quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Seminário Internacional de Ações Culturais Afro Samba


Seminário Internacional de Ações Culturais Afro Samba, Samba da Vela, AfroReggae, Ilê Aiyê, Z´África Brasil e Lirinha são as atrações musicais da terceira edição de AntídotoOs shows colocam pela primeira vez estes grupos no mesmo palco, de 9 a 12 de outubro, e integram a programação do Antídoto – Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, a música dos grupos Afro Samba, Samba da Vela, AfroReggae, Ilê Aiyê, Z´África Brasil e a voz de Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado, se associam à terceira edição de Antídoto – Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. O palco do Itaú Cultural foi tomado por shows das bandas e artistas, que são representativos e de extrema importância para as suas comunidades de origem. O Antídoto, realizado em parceria entre o Itaú Cultural e o Grupo Cultural AfroReggae, aconteceu de 2 a 23 de outubro na sede do instituto, e, além de música, cinema, teatro, debates, lançamento de livros e gastronomia. Reafirma, assim, a missão de fomentar e ampliar a reflexão a respeito de ações culturas empreendidas em zonas de conflitos sociais, étnicos, religiosos, entre outros. Afro Samba e Samba da Vela abrem a programação musical no dia 9, às 19h30, e repetem o encontro no mesmo horário do dia seguinte. O primeiro grupo surgiu em 1997 a partir de projetos desenvolvidos pelo Grupo Cultural AfroReggae, em Vigário Geral, com jovens moradores da favela utilizando a linguagem do samba para se expressar. Formado por João Grilo (voz e violão), Lecão (voz e pandeiro), Raquel Pretinha (voz e percussão), Luiz Henrique (voz e tantã), Ana Paula(voz), Maurício Machado (voz e cavaquinho), Cajirina (surdo), Tom (baixo), Jonatan Moraes (percussão) e Paulo Ruan (percussão), o grupo tem como padrinhos os sambistas Arlindo Cruz e Dorina. Os cariocas se juntarão pela primeira vez aos jovens músicos do Samba da Vela, criado em 2000. A rapaziada vai mostrar ao público a roda que toda segunda-feira toma conta da Casa de Cultura de Santo Amaro, no bairro de mesmo nome em São Paulo, que começa quando um dos integrantes acende uma vela e termina ao apagar da chama. Entre um ato e outro, os compositores Paquera, Chapinha, Magno Souza e Maurílio de Oliveira entoam suas criações e clássicos do samba. O AfroReggae, dividiu o palco, nos dias 11 e 12 (sábado e domingo), com os baianos do Ilê Aiyê, os rappers paulistanos do Z´África Brasil e o vocalista pernambucano Lirinha, do grupo Cordel do Fogo Encantado. O encontro inédito de bandas de diferentes estilos musicais será marcado pela improvisação. Apadrinhada por Caetano Veloso e Regina Casé, a banda anfitriã nasceu na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, como uma das ações do Grupo Cultural AfroReggae, criado em 1993 para trabalhar com as comunidades moradoras em favelas por meio de atividades culturais, esportivas e artísticas. No currículo registra diversas turnês pela Europa e dois CDs: Nova Cara e Nenhum Motivo Explica a Guerra. Ilê Aiyê vai derramar por todo o espaço da sala de espetáculos do Itaú Cultural a experiência acumulada desde 1974, quando se tornou o primeiro bloco afro da Bahia. O seu ritmo, graça e música transformaram o carnaval baiano, que ganhou força com o som ancestral, inspirado na tradição africana. O grupo, cuja sede fica no bairro de Curuzu-Liberdade, já gravou quatro CDs, como Canto Negro (1998), e participou de discos de Bjork, Daniela Mercury, Arto Lyndsay e Martinho da Vila. Eles darão passagem ao hip hop brasileiro, com a subida ao mesmo palco dos rappers do Z´África Brasil, que surgiram em 1995, e se tornaram um dos mais importantes grupos no gênero em território brasileiro. Em 2003, lançaram o seu primeiro CD, Antigamente Quilombos, Hoje Periferia, com participações do grupo francês Assassin e do DJ Thaide. Em sua trajetória registram a participação em discos de outros artistas, como Zeca Baleiro, Rappin´ Hood e Natiruts, além de diversas apresentações na Europa. No mesmo fim de semana, Lirinha junta a sua voz, música, carisma e poesia à de todos eles. O cantor, compositor, percussionista, poeta e escritor pernambucano, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado, desde a infância freqüenta rodas de recitais de cantadores e violeiros. A sua produção transita por várias áreas. Também atuou como ator em filmes como Árido Movie, dirigido por Lírio Ferreira, e participa das trilhas sonoras de Deus É Brasileiro, de Cacá Diegues, e Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes. Antídoto, terceira ediçãoCompletando três anos, de 2 a 23 de outubro, o Antídoto – Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, traz, além de filmes, shows e teatro – com a estréia em São Paulo da montagem Machado a 3x4, peça do grupo carioca Nós do Morro. Como todos os anos, o evento é coroado por uma série de debates que procuram fomentar e ampliar a reflexão a respeito de ações culturais empreendidas em zonas de conflitos sociais, étnicos, religiosos.


