contínuo cultural-lingüístico, por 22 milhões a 30 milhões de falantes.
A língua iorubá vem sido falada pelo povo iorubás há muitos séculos. Ao lado de outros idiomas, é falado na parte oeste da África, principalmente na Nigéria, Benim, Togo e Serra Leoa.
No continente americano, o iorubá também é falado, sobretudo em ritos religiosos, como os ritos afro-brasileiros, onde é chamado de nagô, e os ritos afro-cubanos de Cuba (e em menor escala, em certas partes dos Estados Unidos entre pessoas de origem cubana), onde é conhecido também por lucumí).

Classificações lingüísticas
O iorubá faz parte da sub-família lingüística benue-congo, pertencente à família nígero-congolesa. No tocante à fonética, o iorubá é um idioma tonal, isto é, a freqüência sonora na pronúncia das vogais serve de parâmetro para diferenciar dois fonemas.
A ordem básica dos constituintes é Sujeito-Verbo-Objeto (SVO).
Iorubá como segunda língua
O idioma oficial da Nigéria é o inglês no entanto muitas pessoas também falam outros idiomas, os principais deles sendo igbo ou ibo e hausa ou hauçá. O inglês funciona mais é como língua franca no país, e possui caracteríscas próprias bem distintas. Portanto, falantes de iorubá da Nigéria muitas vezes utilizam curtas expressões em inglês, intercaladamente, em suas conversações no idioma materno.
A maior parte das publicações e projetos online, como dicionários e gramáticas, visando auxiliar as pessoas interessadas no aprendizado do idioma iorubá, se encontram nas combinações lingüísticas iorubá-inglês e iorubá-francês (e vice-versa).
No entanto, existem vários projetos similares de português-iorubá, especialmente dicionários, sendo estes reconhecidos por instituições culturais nacionais renomadas, como a Fundação Cultural Palmares, etc. As referidas obras, por serem produzidas no Brasil, geralmente abordam este idioma africano dentro do contexto da experiência cultural-religiosa afro-brasileira.