Elementos para

domingo, 12 de outubro de 2008




A força da expressão cênica afro-brasileira O I Fórum Nacional de Performance Negra, organizado pela Companhia dos Comuns e Bando de Teatro Olodum, foi realizado com êxito, no Teatro Vila Velha, em Salvador, de 30 de maio a 01 de junho.Grupos e Companhias negras de todo o Brasil buscaram construir uma resposta coletiva aos problemas que enfrentam para exercerem seu ofício e fortalecerem a expressão cênica afro-brasileira.O evento foi coordenado por Chica Carelli, Hilton Cobra, Luíza Bairros e Márcio Meirelles. Nas mesas, de intenso debate, estiveram Valdina Pinto, Abdias Nascimento, Inaicyra Falcão dos Santos, Haroldo Costa, Leda Martins, Cuti (Luiz Silva) e Edson Cardoso.Ao final dos trabalhos, foi lida a Carta de Salvador, elaborada para ser um documento a respeito das resoluções, planejamentos e caminhos a serem trilhados depois da primeira edição do Fórum Nacional de Performance Negra. Esta carta será entregue ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, por uma comissão do fórum, numa proposta encaminhada pelo presidente da Palmares, Ubiratan Castro. A ida da comissão a Brasília ainda não foi agendada.O I Fórum Nacional de Performance Negra foi realizado com o patrocínio da Funarte e Fundação Palmares, contando com o apoio da Secretaria Municipal de Reparação (Salvador).CARTA DE SALVADORO I Fórum Nacional de Performance Negra nasce da compreensão de que é imperativo um teatro e uma dança que expressem o poder e o vigor da criação artística da população negra deste país. Sua realização é um marco no percurso histórico de movimentos significativos das artes performáticas negras brasileiras.A participação efetiva de 47 grupos e companhias, de pesquisadores e artistas, de todas as regiões do Brasil, evidencia uma realidade ampla e fecunda que se nutre do processo histórico, estético e cultural. Processo este que, hoje, expande sua presença na esfera pública em decorrência das diversas iniciativas dos movimentos de combate ao racismo e à discriminação racial, e de contínua reiteração, em vários âmb[Photo]itos, da importância das culturas negras. O I Fórum apontou a diversidade de propostas estéticas que fomentam as atividades e as formas de inserção dos grupos e companhias nas comunidades. Ao mesmo tempo, mostrou que estes compartilham uma série de realizações e valores, comprometidos com uma prática artístico-cultural que, nos seus modos de criação e de reflexão, reafirma a dimensão dinâmica das matrizes afro-brasileiras. Todos têm em comum a disposição e o empenho de viabilizar manifestações artísticas autônomas. Ou seja, livres das imposições culturais e financeiras que privilegiam ideais e valores eurocêntricos, os quais tentam negar e restringir o pleno direito de expressão da identidade negra e de nossa cidadania. Por isso, também compartilham as mesmas preocupações em relação a: - meios e mecanismos de manutenção;- formulação de linguagens estéticas que confrontem os vários desafios da contemporaneidade;- formação de intérpretes, técnicos e diretores;- participação nas instâncias de deliberação de políticas públicas culturais;- criação de repertório. O I Fórum concluiu que, para o enfrentamento desses desafios e metas, há a necessidade urgente de estratégias, ações e procedimentos que fortaleçam as atividades dos grupos e companhias, dentre eles:- a criação de formas permanentes de comunicação e intercâmbio, nacional e internacional, que possibilitem a ampla disseminação de informação e conhecimento;- a articulação política no enfrentamento conjunto de questões afins; - a criação de redes de interlocução e de um banco de dados que facilite o trânsito de informações de mútuo interesse, inclusive as relativas aos meios de acesso ao patrocínio e ao fomento públicos e da iniciativa privada. A concretização dessas metas requer nossa atuação protagonista no debate sobre o papel de instituições como a FUNARTE, a Secretaria de Políticas Culturais, a Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, o IPHAN e seus correlatos estaduais e municipais. É preciso que esses órgãos, na formulação de políticas, de normas para o fomento e a alocação de recursos, efetivamente, e de forma transparente, contemplem a diversidade das manifestações artísticas existentes no país, entre elas a performance negra. Isso implica na necessidade de também redefinir as funções e atribuições da Fundação Cultural Palmares, explicitando-se seus objetivos específicos e criando os meios para a sua realização. A natureza das questões a serem enfrentadas e o alcance da atuação mobilizadora da performance levam-nos a propor, como ações imediatas:- a continuidade do Fórum Nacional de Performance Negra, como um poderoso instrumento de fortalecimento dos grupos, companhias e outros agentes;- uma ativa participação da comunidade 
artística negra no processo da Marcha Zumbi + 10, visando denunciar as práticas de extermínio que atingem o povo negro; disseminar nas comunidades as motivações sociais, políticas e econômicas que tornam a Marcha um requisito para a afirmação da singularidade de nossa experiência histórica; e, por fim, comprometer o Estado brasileiro com políticas públicas que assegurem o enfrentamento e resolução dessas questões. Como no ditado africano, sabemos que o futuro está à nossa frente, mas também pode estar às nossas costas, se dermos a volta. É com essa visão que temos construído a história e é assim que ora damos mais um passo na afirmação de práticas performáticas que incorporam as matrizes afro-brasileiras, fundamentais na formação do Brasil. Salvador.



Em 20 de novembro de 2005, cerca de cinco mil pessoas vestidas de branco caminharam pelas ruas de Salvador em direção ao Dique do Tororó. À luz do sol e da Consciência Negra, o povo-de-santo marchou contra a intolerância religiosa da Federação até o Dique, resultando em um ato de resistência e de organização em torno de objetivos comuns: a liberdade de culto e o respeito às práticas religiosas de matriz africana. A I Caminhada do Povo-de-Santo, como ficou conhecida, é organizada pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), que agrega instituições baianas nos campos artístico, cultural, educativo e de entretenimento, além de Terreiros de Candomblé. Este ano, o ato já está sendo organizado e construído pelo Coletivo, que dessa vez pretende ampliar a ação, levando às ruas também representações religiosas do interior do estado. Em entrevista ao Ìrohìn, coordenadores do CEN falam sobre a mobilização da II Caminhada e da expectativa em torno do ato, marcado para o próximo 19 de novembro. Confira

Elementos para uma História da Capoeira em Sorocaba - Período 1850–1930

André Luiz Lace LopesCarlos Carvalho CavalheiroSorocaba, Ago/2008.




“Por que”, certamente o leitor perguntará, “elementos para uma história da capoeira”?É que até a presente data, surpreendentemente, muito pouco se publicou sobre a História da Capoeiragem em solo paulista e quase nada, especificamente, sobre a História da Capoeiragem em Sorocaba.Inexiste em Sorocaba, infelizmente, uma biblioteca especializada, um Arquivo Público, um Centro de Memória que facilite esse trabalho de pesquisa. Quadro que se agrava pelo fato do Arquivo Forense está atualmente sob responsabilidade de uma empresa particular (medida gerencial talvez prática, mas condenável por alguns especialistas em Direito Administrativo) o que praticamente impossibilita a consulta aos processos, especialmente os “enterrados” no Arquivo Morto. O leitor, em seguida, certamente também cobrará justificativa para a limitação do trabalho ao período 1850-1930.É que para esse período foi razoavelmente fácil encontrar informações jornalísticas, literárias e governamentais. Também, através de entrevistas, foi possível reunir informações interessantes. O registro mais antigo que encontramos, em documentos referentes à Sorocaba, data de 1850. Um registro da palavra Capoeira com sentido indiscutível de luta e expressão corporal. Daí nossa decisão de tomar esse ano como marco inicial, não significando com isso, que, através de estudos mais aprofundados seja possível recuar essa data significativamente.O marco final - 1930, marca a década em que as manifestações espontâneas registradas em vários pontos do Brasil começam a ensejar formas mais institucionalizadas, como o surgimento de “academias” de capoeira. Difícil precisar os locais pioneiros, tanto das manifestações espontâneas como das tentativas iniciais de institucionalização da Capoeira. Até porque, há tendência natural, até um pouco ingênua, de cada Parte entender-se como Todo, ou seja, cada região concentrar estudos dentro de sua própria área, esquecendo de cotejá-los com os produzidos pelas demais regiões. Evento dado como pioneiro em um determinado estado, de repente, descobre-se que houve outro (ou outros) ainda mais importante, décadas atrás, em alguma outra região...O estudo das cidades, entretanto, em todo mundo, ao longo do tempo, revela que toda cidade-central, cidade-capital exerce grande fascínio sobre as demais, que procuram copiar seus costumes e modismos. Vai daí que, sem sombra de dúvida, os registros mais antigos e significativos sobre a Saga da Capoeira e do Capoeira, nós vamos encontrar nos jornais e revista e relatórios governamentais do Rio de Janeiro. Realmente, garimpagem que começam a fazer, com seriedade, nas maiores bibliotecas brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo), na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Torre de Tombo, nas principais bibliotecas africanas vai relevando centenas, milhares de registros incontestáveis, todos apontado para a Capoeiragem. Boa parte desses registros não deixa dúvida sobre a fundamental importância do Rio de Janeiro no desenvolvimento da Capoeira no Brasil. De cabeça, qualquer pesquisador junior nessa fascinante área, será capaz de citar um expressivo número de romances e crônicas consagrados, todos produzidos no Rio de Janeiro: “Memórias de um Sargento de Milícias” (Manuel Antônio de Almeida, 1854); “Os Capoeiras” (Plácido de Abreu Morais, 1886); “O Cortiço” (Aluisio Azevedo, 1890); “O Nosso Jogo” (Bazar - Coelho Netto, 1922); o misterioso livreto de ODC (1908); o didático livro Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodisada e Regrada (Annibal Burlemaqui, 1928)...E quanto ao Mestre Cyriaco que, em 1909 já ensinava Capoeira aos acadêmicos de medicina, no Rio de Janeiro? Com golpes e movimentos devidamente divulgados em jornais de circulação nacional? E quanto à vitória histórica desse mesmo moleque Cyriaco. Vencendo o campeão japonês de jiu-jítsu, Sado Myaco, contratado em 1909, pela Marinha de Guerra Brasileira, para ensinar arte de defesa japonesa aos marinheiros?E as famosas e poderosas Maltas de Capoeira do Rio Antigo, a Turma da Lyra, os Cafajestes, os