Letra A
Ààbò - metade Ààfin - Palácio, residência de um rei (Oba) Àáké - machado Ààrè - doença, fadiga, cansaço Ààyè - vida Aba - escada de mão Abánigbèro - conselheiro, aquele que aconselha, um sábio mais velho Abanijé - difamador Abaya - rainha mãe Abélà - vela Abomalè - aquele que cultua os ancestrais (egúngún) Abòrisà - aquele que cultua/adora os orixás Aboyún - mulher grávida Abuku - desgraça Adèbo - pessoa que prepara a comida com os animais oferecidos em sacrifício de acordo com as regras religiosas A dúpé - agradecemos a você Afará - oyin - favo de mel Àfomó - doença infecciosa, trazida pelo Orixá das doenças infecciosas (Babaluaiyé; Xapanã) Àgàn - mulher estéril Agbádá - vestes sacerdotais Àgbàdo - milho, sagrado para o Orixá Èsù (Bará) Àgbaiyé - o mundo inteiro Àgbon - coco Àìsàn - doença Áike - machado Aláàfin - título tradicional para o rei de Oyó
Letra B
Báàlè - chefe de um povoado, com menos status que um Oba Bàbà - milho da Guiné Baba - pai Babagba - homem velho, geralmente o avô Báde - caçar em grupo Bájà - lutar, brigar Balògun - chefe da sociedade dos guerreiros Bàlagà - entrar na maturidade Barapetu - grande, uma pessoa de distinção Burú - ruim, negativo, destrutivo
Letra D
Dáàdáà - bom ou bonito Dabòbò - proteger, fornecer proteção Dàgbá - envelhecer, ficar velho Dàgalágbà - tornar-se um homem adulto Dalè - quebrar uma promessa Dára - bom, ser bom Dáradára - muito bom, tudo certo Délade - coroar um rei Dele - chegar em casa Dídá - ara - boa saúde Dígí - espelho Dùbúlè - deitar
Letra E
Éèdì - encanto, feitiço Éègun - ossos, ossos humanos Efi - fumar Égbéé - amuleto de proteção para o Orixá (Ògún) Egbò - chaga, ferida Égún - espírito dos ancestrais Eji - chuva Ejò - cobra Èké - pessoa mentirosa, falsa, fraudulenta Ékú - rato Elégbògi - curandeiro que usa ervas Elésù - pessoa que adora o mensageiro Èsú Elu - estranho Enìní - inimigo Enini - orvalho da manhã Erinká - milho na espiga Erú - carregamento, fardo Erupe - sujo Ewé - folha de planta Ewu - perigo Ewú - cabelo grisalho, sinal de dignidade Ewure - cabra Èdán àrá - pedra de raio, sagrada para o Orixá Sàngó Edùn - machado Efó - vegetais verdes Èfóri - dor de cabeça Ègbé - comunidade de pessoas com o mesmo propósito Eiye - pássaro Èmí - respiração, também se refere a alma humana Enyin - você Èrúbo - compromisso de fazer uma oferenda aos Orixás Èwòn - corrente
Letra F
Faiya - encantar, seduzir Fári - cortar o cabelo com lâmina Fe - há muito tempo Fèrè - flauta Fé - amar Féniyawo - casar Fijúbà - respeitar Fòiya - estar com medo, amedrontado Fowólérán - agir com paciência Funfun - branco Fúnwiniwini - garoar Fúnlèfólorun - dar liberdade, agir de maneira certa Fúù - o som feito pelo vento
Letra G
Gáàri - refeição feita de farinha de mandioca Gala - veado, alce Géndé - homem forte Gèlédé - sociedade dedicada a homenagear os ancestrais Góòlù - ouro Gòmbó - cicatriz; marca no rosto que indica linhagem Gun - subir Gùn - pessoa alta Gunnugun - abutre, urubu
GB
Gbabe - esquecer Gbada - faca com lâmina grande Gbàdúrà - rezar Gbagbo - acreditar Gbaguda - farinha de mandioca Gbajumo - cavalheiro; homem gentil Gbé - levantar Gbédè - agir de maneira inteligente Gbérè - cumprimentos Gbese - dívida Gbéyàwó - casar Gbóju - bravo Gbórín - grande Gbúròó - ouvir
Letra H
Hà - expressão de prazer Halè - amedrontar, ameaçar, intimidar He - pegar, apanhar Hó - ferver Hun - tecer, trançar Hùwà - comportar-se
Letra I
Ìbà - homenagem em respeito aos Orixás Ìbamolè - forças espirituais que são merecedoras de respeito Ibà pójúpójú - febre muito alta Ibòòji - sombra Ibúlè - àrun - leito de doença Ibúlè - ikú - leito de morte Ibùsùn òkú - cemitério Ìdáwò - consulente de adivinhação Ifáiyable - visão mística Ìfeseji - perdão Iga - quintal de um ancião Ìgbà - história Igbado - milho Ìgbàlè - cemitério Ìgbín - lesma, caracol Igbó - floresta Igbódù Òrìsà - local sagrado para iniciar uma pessoa nos mistérios dos Orixás Ìgboro - rua, estrada Igi - òpe - palmeira Ihò - buraco Ija - luta Ikú - morte Ikùn - estômago Ilà - marcas faciais Ìlù - tambor Ìmale - respeito ao ancestral Ìmáwò - ara - encarnação, estado de reencarnação Ìmólè - forças da natureza (Òrìsà) Imo - ope - folhas de palmeira Ìpàdé - encontro Ipin - guardião Ìràwò - estrelas Ìtefá - iniciado nos fundamentos de Ifá Ito - urina Ìyá - mãe Ìyáláwo - divindade feminina, mãe dos mistérios Ìyálè - esposa mais velha em uma família polígama Imonamona - raio Iná - fogo Ìpelé - pequena cicatriz facial que indica a linhagem familiar Ìpitan - tradição oral Ìrawò - estrelas Ìrésì - arroz Ìrèmòjé - cânticos do funeral dos caçadores Irin - ferro, sagrado para o Orixá Ògún Irun - cabelo Irúnmòle - forças da natureza (Òrìsà) Ìsàlè - órgãos reprodutores Ise - trabalho Ìségún - reverência aos antepassados Isinkú - funeral Ìtan - história, lenda, mitologia Ìtan - àtowodowo - lenda tradicional, história sobre os orixás Ìwà - àgba - caráter de um ancião Ìwà - édá - natureza Iwóòrò - ouro Ìyá - mãe Ìyá - àgan - mulher mais velha, (anciã), dentro da sociedade dos médiuns ancestrais Ìyáàgbà - avóÌyáláwo - divindade de ifá feminina, significa: " mãe dos mistérios ". ÌYálorísà - mulher iniciada nos mistérios das forças da natureza (Òrìsà). Ìyálè - esposa mais velha em uma família polígama. Iyekan - ancestrais do pai
Letra J
Jade - sair Jádeogun - preparar o combate Jádi - atacar Je - comer Je ewo - má sorte que vem como o resultado de uma violação de tabu/regra Jéjé - rogar uma praga Jeun - comer Jéwó - confessar Jé - acordar Jigi - espelho Jije - comer Jikelewi - borrifar Joko - sentar Jóná - estar em chamas Jóò - desculpar, perdoar Jowo - grande favor Juba - rezas, pedido