Escovados, as primeiras academias (década dos 20), entre elas a de Jayme Ferreira e, logo adiante, do extraordinário Agenor Sampaio (Sinhozinho)?Vamos jogar tudo isso no lixo, não serviu para nada, não influenciou em nada as capoeiras eventualmente praticadas nesse ou naquele estado do “interior”? Tais registros, literários, jornalísticos, fotográficos enchiam os olhos dos capoeiras de todo o Brasil. Não sem razão, portanto, na Bahia, Mestre Bimba declarou aos jornais: “a capoeira deve ser regulamentada nos moldes preconizados por Zuma Burlamaqui”. Também foi Bimba que reconheu que a Capoeira, na sua forma de Luta teria que esquecer o berimbau. Exatamente como faziam os lutadores de capoeira no Rio de janeiro (Sinhozinho, entre outros).Em 1920 um jornal de Sorocaba anuncia, por exemplo, o intento de Raul Pederneiras e Mário Aleixo de fundarem uma academia de ensino da capoeira na cidade do Rio de JaneiroO casamento da capoeira com o berimbau, porém, prevaleceu. Tanto assim que o jogo-arte passou a ser incluído nos espetáculos artísticos. O antigo Cassino da Urca, até que apareça exemplo anterior, em seus internacionais espetáculos produzidos para turistas, mostrando as atrações de cada estado brasileiro, não mostrava a “feia” luta e capoeira dos cariocas, mostrava, sim, a espetaculosa dança de capoeira baiana, acompanhada do não menos espetacular dança-luta de maculelê, a poética e melodiosa pesca do xareu e o sensual samba de roda. Os teatros da Praça Tiradentes copiaram esse filão, sendo que hoje em dia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia e em vários outros estados e nos palcos internacionais é comum a apresentação de shows para turista incluindo a capoeira-dança junto com o maculelê e com a dramatização da pesca do xaréu. E, também, é claro, com a Dança dos Orixás.E foi, sobretudo, com esse desenho, nesse pacote turístico,, que a capoeira tomou conta do mundo, uma dramatização de luta. Daí porque, viajando pelo mundo, verifica-se que quase todo mestre de capoeira tem também seu elenco artístico de maculelê, dança de orixás etc: Camisa Roxa e Camisinha (hoje Camisa), Acordeon, para citar apenas três bons exemplos dentro do estilo chamado Regional.Outra variável, para se entender a marcha da Capoeiragem no Brasil é o comportamento dos governos para com ela. No início, quase sempre condenando, mas, pouco a pouco, tolerando-a e, muitas vezes, até manipulando-a. Especialmente os governos fortes, as ditaduras, procuram identificar e cooptar as lideranças populares, ainda mais se for um bom mestre de capoeira.Há indícios e já existem algumas boas pesquisas apontando inúmeros casos de manipulação da capoeira e de alguns mestres de capoeira por esse ou aquele governo, por esse ou aquele partido político. Há quem defenda até que a Capoeira, por força dessa manipulação, tenha sido domesticada, embranquecida e aburguesada, abandonando sua feição inicial, deixando de ser um "perigo subversivo à ordem constituída”.Entretanto, como alguns professoram com muita propriedade, a capoeira tem mecanismo próprio de preservação, assim como o “samba, que agoniza, mas não morre” (crédito para Nelson Sargento), acaba conservando sua essência.Foi assim que, lá pelas tantas, a Confederação Brasileira de Pugilismo descobriu que a Capoeira era uma de suas filiadas, e começou timidamente a promovê-la.Não a capoeira-luta, sem berimbau, “feia”, mas a capoeira-dançante. Paralelamente ao esforço da CBP, a Campanha Nacional do Folclore promovia também bons espetáculos com a capoeira musical. Vários grupos, herdeiros culturais das velhas maltas foram se fortalecendo, um deles, o Grupo Senzala, inicialmente com a proposta de divulgar dois estilos de capoeira de Salvador – a Angola e a Regional – mas que acabou, por motivo de força maior, concentrando esforços na divulgação da Regional. Embora muito abandonado, ninguém pode negar, o Rio ainda faz ressoar, e o Grupo Senzala fez ressoar a Regional até mesmo dentro do seu berço, Salvador. Como conseqüência foi surgindo artigos, crônicas e livros sobre esse tipo de capoeira. Sem a mesma preocupação e força divulgatória os demais estilos de capoeira, todos com riquezas próprias foram perdendo terreno, alguns até desaparecendo, o que é lamentável, pois empobrece a própria Capoeira. O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos componentes do atual pacote nacional e internacional, sempre incluindo o maculelê e o samba de roda. Por que não incluir o Jongo, o Tambor de Mina, o mestre-sala (que no início era sempre um bom capoeira) e a porta-bandeira e assim por diante? Ou seja, que cada região, que cada estado passe a apresentar sua capoeira (seja ela qual for) incluindo outros componentes típicos da cultura popular da região. Também as ladainhas, chulas, preceitos e improvisos outros, com todo respeito e admiração ao acervo histórico já consagrado, devem contemplar temas locais, nacionais e até mundial. Afinal, o cantador de capoeira é um cronista, é um jornalista dessa nossa Aldeia Global.É com essas lentes que apresento esse modesto estudo sobre a Capoeira-gem e manifestações afins na Cidade de Sorocaba. Sou contra qualquer hegemonia, por definição, essas, podem até empolgar de início, mas, em longo prazo, empobrecem e jogam na mesmice seu falso patrimônio eterno.Alguém, ainda, poderá argumentar: “Em termos práticos, o que adiantará resgatar, a história da capoeira em Sorocaba? Já não está definido que a Capoeira que está mandando no mundo é a Regional (ou a Angola, que cada um escolha de acordo com a própria preferência)”?E mais, se não há filme sobre a capoeira da região, ensinando o que de bom se fazia na Sorocaba de antanho, para que servirá escrever sobre isso?E quanto ao paulista-carioca Senhor Agenor Sampaio, o famoso Sinhozinho, adiantará escrever sobre ele? Alguém o terá visto jogar?Ora, e alguém viu Besouro Cordão de Ouro jogar?Mas todos o veneram e acham importante falar dele, entende-lo como referência (?). Certo?Há um filme que permita analisar minuciosamente as vitórias de Bimba sobre outros capoeiras e mesmo lutadores de outras lutas?Não estamos negando os inquestionáveis méritos do extraordinário baiano, mas a capoeira regional que se pratica hoje, em todas as suas vertentes, é exatamente a que Bimba praticava? É igualmente eficaz, superior a todas demais e também as outras modalidades de lutas? Senão confrontos de verdade, pelo menos “laboratórios” deveriam ser realizados nesse sentido. Ganhariam os capoeiras e a Capoeira.Assim como será possível, sim, enriquecer a História (Fundamento, Teoria e Prática) da Capoeiragem garimpando mais profundamente as extraordinárias contribuições de Sinhozinho. O mesmo raciocínio é claro, aplicando-se a vários outros centros e estilos de capoeira, incluindo-se aí, modestamente, a Cidade de Sorocaba...Essa é a intenção do presente trabalho, sem negar que esforço de maior monta, entretanto, deverá mergulhar mais fundo nesse extraordinário filão capoeiristico que enriquecerá expressivamente a História Geral da Capoeiragem Afro-Brasileira. Os dados que aqui serão expostos, portanto, têm por finalidade auxiliar na construção da história da capoeira em Sorocaba, sem a pretensão de apresentar uma versão definitiva, acabada dos fatos. O interesse aqui, portanto, é buscar as informações sobre essa capoeira informal, aprendida com a observação da atuação do outro. Feitas essas considerações, passamos a discorrer sobre alguns detalhes dessa prática. A menção mais antiga que se tem do termo capoeira na cidade de Sorocaba, até o presente momento, é a do Código de Posturas da Câmara Municipal, promulgado em datado de 1850, que, no seu Art. 151 estabelece:
“Toda a pessoa que nas praças, ruas, casas públicas, ou em qualquer outro lugar tão bem público praticar ou exercer o jogo denominado de Capoeiras ou qualquer outro gênero de luta, sendo livre será preso por dois dias, e pagará dois mil reis de multa, e sendo cativa será preso, e entregue a se o senhor para o fazer castigar naquela com vinte cinco açoites e quando não faça sofrerá o escravo a mesma pena de dois dias de prisão e dois mil réis de multa”
Dispositivo que foi mantido em duas novas edições do mencionando código: em 1865 (Art. 27; em 1871 (Art. 73) até a edição 1882 quando o termo “capoeiras é excluído do Código.Ao adentrar o século XX as notícias sobre a capoeira em Sorocaba aparecem com mais clareza, informando, com alguns detalhes, sobre a existência do jogo e da prática dessa luta. Uma das publicações nos jornais sorocabanos alerta para a existência de um barbeiro no início do século, e que seria um “capoeira desconjuntado’”. Era conhecido como Benedicto Gostoso. [1] Em 1914 é veiculada na imprensa sorocabana uma nota ligando a capoeira com a promoção de desordens ou como prática comum de desordeiros, na qual Olympio Monteiro teria levado vantagem numa contenda com Antônio Francisco da Silva (vulgo Grão de Bico), o qual, mesmo armado de enorme faca não conseguiu atingir a Olympio porque este se esquivara num “zig-zag de verdadeiro capoeira”.[2] Já na década de 1920 outras notícias da imprensa escrita autorizam a afirmação da existência de capoeiras em Sorocaba. Uma delas trata de um sutil comentário do jornalista acerca de fato policial de ordem doméstica em que a esposa se queixa de ser esmurrada pelo seu marido e que para se defender, passa-lhe rasteiras derrubando-o ao chão. O redator da nota acrescenta que “se é assim, não há de que zangar-se a Jovita, que se diverte em capoeiragem com o inexperto marido...”. [3] Mesmo que a própria nota não afirme a prática da capoeira, antes condiciona o comentário à informação prestada pela queixosa; o texto serve para demonstrar que, ao menos no senso comum, em Sorocaba existia uma vaga noção do que seria a capoeira: uma luta (usada como defesa, talvez), em que se utiliza a habilidade de golpes de perna, especialmente a rasteira. O redator da nota jamais teria citado a capoeira se esta não fosse conhecida do público sorocabano. Outra notícia, mais esclarecedora, fornece alguns outros dados, a despeito de ter redação parcimoniosa. Trata-se de um acidente em que dois operários se feriram com faca por estarem brincando de capoeira no pátio da Estação Sorocabana. [4] Aparentemente a capoeira em Sorocaba continuou sendo uma prática informal, uma forma de diversão, especialmente entre os negros, que a jogavam nos campos de futebol, nos largos, nas ruas. Há referências sobre essa prática no antigo Largo