Letra K
Kàdárà - destino Kábiyèsí - cumprimento de respeito a um rei (oba) Kábíyèsìlè - expressão de respeito a um chefe ou mais velho K'àgò - pedir permissão para entrar em uma casa Kalè - sentar Kaná - estar em chamas Kárò - bom dia Kárùn - ficar doente Kàwe - ler Káwó - saudação, aclamação Ké - cortar Kedere - clarear, esclarecer Kékeré - pequeno Kéré - ser pequeno Kéhìndé - o segundo gêmeo a nascer Kíkún - mortal Kiniun - leão Kórira - odiar Kókóró - chave; sagrado para o mensageiro Exu (Èsú) Kòla - noz de cola amarga. Sagrada para a maioria dos Orixás Korin - cantar Ku - morrer Kunle - ajoelhar no chão como um gesto de respeito, tanto para um local sagrado como para uma pessoa mais velha Kunrin - cantar Kurumu - redondo
Letra L
Lá - sonhar Lábelè - secretamente Láikú - imortal Làí - làí - o começo (considerar tempo) Láí - láí - para sempre Làlóju - esclarecer, iluminar Létòl'tò - segmentos de um ritual Léwà - ser bonito Lódè - do lado de fora Lodê oni - no presente Lókun - forte Lóni - hoje Lówò - ser rico, ter abundância Lókan - bravo Lukoun - pênis
Letra M
Ma - de fato, realmente Maga - sacerdote chefe do Orixá Xangô (Sàngó) Màlúù - boi Màrìwò - folhas de palmeira Méjì - dois Mérin - quatro Mérìndílógún - dezesseis (16), também usado para referir a um sistema de adivinhação usado pelos iniciados de Orixás que está baseado nos primeiros dezesseis versos da divindade Ifá (Odù) Meta - três Méwà - dez Mi - engolir, respirar Mímo - sagrado, divino Míràn - outro Mo - eu Mojú - saber, conhecer Móoru - tempo quente Mu - beber
Letra N
Ná - primeiro de todos Nba - juntar-se Nfe - amar Nje - bem Njo - dançar Ni - dizer, ser, alguém, aquele, depende do contexto Nígbàtí - quando Nikan - sozinho Níle - em casa Nko - não Nlá - grande Nlo - indo Nmu - bebendo Nrin - caminhando Nro - pensando Nyín - você
Letra O
O - ele, ela, isto Obì - noz de cola, usado num sistema simplificado de adivinhação Obí - sexo feminino Ogìnrin - mulher Óbo - vagina Obuko - bode Òde - do lado de fora Òde ayé - o mundo todo Odideé - papagaio Odò - rio Òdodo - justiça Odukun - batata doce Òfin - lei, direito Ogbe - crista de galo Ogbo ato - ficar velho, vida longa Ogboni - sociedade de homens anciões que adoram o Orixá Onile Ògèdè - encanto, feitiçaria Ojise - mensageiros Òjò - chuva Òjòlá - jibóia Ojú - olho ou face, dependendo do contexto Ojù àse - força nos olhos Ojugbede - sacerdote chefe do Orixá do ferro Ògún em Ilé Ifè Ojubona - professor Ojú - óòri - sepultura, túmulo Ojú ònà - caminho, estrada Oku - cadáver, defunto Okun - o oceano Olé - ladrão Olórí - chefe Olosa - Orixá da laguna Oluwo - chefe adivinhador de Ifá do conselho masculino dos anciãos Omi - água Omi ayé - as águas da terra Omi - tútù - água fria Omira - sangue menstrual Ònà - estrada, caminho Oníbàárà - cliente Oníbode - porteiro Onílé - guarda da casa Oni're - nome em louvor para o Orixá do ferro Ogun, que significa "chefe da cidade de Ire" Onísé - trabalhador Òòsà - o mesmo que Orixá Òòsàoko - Orixá da fazenda Opèlé - corrente usada pela divindade Ifá, significa: " enigma da palmeira " Òpin ìsìn - o fim do ritual Òpópó - rua Òpùrò - mentiroso Orílè - nome de uma nação Òrisà bi - esposa de Orungan Òtitó - verdade Otu - sacerdote que faz oferendas em nome do Rei (Oba) Owó - dinheiro Oyin - mel Oba obìnrin - Rainha mãe Ode - caçador Òdúndún - erva medicinal Ofà - flecha Ofò - feitiçaria Oka - cobra Okòn - coração Olona - nome em louvor ao Orixá Ogun que significa: "proprietário da estrada" Olòwò - sábio mais velho Omo - criança Omodé - criança jovem Ònà - estrada Òòni - O Rei da nação Yorubá Ope - palmeira Osán - fruta Òsányìn - Orixá das ervas e dos medicamentos Òsè - semana ritual de quatro dias Òsóòsì - orixá da caça
Letra P
Pàdé - encontrar Pákí - farinha de mandioca Pákórò - ritual noturno nos funerais Paré - desaparecer, ser destruído Pari - completar Pariwo - gritar Pèlé - marcas na face. Caracteriza as famílias Peleke - aumentar Pín - dividir, repartir Pitan - contar historias Pòòkò - copo feito de uma casca de coco Pupa - vermelho Putu - bom
Letra R
Rà - comprar Rá - engatinhar Rári - rapar a cabeça, o primeiro degrau da iniciação Rèrè - coisas boas, boa fortuna Réin - rir Riri - tremer de medo Ròjo - chover Run - perecer, sucumbir
Letra S
Sáà - estação, determinado espaço de tempo Sàn - estar bem Sánmò - céu Sanra - estar gordo Sè - cozinhar Sééré - chocalho, sagrado para o Orixá Sàngó Sinsin - descansar So - amarrar Sódé - fora Sòrò - falar Sun - dormir Sunkun - chorar Sánku - morte prematura Ségègé - tirar a sorte, fundição de certas formas de adivinhação Sèké - mentir Sòkoto - calças Sòtito - ter fé
Letra T
Tà - vender Táìwo - o primeiro gêmeo a nascer Táláká - pessoa pobre Téfá - iniciação Ifá Tanná - acender a luz Tara - pequena pedra Te - estabelecer Tè - pressionar Té - espalhar Telé - seguir Tímótímó - pequeno Tìnùtìnù - sincero Titi - até Tóbi ode - caçar Túndé - renascer Tutu - frio
Letra W
Wà - ser Wádi - fazer perguntas Wejeweje - coisas boas Were - jovem Wo - relaxar Wo'gun mérin - os quatro cantos do mundo, as quatro direções Wolé - entrar Woléwòdè - entrar e sair Won - então Wípé - dizer algo Wó - o qual Wòran - assistir Wodi - investigar
Letra Y
Yá - inundar Yà - virar para o lado Yalayala - gavião, rápido, veloz Yàn - escolher Yanran - bom Yara - quatro Yára - ser rápido Yesi - quem Yeye - mãe Yewere - sem valor, indigno Yèyé - bobagem Yi - isto Yibi - grandeza Yio - desejo Yo - aparecer.