de Santo Antônio e também no Pito Aceso. O eminente escritor sorocabano Vicente Caputti Sobrinho, em carta enviada ao autor deste artigo, fornece algumas informações interessantes sobre o assunto. Diz Caputti Sobrinho que Em 1925, nos meus saudosos 10 anos, estive como menino curioso (pois morava na Rua Cesário Mota – Santa Gertrudes, próximo à Rua 13 de maio) presente aos festejos do dia da Libertação dos Escravos, onde nas célebres congadas, havia também uma dança com os pés, mãos e corpo. Era uma dança de figurações (golpes) que chamavam rasteiras, rabo de arraia e pulo do macaco (além de outros). No Largo do Jardim dos Bichos (hoje Praça Frei Baraúna) por haver muita terra, ao lado de uma capelinha, os negros se divertiam com essa dança (seria a capoeira?). [5] Aparecida do Amaral Pires, conhecida como Vó Cida da Vila Amélia, relata ainda que por volta de 1928 presenciou a exibição de capoeiristas no antigo Largo de Santo Antônio (ao lado do Mercado Municipal) e argumenta que o fato da Igreja de Santo Antônio abrigar também a imagem de São Benedito era responsável pela aglomeração de negros naquele local os quais se apropriavam do espaço para executar suas danças e brincadeiras como o batuque e a capoeira. Vó Cida ainda se recorda do nome de alguns desses capoeiristas: João Daía, Tio Agostinho, Benedito Torquato... [6] O professor e historiador Milton Marinho Martins também se manifestou dizendo que: Tenho somente uma vaga idéia que numa festa que assisti no Largo Santo Antônio (Mercado Municipal), na década de 30, uma exibição de capoeira teria acontecido. [7] Ainda, há a informação prestada por Cid Odin Arruda, no dia 30 de julho de 2005, na qual afirma que presenciou, por volta do ano de 1933, alguns negros que brincavam a capoeira no largo santo Antônio, próximo à Ponte e nas proximidades da Igreja de João de Camargo. Há ainda o testemunho da senhora Thereza Henriqueta Marciano, nascida em Tietê e residente em Sorocaba desde 1934, a qual argumenta que seu pai, João André era praticante da capoeira. Da época em que viveu em Sorocaba, ou seja, a partir de 1934, João André sempre brincou de capoeira e de maculelê (dança de paus, como disse dona Thereza)[8] . João André era negro e nasceu em 1889. Além da capoeira e do maculelê, conhecia o tambú, ou samba caipira. Faleceu em Sorocaba em 1965, aos 74 anos de idade. Algo interessante: alguns relatos de negros capoeiras que teriam vindo da região de Tietê associam a luta com a execução do berimbau, como é o caso também de Josias Alves, conhecido por Chiu, que veio para Sorocaba em 1958, procedente de Maristela, distrito, então, de Laranjal Paulista. Numa leitura mais acurada, percebe-se a sutileza de algumas práticas preconceituosas e de exclusão social que sofriam os negros (e ainda, os marginalizados) na sociedade sorocabana do século XIX e início do século XX. Observa-se, por exemplo, que os textos das posturas municipais proibiam a prática da capoeira em locais públicos. [9] Daí se depreende que a capoeira não era sistematicamente perseguida, desde que não praticada aos olhos de todos, às escâncaras. Isso induz ao negro – e também aos de menor poder aquisitivo – a procurarem os arrabaldes e lugares distantes para poder expressar suas danças, brincadeiras e festas. Já no século XX, a presença da capoeira é assegurada nos locais de reunião dos negros (como é o caso do Largo de Santo Antônio), nos subúrbios e tolerada quando miscigenada num outro folguedo como é o caso da Congada. E mesmo assim, é de bom alvitre lembrar que mesmo a Congada sofreu perseguição, tendo Florestan Fernandes testemunhado que na década de 1940 esse cortejo não teria saído às ruas por proibição policial. [10] [1] Cruzeiro do Sul, 18 de maio de 1927 – nº 6151 – 2ª página.[2] Diário de Sorocaba, 21 jan 1914, nº 10, p. 01.[3] Cruzeiro do Sul, 03 abr 1927, nº 6116, p. 01.[4] Cruzeiro do Sul, 08 fev 1927, nº 6072, p. 04.[5] Carta datada de 24 maio 2005.[6] Entrevista concedida ao autor em 25 mar 2005.[7] Carta ao autor datada de 28 maio 2005.[8] Entrevista de dona Thereza Henriqueta Marciano cedida a Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro e a Carlos Carvalho Cavalheiro em 14.12.2003.[9] Artigo 151 do Código de Posturas da Câmara Municipal de Sorocaba – ano de 1850: “Toda a pessoa que nas praças, ruas, casas públicas, ou em qualquer outro lugar tão bem público practicar ou exercer o jogo denominado de Capoeiras ou qualquer outro gênero de luta, sendo livre será preso por dous dias, e pagará dous mil reis de multa, e sendo captiva será preso, e entregue a seo senhor para o fazer castigar naquela com vinte cinco açoites e quando não faça sofrerá o escravo a mesma pena de dous dias de prisão e dous mil réis de multa”.[10]

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. SP: Difusão Européia do Livro, 1972, p. 243.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Os Tambores de um quilombo

Em meio a prédios em bairro nobre de Belo Horizonte, comunidade luta para que seus costumes sobrevivamBianca Magela Melo, jornalista de Belo Horizonte - MGNove anos. Foi o tempo que a comunidade quilombola dos Luizes, na área urbana de Belo Horizonte (MG) levou para ter coragem de tocar seus tambores de novo. Os ensaios do grupo de cultura afro eram comuns desde que a líder comunitária Maria Luzia Sidônio, hoje com 65 anos, era mocinha. No entanto, o constante estranhamento dos vizinhos dos prédios de classe média, as reclamações e os olhares de condenação silenciaram por um tempo o bonito batuque dos Luizes.No último dia 29 de julho, quando foi comemorada a festa anual de Santana, um grupo de Luizes ousou brincar de tambor ao final da apresentação da guarda de congado de Bom Despacho (interior de Minas). "Fomos reconhecidos pela Fundação Palmares e os tambores são parte de nossa cultura", explica Maria Luzia, referindo-se ao título de comunidade Quilombola, concedido em 25 de novembro de 2004.A titulação mexeu com a auto-estima dos Luizes. Além dos instrumentos de percussão, eles ganharam da Fundação Palmares máquinas para confecção de roupas. "Pode ser uma alternativa de renda para os jovens", diz. Antes já foi bem diferente, conta a líder: "Todo mundo ria quando eu falava que era quilombola."O grupo que representa os interesses da comunidade agora tem nome: Associação de Quilombos Luizes N´tamimawsi, que significa um só coração na língua Eve Von, da República de Benin, conforme ensina a presidente Maria Luzia. De acordo com ela, os habitantes de Benin têm servido ao Brasil como fonte de danças e cantos de religiões de matriz africana.O núcleo do quilombo está localizado em uma área de quatro mil metros quadrados no bairro Grajaú, zona nobre da capital mineira. Cerca de 120 pessoas vivem no local de casas simples, chão de terra e grandes árvores. De lá, a vista dos Luizes alcança compridos prédios por todos os lados. "Estão todos na área que um dia foi do quilombo", observa Maria Luzia.ÁREA INICIAL EM BELO HORIZONTE ERA DE 18 MIL METROS QUADRADOSSegundo consta nos registros dos Luizes, o terreno inicial ocupado pelos escravos fugidos do domínio do senhor de escravos Antônio Luiz Simões, era superior a 18 mil metros quadrados nas proximidades do bairro Grajaú. Considerando todo o espaço encampado na época pelos Luizes, a área, conta Maria Luzia, seria de 624 mil metros quadrados, incluindo uma grande extensão que liga Belo Horizonte ao município vizinho de Nova Lima.Os Luizes já perderam a conta do número de advogados contratados sem que medidas fossem tomadas. "Vimos nosso patrimônio ser ocupado bem próximo às nossas casas." Há outros cerca de 200 descendentes da mesma família espalhados em outras regiões da cidade. Na Secretaria de Regulação Urbana da Prefeitura de Belo Horizonte, a informação é a de que todas as construtoras que deram entrada para obter licença de realização de obras nas imediações, tinham os documentos que comprovavam posse do imóvel.Maria Luzia revela que a escritura em poder dos Luizes foi ignorada. O documento foi emitido pelo cartório de imóveis da cidade de Sabará em 1895, dois anos antes de Belo Horizonte ser reconhecida como município. "Foi esta luta a vida toda. Diziam (os construtores) que o terreno era deles e ficava aquela história de escritura sobre escritura e a gente sempre procurando a prefeitura sem conseguir nada", desabafa.Em 2002, a preparação do terreno para erguer mais um prédio no bairro, levou junto o centro cultural da comunidade. "Até hoje não conseguimos reconstruí-lo e ficamos com a sensação de impotência." Vontade de desistir não faltou, mas eles prosseguiram. Mesmo quando a tia de Maria Luzia morreu assassinada dentro da própria casa. "Achei muito desaforo e passei a fazer o que ela fazia."Seppir — Uma vez identificadas as áreas, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial oferece assistência para as comunidades remanescentes de quilombos. "Auxiliamos com apoio jurídico e acompanhamos qualquer ameaça ou dificuldade", explica a diretora de programas da subsecretaria de políticas para a comunidade, ligada à Seppir, Maria Palmira da Silva. Eles têm cadastrados cerca de três mil comunidades quilombolas no país. "A maioria está totalmente isolada do contato urbano, mas, assim como os Luizes, em Belo Horizonte, há exemplos como o da família Silva, no Rio Grande do Sul."MISSA CONGAAs roupas muito brancas dos congadeiros de Bom Despacho salientam os adornos coloridos e a cor da pele que resplandece com o sol do final do dia. A dona de casa Jorgina Nunes Guimarães, da comunidade dos Luizes, era uma das espectadoras atentas à apresentação. Está feliz com seus dois filhos gêmeos de 13 anos, que estão aprendendo a tocar tambor. "É uma tradição que nunca deveria ter parado. Sem batuque parece que está faltando alguma coisa na vida da gente."A festa dos Luizes tem missa conga com presença de padre e com todo ritual, mas no lugar das músicas tradicionais da igreja católica, entram os cânticos africanos. "Negro sofria. Negro Chorava. Negro Rezava. Lá na Senzala. Ô ô meu senhor ô ô." Tradição trazida pelos escravos africanos e espalhada nas terras do ouro, o Congado é ainda hoje muito presente em praticamente todas as regiões de Minas Gerais. Além das danças e da música, as festas sempre têm muita fartura de comidas características: feijão tropeiro, canjica, arroz doce, pipoca e frutas. "Cada família prepara um prato ou mais e não falta boa comida", explica Luiza Sidônio, irmã da organizadora da festa.