A mitologia dos iorubás engloba toda a visão de mundo!

A mitologia dos iorubás engloba toda a visão de mundo e as religiões dos iorubás, tanto na África (principalmente na Nigéria e na República do Benin) quanto no Novo Mundo, onde influenciou ou deu nascimento várias religiões, tais como a Santería em Cuba e o Candomblé no Brasil em acréscimo ao transplante das religiões trazidas da terra natal. A mitologia Iorubá é definida por Itans de Ifá.
Mito da criação
Na mitologia iorubá o deus supremo é Olorun, chamado também de Olodumare. Não aceita oferendas, pois tudo o que existe e pode ser ofertado já lhe pertence, na qualidade de criador de tudo o que existe, em todos os nove espaços do Orun.
Olorum criou o mundo, todas as águas e terras e todos os filhos das águas e do seio das terras. Criou plantas e animais de todas as cores e tamanhos.
Até que ordenou que Oxalá criasse o homem.
Oxalá criou o homem a partir do ferro e depois da madeira, mas ambos eram rígidos demais. Criou o homem de pedra - era muito frio. Tentou a água, mas o ser não tomava forma definida. Tentou o fogo, mas a criatura se consumiu no próprio fogo. Fez um ser de ar que depois de pronto retornou ao que era, apenas ar. Tentou, ainda, o azeite e o vinho sem êxito.
Triste pelas suas tentativas infecundas, Oxalá sentou-se à beira do rio, de onde Nanã emergiu indagando-o sobre a sua preocupação. Oxalá fala sobre o seu insucesso. Nanã mergulha e retorna da profundeza do rio e lhe entrega lama. Mergulha novamente e lhe traz mais lama. Oxalá, então, cria o homem e percebe que ele é flexível, capaz de mover os olhos, os braços, as pernas e, então, sopra-lhe a vida.
Principais orixás
Na mitologia iorubá, Olodumare também chamado de Olorun é o Deus supremo do povo Yoruba, que criou as divindades, chamadas de orixás no Brasil e irunmole na Nigéria, para representar todos os seus domínios aqui na terra, mas não são considerados deuses, são considerados ancestrais divinizados após à morte.
Orixás
Exu, orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
Ogum, orixá do ferro, guerra, e tecnologia.
Oxóssi, orixá da caça e da fartura.
Logunedé, orixá jovem da caça e da pesca
Xangô, orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
Ayrà, usa cores brancas, tem profundas ligações com Oxalá.
Xapanã (Obaluaiyê/Omolu), Orixá das doenças epidérmicas e pragas.
Oxumarê, orixá da chuva e do arco-íris.
Ossaim, orixá das ervas medicinais e seus segredos curativos.
Oyá ou Iansã, orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestade, e do Rio Niger
Oxum, orixá feminino dos rios, do ouro e amor.
Iemanjá ou Yemanjá, orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de todos os Orixás de origem yorubana.
Nanã, orixá feminino das águas das chuvas, dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiyê, Iroko, Oxumarê e Ewá, orixás de origem daomeana.
Yewá, orixá feminino do rio Yewa, senhora da vidência, a virgem caçadora.
Obá, orixá feminino do rio Oba, uma das esposas de Xangô juntamente com Oxum e Iansã.
Axabó, orixá feminino da família de Xangô
Ibeji, orixás gêmeos
Iroko, orixá da árvore sagrada (conhecida como gameleira branca no Brasil).
Egungun, ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
Iyami-Ajé, é a sacralização da figura materna.
Onilé, orixá relacionado ao culto da terra.
OrixaNlá (Oxalá) ou Obatalá, o mais respeitado Orixá, Pai de todos os Orixás e dos seres humanos.
Ifá ou Orunmila-Ifa, orixá da Adivinhação e do destino.
Odudua, orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
Oranian, orixá filho mais novo de Odudua.
Baiani, orixá também chamado Dadá Ajaká.
Olokun, orixá divindade do mar.
Olossá, orixá dos lagos e lagoas
Oxalufon, orixá velho e sábio.
Oxaguian, orixá jovem e guerreiro.
Orixá Oko, orixá da agricultura.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Festa em comemoração ao Dia do Samba atrai 50 mil no Rio

Festa em comemoração ao Dia do Samba atrai 50 mil no Rio

Quatro trens saíram da Central do Brasil com grupos de pagode, velha 
guarda e blocos carnavalescos

Clarissa Thomé - O Estado de S. Paulo
Tamanho do texto? A A A A
Componentes.montarControleTexto("ctrl_texto")
RIO - A brincadeira já dura 14 anos e começou despretensiosa: um grupo de amigos, encabeçado pelo sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, lotou um vagão na Central do Brasil e seguiu até o subúrbio carioca, improvisando uma roda de pagode. Pois a festa cresceu, entrou para o calendário turístico da cidade e nesta quarta-feira, 2, atraiu cerca de 50 mil pessoas, que foram à gare ou ao bairro de Oswaldo Cruz, para comemorar o Dia Nacional do Samba.


Um vagão já não é suficiente - quatro trens foram destinados aos grupos de pagode, para a velha guarda das escolas de samba, e blocos carnavalescos. A lotação dos 28 vagões foi esgotada por 3.400 pessoas que trocaram um quilo de alimento pelo bilhete.


A costureira Ana Paula Santana de Freitas, de 33 anos, pegou os três filhos na escola às 10 horas e saiu de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, para acompanhar desde cedo a movimentação na Central do Brasil. "A gente adora. Vamos no trem da Mangueira, que fica lotado. Não dá para respirar, mas a gente samba até chegar lá", contou. Para garantir, levava chocalho e pandeiro. "Se faltar música, a gente também toca."




Em 1996, na primeira viagem do Trem do Samba, a ideia de Marquinhos de Oswaldo Cruz era refazer os caminhos de Paulo da Portela, um dos fundadores da escola, que nos anos de 1920 e 1930 aproveitava a volta do trabalho no trem para ensaiar, sem a ameaça de a polícia interromper. "A gente
queria resgatar esse samba de raiz. E até hoje as grandes estrelas do trem são as velhas guardas das escolas", diz.


Se nas primeiras edições os sambistas se espalhavam em rodas quando chegavam a Oswaldo Cruz, agora há três palcos instalados no bairro. "A festa se profissionalizou, contamos com patrocínio, mas não perdemos a espontaneidade. E apesar de receber algumas cantadas para vender abadá para o pessoal que vai no trem, me recuso a fazer isso. O trem é para o povo", afirmou Marquinhos.