Aumenta distância entre brancos e negros no acesso à educação, segundo análise do IBGE

Aumenta distância entre brancos e negros no acesso à educação, segundo análise do IBGE
Hiato entre brancos e pretos e pardos com superior completo aumenta entre 1997 e 2007
Em 2007, a taxa de freqüência a curso universitário para estudantes entre 18 e 25 anos de idade na população branca (19,4%) era quase o triplo da registrada entre pretos e pardos (6,8%). Quadro que se repetia, com pouca variação, em todas as regiões.
Nesse nível de ensino, em todas as idades entre 18 e 25 anos, os estudantes pretos e pardos não conseguiram alcançar em 2007 a taxa de freqüência que os brancos tinham dez anos antes. Nesse intervalo de tempo, a diferença a favor dos brancos, em vez de diminuir, aumentou, passando, por exemplo, de 9,6 pontos percentuais, aos 21 anos de idade, em 1997, para 15,8 pontos percentuais em 2007.
Essas desigualdades se expressam nas informações referentes a pessoas com ensino superior concluído, que apresentam níveis bastante diferentes entre brancos e pretos e pardos, quadro que também tem se agravado. Em 1997, 9,6% dos brancos e 2,2% dos pretos e pardos tinham nível superior completo no país; em 2007, esses percentuais eram, respectivamente, de 13,4% e 4,0%. Ou seja, o hiato entre os dois grupos, que era de 7,4 pontos percentuais em 1997, passou para 9,4 em 2007.
Analfabetismo funcional cai mais entre pretos e pardos, mas desigualdade se mantém
Também em relação às taxas de analfabetismo, analfabetismo funcional e freqüência escolar, verificam-se diferenças significativas. Em números absolutos, em 2007, dos pouco mais de 14 milhões de analfabetos brasileiros, quase 9 milhões eram pretos e pardos. Em termos relativos, a taxa de analfabetismo da população branca era de 6,1% para as pessoas de 15 anos ou mais de idade, sendo de mais de 14% para pretos e pardos, ou seja, mais que o dobro da dos brancos.
Em relação à taxa de analfabetismo funcional, houve redução mais expressiva para pretos e pardos que para brancos, entre 1997/2007. Mas a desigualdade em favor dos brancos se mantém: em 2007, a taxa de analfabetismo funcional para essa população (16,1%) era mais de dez pontos percentuais menor que a de pretos e pardos (27,5%) – sendo que essa taxa dos pretos e pardos ainda está mais alta do que as dos brancos de dez anos atrás.
Uma outra maneira de enfocar a questão é observar a distribuição por cor ou raça da população que freqüenta escola com idades entre 15 e 24 anos. Na faixa de 15 a 17 anos de idade, cerca de 85,2% dos brancos estavam estudando, sendo que 58,7% destes freqüentavam o nível médio, adequado a esse grupo etário. Já entre os pretos e pardos, 79,8% freqüentavam a escola, mas apenas 39,4% estavam no nível médio. Por outro lado, enquanto o percentual de brancos entre os estudantes de 18 a 24 anos no nível superior era de 57,9%, o de pretos e pardos era de cerca de 25%.
A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais também continua a apresentar uma vantagem de em torno de dois anos para brancos (8,1 anos de estudos) em relação a pretos e pardos (6,3), diferença que vem se mantendo constante.
Com 12 anos ou mais de estudo, rendimento-hora dos brancos é 40% maior que o de pretos e pardos
As conseqüências das desigualdades educacionais se refletem nos rendimentos médios dos pretos e pardos, que se apresentam sempre menores (em torno de 50%) que os dos brancos. Mesmo quando são considerados os rendimentos-hora de acordo com grupos de anos de estudo, em todos eles os brancos são favorecidos, com rendimentos-hora até 40% mais elevados que os de pretos e pardos, no grupo com 12 ou mais anos de estudo.
A distribuição das pessoas por cor ou raça entre os 10% mais pobres e entre o 1% mais rico mostra que os brancos chegavam a pouco mais de 25% dos mais pobres e a mais de 86% entre os mais ricos. Por sua vez, os pretos e pardos são quase 74% entre os mais pobres e só correspondem a pouco mais de 12% dos mais ricos. As variações desses percentuais por grandes regiões, embora reflitam as diferenças de distribuição por cor na população como um todo, mantêm as desigualdades.
Há, também, uma diminuição sistemática do percentual de pretos e pardos à medida que aumentam os décimos de rendimentos, com crescimento constante da participação dos brancos. No primeiro décimo, onde estão os mais pobres, aparecem quase 15% da população preta ou parda e apenas pouco mais de 5% dos brancos, sendo que no último décimo, o do mais ricos, esses valores se invertem, encontrando-se quase 16% dos brancos e apenas pouco mais de 4% dos pretos e pardos.