02 de Dezembro o dia do Samba

Foi a partir de 1963 que o Dia do Samba passou a ser comemorado em Santos, que teve, assim uma co-primazia com o Rio de Janeiro na realização do evento.
Tudo começou durante o I Congresso Nacional do Samba, que ocorreu de 28 de novembro a 2 de dezembro de 1962, no Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Confederação Brasileira das Escolas de Samba, da Associação das Escolas de Samba do Brasil, da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, do Conselho Nacional de Cultura (MEC) e da Ordem dos Músicos do Brasil.
No seu decorrer, além da aprovação da Carta do Samba, de autoria do etnólogo e folclorista Edison Carneiro, foi divulgado o projeto de lei nº 681, apresentado na assembléia Legislativa da Guanabara, instituindo o dia 2 de dezembro “como data consagrada ao samba”, através do seguinte parecer:
“O, samba, segundo consta, teve suas remotas origens no cotidiano africano e para o Brasil foi trazido, ainda em estado embrionário, pelo escravos que traduziam nos seus ritmos, um tanto dolentes, a saudade e nostalgia que os assediavam. Em face da sua natural evolução, a nossa música popular foi tomando a sua verdadeira fisionomia, sofrendo, como é óbvio, sucessivas modificações, através dos anos, para tornar-se em nosso dias, aquela música alegre, agradável e, sobretudo contagiante. Os nossos músicos e poetas expressam com felicidade e singeleza, pelo samba, verdadeiros sentimentos do povo brasileiro que , por turno, ouvindo-o e contando, dá completa vazão aquele prazer e o faz de modo especial por ocasião dos festejos do Momo.
“Assim a instituição do Dia do Samba é, com efeito, uma justiça que se impõe, como homenagem aos seus compositores, aos próprios brasileiros e à música popular de nosso País, a qual encontra no samba a sua expressão máxima...”
Mas eis que o projeto do deputado Frota Aguair acabou sendo rejeitado. Porém, tal fato não impediu que no decorrer da II Congresso Nacional do Samba, em 1963, fosse divulgado um boletim que dizia:
“ Nas escolas de samba da Guanabara, e nos redutos principais do samba, nessa data, o samba será festejado com o repicar dos tamborins, o roncar das cuícas e com uma alvorada de 21batidas no surdo.
“O Tão esperado Dia do Samba também será comemorado pelas emissoras de rádio, que apresentarão programas com gravações de nossa consagrada música popular.
Será festejado por todos os sambistas do País e marcará no Rio o encerramento do II congresso Nacional do Samba, com a entrega de títulos honoríficos àqueles que se destacaram na causa do samba”.
Com efeito, o Dia do Samba foi comemorado condignamente pela primeira vez em 1963, no Rio de Janeiro – a Capital do Samba, e , simultaneamente, em Santos, onde o Estado Maior da Escola de Samba X-9, seguindo à risca a recomendação do congresso carioca, cumpriu o ritual com alvorada ao romper do dia e com solenidade festiva do anoitecer.
Naquele memorável 2 de dezembro (numa segunda-feira), o antigo terreiro da legendária Tia Inês (que ficava na Rua almirante Tamandaré, 94), amanheceu todo enganalado para o ritual solene, sob o comando do Cabo Batucada, quando fez-se então ouvir as vinte e uma batidas no tambor e o rufar das caixas de guerra, além de salvas de fogos, anunciando e homenageando o acontecimento. Dessa forma, Santos teve o privilégio de sediar a primeira Alvorada do Samba, levada a cabo no tradicional reduto batuqueiro da Bacia do Macuco.
À tarde, foi prestada uma homenagem no programa de Wilson Brasil, da Rádio Cacique de Santos, com locução à cargo do Cabo Olívio, acompanhado pela bateria da Escola de Samba Brasil, sob a batuta do mestre Mineirão. E logo que principiou a noite, houve festa no reduto xisnoveano, assinalado com a marcante presença do sambista Germano Mathias e do Trio Pagão, oriundos de São Paulo.
Apesar da comemoração extra oficial, a luta pela concretização do Dia do Samba prosseguiu na Assembléia Legislativa da Guanabara, através do deputado Frota Aguair, até a derrubada do veto e a conseqüente promulgação da Lei nº 554, de 29 de julho de 1964, instituindo oficialmente dia 2 de dezembro como data consagrada ao samba.
Conseqüentemente, a efemeridade se expandiu por todo o território brasileiro, sob a designação de Dia Nacional do Samba, sendo que, desta época em diante, passou a ser festejado ininterruptamente em nossa Cidade, sempre com a honrosa presença de renomadas personalidades do mundo do samba do Rio de Janeiro, dentro os quais, relembramos: Cartola e Xangô da Mangueira, Mano Décio da Viola e Mestre Fuleiro ( império Serrado), Natal da Portela, Moacyr Lord (Acadêmicos do Salgueiro), Mestre André (mocidade independente), Martinho da Vila, Jorginho do Império e outros.
É inegável, que das comemorações do Dia do Samba em Santos resultaram dois simpósios (1966-67), com a chancela do antigo Conselho Municipal de turismo e três festivais (1970/72 e 1980), sob os auspícios da Secretaria de turismo do Município, passando assim a figurar oficialmente no calendário de eventos da cidade.
Como raiar da década de 70, a data magna do samba continuou sendo festejada com muita euforia, tal como de 2 a 5 de dezembro, com a realização de festivais de samba na Cidade. E até o fim daquele decênio a data não deixou de ser comemorada nos redutos sambísticos de Santos, principalmente em 1980, com a realização do III Festival de Samba, contando com a participação de agremiações de toda a região da Baixada Santista.
Um fato notável ocorreu durante as comemorações do dia do Samba em 1981, na quadra Tia Inês da X-9. A honrosa presença do ex-deputado Frota Aguiar, acompanhado pelo cidadão-samba do Rio de Janeiro, Mano da Mangueira, onde foram alvo de significativas homenagens. Posteriormente, o criador do Dia do Samba veio a relembrar o acontecimento no seu livro O Samba e Sua História, no qual consta o seguinte trecho:
“ Desejando homenagear no samba toda a cultura musical do povo, apresentei, quando deputado, na década de 60, o projeto de Lei nº 681 que, transformado na Lei nº 554, de 27 de julho de 1964, instituiu como o Dia do Samba a data 2 de dezembro de cada ano. Assim teríamos, anualmente, um dia para homenagear o samba, recordando suas origens e evolução, bem como preservando suas gloriosas tradições na memória nacional...”.
E mais adiante, referindo-se a nossa cidade, declarada: “ Em 1981, através de J. Muniz Júnior, no dia 2 de dezembro, estive em Santos, convidado pela Escola de Samba X-9, e tive a imensa satisfação de ver o modo sério e de absoluta disciplina com que estava sendo comemorado o Dia do Samba, num ritual na verdade imponente e tendo a participação das agremiações mais representativas do Município” .
Após 20 anos de comemorações consecutivas, sob o comando do Cabo Batucada, o Dia Nacional do Samba foi oficializado em Santos, por iniciativa do sambista Luiz Otávio de Brito (Sambão), fundador do Clube do Samba. Coube ao vereador Adelino Pedro Rodrigues apresentar projeto nesse sentido no dia 22 de novembro de 1983 na Câmara Municipal, sancionado e promulgado no dia 2 de dezembro daquele mesmo ano pelo prefeito Paulo Gomes Barbosa, através da Lei nº 4.581.
Cumpre aqui anotar que, além da Xisnove, outras escolas santistas também comemoraram a data magna do Samba, Mocidade Independente e União imperial, bem como pela Uesbas e a Liga Independente das Escolas de Samba.
Convém destacar ainda a eficiente atuação, ao longo dos anos dos seguintes cabos do samba: Roque, Batucada e Alemão (X-9), Vadico e Olívio (Brasil), Brilhantina (Império do Samba); dos abnegados Jean Herrero (Mocidade Independente), Adilson Buru, Toninho Madrugada (Uesbas), Mauro Alonso e Carlos Paiva (Liga-União imperial), além do cidadão-samba 67 Derosse José de Oliveira e as tias: Netta (! Dama do Samba), Isaurinha ( Brasil) e Lourdes (X-9). Merecem ainda ser lembradas, num preito de reverência e saudações as inesquecíveis tias Inês e Nete de Lima (X-9), Elvira (império do Samba) e Isa ( União imperial).
É preciso não esquecer com tudo, o apoio oficial por parte das autoridades municipais, desde a primeira comemoração alusiva ao Dia do Samba, sendo digno de registro os nomes dos prefeitos José Gomes e Sílvio Fernandes Lopes; do interventor federal general Bandeira Brasil, inclusive, de Antônio Manuel de Carvalho, Paulo Gomes Barbosa, Oswaldo Justo e da atual prefeita Telma de Souza.
É comum confundir-se samba e Carnaval, sendo indubitável que o Dia do Samba tem um alto significado, principalmente para os sambistas da antiga, embora, infelizmente, não esteja sendo comemorado condignamente. O fato é que, a despeito de tudo, não deve ficar esquecido, merecendo toda consideração por parte das autoridades, dos órgãos de imprensa, dos pesquisadores e estudiosos do assunto, inclusive dos jovens sambistas, para poder continuar com o seu primordial objetivo: irmanar pessoas sem nenhum preconceito de cor, credo, raça ou nível social, sob uma única bandeira, como tão bem acentua o dr. Frota Aguiar : “O samba é, no Brasil, o verdadeiro hino à democracia, reunindo pretos, brancos, ricos e pobres, sem distinção de raças, credos e religiões, tendo como único escopo o engrandecimento do Brasil.
J. Muniz Jr.
Publicado no Jornal A Tribuna de 03 de dezembro de 1992

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A dança sempre esteve presente na vida cotidiana das diversas sociedades

Durante toda a história humana, a dança sempre esteve presente na vida cotidiana das diversas sociedades, assumindo grande importância através dos tempos, seja como forma de expressão artística, objeto de culto aos deuses, celebração, saudação ou como simples entretenimento.
Dança ClássicaSurgiu durante o Renascimento (século XV), nas cortes da Itália e da França. No início, era apenas um meio de ostentação e um divertimento dos nobres. Com o tempo, foi se aprimorando e seus passos foram sendo codificados. Desta codificação, oficializada por Pierre Beauchamps, na Academia Real de Dança (França), nasceu a dança clássica como é conhecida hoje.Sua característica básica é a postura corporal rígida, com a espinha dorsal alongada e encaixe do quadril. Os movimentos são controlados e obedecem a formas pré-estabelecidas (passos convencionais).Desenvolve a postura, o controle muscular, dá velocidade, equilíbrio e flexibilidade.


Dança Moderna

Nasceu da dança clássica, mas seus criadores romperam totalmente com a técnica e a estética formal do balé, para liberar a expressão total do corpo. Teve início com François Delsarte, no início do século XIX, mas se desenvolveu, mesmo, no século XX. A dança moderna conta com uma grande diversidade de técnicas corporais e de mestres, sendo suas principais precursoras Isadora Duncan e Martha Graham. Utiliza a improvisação e movimentos variados, liberando assim a criatividade. Enfatiza movimentos de tronco e braços, equilíbrio e desequilíbrio, tensão e relaxamento, graças aos ritmos irregulares.Para saber mais

Dança Contemporânea

Surgiu nos Estados Unidos, na década de 60, motivada pelo espírito de liberdade da época e pela "moda" dos trabalhos experimentais.Nos anos 80, ganhou diversas linhas de trabalho, mas até hoje não apresenta propostas definidas nem linha evolutiva.Utiliza todos os recursos de linguagem corporal, funde as várias tendências estéticas e admite recursos técnicos diversos, unindo o acadêmico e o moderno, a técnica e o movimento puro, expressivo, incorporando linguagens do rock ao rap, passando pelos mais variados estilos. Sua prática enfatiza o auto conhecimento, imagem corporal, criatividade, expressividade, performance corporal e interpretação.


Danças Étnicas

São danças provenientes de diferentes partes do mundo e de diferentes períodos. Podem ser folclóricas, sagradas, tradicionais e contemporâneas. No Brasil, as danças étnicas mais conhecidas e praticadas são a dança do ventre, a dança flamenca e a dança afro, que serão abordadas separadamente.Praticadas quase sempre em grupo, são consideradas danças de inclusão: mesmo sem nunca ter dançado, o participante se sente acolhido, porque o ritmo coletivo é mais importante do que o passo certo.A variedade de ritmos e passos utilizados amplia o repertório de movimentos de cada participante. Ao dançar, o indivíduo entra em contato com seu corpo, com sua expressão e com o grupo, estabelecendo e transformando suas relações sociais. Desenvolve ritmo e harmonia no plano individual e coletivo.


Dança Flamenca

Surgiu na Espanha no final do século XVIII e reúne elementos das muitas culturas que durante séculos atravessaram a Andaluzia, região sul da Espanha, principalmente a dos ciganos. É uma dança popular, tecnicamente elaborada e com grande expressão emocional. No início, o estilo flamenco era cantado e dançado espontaneamente, obedecendo apenas ao sentimento que se queria expressar - paixão, morte, sofrimento. Com o tempo e a influência de outras culturas, foi se transformando e adquirindo características técnicas. A aprendizagem inclui o sincronismo de movimentos dos pés, braços e mãos, exercícios rítmicos, improvisação e coreografia, geralmente acompanhada de música ao vivo, palmas e castanholas. Os movimentos exigem, e desenvolvem, destreza, coordenação, ritmo e concentração. O vestuário é um complemento fundamental.


Dança do Ventre

Esta dança sensual surgiu há 5 mil anos e era praticada por antigas civilizações, como a babilônica e a egípcia, durante os ritos sagrados de fertilização. Para receber a força da Grande Mãe (a Terra), as mulheres dançavam, movimentando e ondulando o ventre num ritmo marcado e forte. Mas apenas as sacerdotisas podiam praticá-la e, mesmo assim, dentro dos templos. Depois, passou a ser apresentada em público e foi levada ao mundo todo, sofrendo diversas transformações. É considerada uma dança feminina. Seus movimentos ondulatórios e pulsantes enfatizam a região pélvica e abdominal. A movimentação dos braços geralmente é leve e contínua, simbolizando animais e elementos da natureza, com ênfase na delicadeza das mãos e dedos. Utiliza vestimenta característica e seu ritmo é bem marcado, rico e sincopado.Além de alongamento, flexibilidade e postura, favorece o autoconhecimento e a auto-estima, estimulando a sensualidade e a descoberta do prazer da feminilidade, através da valorização do corpo, da saúde e da espiritualidade.


Dança Afro-Brasileira

As danças africanas foram introduzidas no Brasil-colônia pelos escravos, que trouxeram com eles sua música, sua dança, seus instrumentos e um universo cultural riquíssimo. Suas principais características são a sensualidade e o ritmo rico e sincopado, marcado no chão com os pés. Apresenta postura corporal inclinada, ondulações da coluna, movimentos soltos e independentes da cabeça, ombros, braços e, principalmente, do quadril. O ritmo e a movimentação são fortes e vibrantes.Aliando movimento e canto, sua prática desenvolve a expressão corporal, ritmo e coordenação motora, amplia as possibilidades de criação e improviso, além de aliviar tensões, proporcionar liberação de energia e o contato com os diversos aspectos da cultura afro-brasileira.


Dança de Salão

Nos séculos XV e XVI, a dança tinha um sentido social e era exclusiva das festas da nobreza. Depois, foi se transformando e tornando-se acessível às camadas menos privilegiadas da sociedade, dando origem ao que hoje chamamos de dança de salão.Sua principal característica é ser dançada por casais, com o cavalheiro conduzindo a dama ao som dos mais diversos ritmos (bolero, mambo, rumba, chá-chá-chá, forró, pagode, samba, rock, salsa, merengue, tango, valsa, entre outros).Possibilita maior integração social, pois diminui a inibição e facilita os relacionamentos. Além dos benefícios físicos de um trabalho corporal, desenvolve a coordenação, o ritmo, a expressividade e a musicalidade, e é muito procurada como lazer e entretenimento.




Dança de Rua


O break, uma das vertentes da street dance e componente da cultura hip hop, explodiu nos EUA em 1981 e se expandiu mundialmente. No Brasil, os dançarinos incorporaram novos elementos à dança. Sua linguagem tem grande identificação com o jovem urbano. Com sua batida forte e movimentos enérgicos, desenvolve a coordenação, ritmo, força, agilidade e criatividade, além de ser uma forma marcante de expressão e manifestação social, pertencentes ao movimento hip hop, com potencial de aglutinação e transformação.



Danças Brasileiras





Expressão Corporal

Embora presente em todas as atividades físico-esportivas, a expressão corporal pode ser praticada como uma modalidade específica. Todo ser vivo se manifesta no movimento e através dele expressa seus desejos, seus sentimentos e suas emoções.Este trabalho corporal procura despertar e estimular a expressão de cada indivíduo através de movimentos, posturas e técnicas corporais diversas.